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Wallysson Silva

O LÚDICO COMO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM: GINCANA DO BRASIL COLONIAL
Wallysson Klebson de Medeiros Silva
Prof. Mt.UFPB

Neste ensaio, tenho como objetivo apresentar um relato de experiência realizado na turma do segundo ano do ensino médio, em uma escola pública do município de Alagoa Grande – Paraíba.  O jogo pedagógico, por meio de uma gincana, foi proposta como última etapa de execução do conteúdo Brasil Colonial, como forma de fixação e facilitação de um melhor aprendizado sobre o tema, em uma abordagem lúdica. Além disso, tenciona colocar o posicionamento do autor com criticidade em correspondência às experiências vividas e seus resultados.
Atualmente,  no ensino da história nas escolas, os estudantes opõem-se a sua absorção pela forma que é ensinada, baseando-se ainda no ensino tradicionalista, onde o professor trás o conteúdo pronto e o aluno se limita a ouvir e repetir os ensinamentos passados, fazendo com que seja cansativo para o aluno e frustrando o professor, por não conseguir prender a atenção de seus discentes. Assim, ao refletirmos sobre a atual realidade da sala de aula – em especial nas escolas públicas, nos esbarramos com um grande número de estudantes com problemas de aprendizagem e sem motivação para os estudos.
Para mudar tal conjuntura, é imprescindível o emprego de propostas construtivistas. Através do ensino lúdico é possível estimular no estudante o interesse e assim, aumentando sua desenvoltura e participação nas aulas, além de ser um método pedagógico dinâmico e motivador, tornando o aprendizado leve e prazeroso.
Os jogos pedagógicos são realizados como instrumentos de desenvolvimento, compondo elementos benéficos no reforço de conteúdos já estudado, ajudando na sua fixação e maior aproveitamento posteriormente visto na sala de aula, que ao ativar sua memória vira a lembrança de algo distinto, resgatando seu aprendizado. Assim, desenvolve o espírito investigativo, proporciona o debate de ideias entre os estudantes e na efetivação da afetividade e autonomia dos alunos propagada pelas relações solidárias.
A exploração do aspecto lúdico, pode se tornar uma técnica facilitadora na elaboração de conceitos, no reforço de conteúdos, na sociabilidade entre os alunos, na criatividade e no espírito de competição e cooperação, tornando esse processo transparente, ao ponto que o domínio sobre os objetivos propostos na obra seja assegurado (FIALHO, 2007, p. 16).
É importante perceber que o lúdico é educativo, quando desperta curiosidade. Por meio da atividade lúdica, o jovem cria condições de entender melhor os conceitos, relacionar as ideias, determinar relações lógicas, assimilar percepções, além de aumentar a sua sociabilização.
Como afirma Moyles (2002, p.21) “A estimulação, a variedade, o interesse, a concentração e a motivação são igualmente proporcionados pela situação lúdica”. Sendo assim, o lúdico faz parte da grandeza humana e assim torna-se necessária unir essa dimensão à práxis pedagógica, provocando condições de ensino-aprendizagem e promovendo a construção do conhecimento.
O lúdico e os jogos didáticos no ensino de história é uma metodologia de ensino que pode ser utilizada para motivar os estudantes, revisar e fixar o conteúdo, motivar a curiosidade, incentivando-o a pesquisar mais sobre o assunto. Contudo, esta abordagem não substitui a didática tradicional, nem mesmo pode ser considerada a salvação do ensino de História (FERMIANO, 2010).
Para uma melhor especificação da pesquisa, selecionou-se o conteúdo Brasil Colonial, mas salienta-se que qualquer conteúdo de história pode ser desenvolvido e aplicado com atividades lúdicas, melhorando o ensino e aprendizagem, através de uma prática agradável para discentes e docentes, visto que o lúdico quando aplicado de forma coesiva, alveja um modo eficiente na progressão das distintas habilidades operatórias.

A Atividade Desenvolvida
Na última aula expositiva sobre o conteúdo Brasil Colônia, solicitei para a turma se dividir em quatro grupos. Além disso, previamente já havia falado para a turma estudar todo o conteúdo, pois na gincana haverá um Quiz de História Colonial. Nesta aula, também adiantei que eles devem elaborar uma paródia e que precisariam conhecer a imagem e vida de personagens que representam a época colonial, que os mesmos irão caracterizar-se, além de criar um grito de guerra e que tragam adereços relacionados a cor de cada equipe.
A primeira prova da gincana colonial foi um Quiz, com objetivo de revisar todo o conteúdo já trabalhado em sala de aula. Cada equipe escolheu cinco alunos para participar da tarefa, todas as perguntas foram retiradas do livro didático.
A segunda prova foi a realização de uma paródia, cujo objetivo é associar os fatos antigos ocorridos na época estudada, com temas atuais. Os alunos que não participaram do quis, obrigatoriamente participaram dessa etapa. A paródia foi dividida em eixos temáticos, cada equipe sorteou um tema. Os temas eram: Discriminação, Exploração dos recursos naturais, Mão de obra Escrava e Minorias.
A terceira prova foi um desfile baseado nos personagens do Brasil Colonial, que tinha como objetivo trazer um pouco da época para o ambiente escolar, por meios da caracterização. Cada equipe escolheu um aluno para desfilar caracterizado do personagem. Cada equipe escolheu de livre escolha personagens relacionados à época. As equipes escolheram: Caramuru, Manuel da Nóbrega, Chica da Silva e Maurício de Nassau.

A quarta prova foi uma caça ao Pau-brasil, cujo objetivo era mostrar a importância da exploração da primeira atividade econômica do país. Funcionamento: Espalhei por toda escola sementes do Pau-brasil e o objetivo das equipes eram encontrar cinco sementes em dez minutos.
A quinta prova foi um jogo chamado Sim ou Não, cujo objetivo é entender as características específicas da época, por meio de objetos e comidas. Funcionamento: Durante a atividade levei objetos e comidas que relembrassem a época, os alunos deveriam responder Sim ou Não em relação à época histórica de cada coisa. Alguns objetos e frutas levado a sala de aula foram: Jabuticaba, Caju, Banana, Concha de Batismo, Imagem de São Manuel e Sino.
A sexta prova foi um quebra-cabeça, as equipes deveriam montar um mapa da época colonial, o objetivo da tarefa foi conhecer o mapa do Brasil na época colonial. A importância do uso de mapas como documentos históricos na sala de aula é de grande importância, como salienta Molina (2003, p.1), “em meio aos documentos visuais disponíveis, podemos considerar os mapas como testemunhos de mentalidades de uma época em seu caráter administrativo, político, estratégico e científico”.
A sétima prova foi denominada de quilombo. Os quilombos são espaços secularmente habitados por descendentes de escravos, foi reconhecida na Constituição Federal de 1988, por meio dos artigos 215 e 216, como patrimônio cultural de interesse da União, estados e municípios. Essa legitimação levou a Fundação Cultural Palmares, em 1994, a conceituar os quilombos como: "toda comunidade negra rural que agrupe descendentes de escravos vivendo de uma cultura de subsistência e onde as manifestações culturais têm forte vínculo com o passado" (ARRUTI, 2002, p. 246). Levando em consideração que para fugir dos senhores de engenhos, os escravos passavam por um verdadeiro ‘labirinto’, o objetivo dessa prova é chegar no quilombo. Funcionamento: Será dado a cada equipe uma folha com um labirinto, que possui apenas uma entrada e uma saída, com milhares de percursos possíveis de se fazer para chegar ao seu fim, porém apenas um deles levará ao fim da prova.

Algumas Considerações
No decorrer do desenvolvimento dessa experiência, pude reafirmar a importância do ensino lúdico para a aprendizagem do aluno. É curioso o fato de que, os alunos se sentem muito mais motivados a aprender determinado conteúdo, quando utilizamos uma abordagem mais criativa.
As perspectivas atuais na educação, sobretudo na escola pública, devido a sua fragmentação, situa a realidade contemporânea da qualidade da educação brasileira e sua vulnerabilidade em relação à aprendizagem, sendo primordial a introdução de novas metodologias que ajude o aluno a pensar e não apenas reproduzir o que foi ensinado. O ensino lúdico por meio de jogos educativos é uma atividade que pode suprir esses obstáculos entre a escola atual e o ensino-aprendizagem, promovendo novos conhecimentos e curiosidades aos alunos.
O modelo didático utilizado apresentou ótimos resultados. Após uma comparação dos resultados do segundo bimestre com o terceiro bimestre (quando foi aplicado) foi constatado um melhor rendimento dos alunos, além de entusiasmo e curiosidades sobre o tema abordado.
Sendo assim, espera-se que esse trabalho possa contribuir na sensibilização de outros professores de história, sobre a necessidade de utilizar a criatividade, o ensino lúdico, para auxiliar no processo de aprendizagem dos alunos, o que irá promover grandes mudanças.

Referências Bibliográficas
ARRUTI, J. M. A. Etnias Federais: O Processo de Identificação de ‘Remanescentes’ Indígenas e Quilombolas no Baixo São Francisco. Tese de Doutorado, UFRJ, 2002.
FERMIANO, Maria A. B. O jogo como um instrumento de trabalho no ensino de história?. Revista da ANPUH. v. 3, n. 7, 2010.
FIALHO, Neusa Nogueira. Jogos no Ensino de Química e Biologia. Curitiba: IBPEX, 2007.
MOLINA, A. H. Mapas históricos: alguns apontamentos e uma abordagem pedagógica. Disponível em: <http://www.anpuh.uepg.br/xxiii-simposio/anais/textos/ANA %20HELOISA%20MOLINA%201.pdf>. Acesso: 26 de janeiro de 2017.
MOYLES, Janet R. Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Tradução: Maria Adriana Veronese. Porto Alegre: Artmed, 2002.

13 comentários:

  1. Boa tarde Wallysson, belo trabalho desenvolvido. Comumente, ao querer se desenvolver algo novo em sala de aula, encontramos barreiras como a gestão da escola ou falta de material necessário. A ludicidade é uma ferramenta importantíssima que, muitas vezes, não requer demasiado esforço material. Porém, pode demandar o auxílio de outros colegas no processo para que a atividade alcance o equilíbrio buscado. Nesta atividade em particular, você encontrou entraves ou desafios? A interdisciplinaridade aconteceu através do envolvimento de outros atores do espaço escolar? Obrigado.
    Diego Basto dos Santos

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    1. Boa noite Diego, grato pela participação. Não encontrei nenhum obstáculo por parte da gestão escolar, porém o grande desafio foi na quarta prova, pois distribui as sementes em diversos locais da escola, e isso acabou causando certa baderna durante alguns minutos. Dessa forma, na próxima vez que aplicarei, mudarei para um lugar fixo e distante de corredores, como a quadra da escola por exemplo. Infelizmente não houve envolvimento de outros atores, visto que foi uma atividade “piloto”, havendo apenas apoio para realização da mesma da gestão escolar.

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  2. Boa tarde, colega. Primeiramente parabéns pelo trabalho. Gostaria de saber mais como se deu aceitação dos alunos à atividade e se houve apoio institucional direto para a realização. Grato. Laerte Pedroso de Paula Júnior. Esp. Metodologia do Ensino da História e Geografia - UNINTER

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    1. Boa noite Laerte, grato pela participação. Os alunos ficaram super empolgados e entusiasmados e passaram praticamente o mês inteiro falando dessa atividade. O apoio institucional da escola, foi apenas, através de um aval para realização da mesma, visto que o ensino tradicionalista ainda predomina no ambiente escolar, sendo o lúdico uma atividade rara na referida escola.

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  3. Ronilson Oliveira Paulino4 de abril de 2017 às 07:48

    Boa tarde Wallysson Silva, sensacional o seu trabalho. Contudo, gostaria de saber como foi a reação dos discentes em relação ao seu trabalho? você encontrou dificuldades?
    cordialmente, Ronilson

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Boa noite Ronilson, grato pela participação. A primeira reação dos discentes foi de espanto, visto que, o ensino tradicional ainda é predominante na escola, logo tudo que foge desse ensino se torna “diferente”, após o espanto, veio o entusiasmo e alegria por experimentarem algo novo, além do sentimento de mudança quanto a disciplina de história, haja visto que, no início do período letivo, grande parte da turma considerava a disciplina apenas “decoreba”. As dificuldades encontradas foram na prova quatro, devido ao tumulto ocorrido durante alguns minutos nos corredores do colégio, além de não ocorrer um envolvimento no início da atividade com alguns discentes, provavelmente por não entenderem a seriedade da prática lúdica, porém no decorrer da atividade, esses alunos acabaram se envolvendo até mais que os outros.

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  4. Bom dia!
    Excelente trabalho desenvolvido com seus alunos, pois as aulas de história normalmente muitos professores fazem com que sejam monótonas, não despertando a curiosidade dos alunos. Como os alunos reagiram a esta forma de ensino lúdica? E qual foi a reação dos outros professores da disciplina de história como das demais matérias, você tirando as aulas da "rotina monótona" ?

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    1. Boa noite Luana, grato pela participação. Em geral, a turma demonstrou-se participativa, agitada, porém um pouco lenta na prática das atividades. Alguns professores olharam de certa forma “torto”, outros ficaram empolgados e elogiaram. Porém, grande parte desses professores que olharam torto vieram comentar comigo, que seus alunos explanavam em diversas aulas sobre a referida atividade.

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  5. Olá, sou professora de História e Geografia e achei maravilhoso seu trabalho professor. Infelizmente quando questionamos alunos da Educação Básica, muitos alegam que não gostam da Disciplina de História por causa dos longos textos e questionários. Há professores que ainda trabalham na perspectiva totalmente tradicional, ensinando aos alunos que “o Brasil foi descoberto pelos portugueses” e assim por diante. Acredito que, uma metodologia bancária, em que o professor deposita o conteúdo no aluno, faz com que o aluno desmotive-se. Um professor que deixa de ser apenas um detentor do saber e passa a ser um mediador, procurando novas metodologias de ensino faz com que o aluno se interesse e busque saber cada vez mais. Acredito que muitos professores trabalham numa perspectiva tradicional por acomodação, mas existem professores que são produtos de uma má formação, sendo que em algumas Universidades predomina a prática tradicional, os professores de pratica de estágio nunca trabalharam com a Educação Básica, porém não possuem nenhum conhecimento sobre a realidade da Educação Básica. Nesta perspectiva, pergunto ao professor. Qual é a sua opinião em relação a prática tradicional? É acomodação dos professores ou uma falha na formação dos mesmos?

    Inês Valéria Antoczecen.

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    1. Boa noite Inês, grato pela participação e contribuição. Concordo plenamente com você, acredito que para mudar esse cenário de metodologia “bancária”, o ensino lúdico pode ser uma boa opção, por proporcionar uma prática inovadora e prazerosa aos alunos e professores. Acredito que é dever do docente mudar os padrões de comportamento em relação aos estudantes, deixando de lado a acomodação e os métodos e técnicas tradicionais confiando que o lúdico é eficaz como estratégia do desenvolvimento na sala de aula.

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  6. É muito produtivo ensinar história fora da sala de aula. A saída parabéns fixar o conteúdo de história colonial com a gincana é uma alternativa. O que você sugere além da sala de aula para se pensar esse tema já que falas numa abordagem construtivista?

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    1. Boa tarde Jelly, acredito que depende da criatividade do professor, museus, cidade que preservam locais desse período, locais com aldeias indígenas, etc. Em uma viagem que fiz a Florianópolis achei bem interessante essa escuna: www.canasvieiras.com.br/perolanegra/. Poderia ser encaixado neste conteúdo e em outros.

      Obrigado pela contribuição.

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