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Taciane Fernanda Silva

ESTUDO DO MEIO: ENSINO DE HISTÓRIA ALÉM DA SALA DE AULA
Taciane Fernanda Silva
UNESPAR/Campus de União da Vitória

Não é novidade que muitos alunos e alunas dizem “odiar” história, consideram a disciplina totalmente desinteressante. Mas por quê? Segundo Seffner (2000) quando o ensino é centrado apenas nos livros didáticos, e os conteúdos são trabalhados de uma forma que não desenvolve o senso crítico, os alunos e alunas adotam a visão de que é desnecessário estudar o passado. Essa realidade precisa ser mudada, e cabe ao professor ir além dos livros didáticos procurando meios para ensinar e desenvolver as competências dos alunos e alunas.
Antes de entrar para o curso de história, recordo-me de pouquíssimos/as professores/as que em minha formação básica foram além dos livros didáticos, nos desafiando a pensar historicamente. Para ser mais precisa, três professores que além das aulas expositivas dialógicas “mágicas” tinham propostas de atividades que contribuíam para o desenvolvimento das competências, os quais tenho como referência hoje.  Na universidade, em meu estágio final de regência do curso de História, outra maneira de pensar o ensino de história chamou minha atenção, no primeiro ano o professor de história antiga nos tirou da sala e levou para a praça, depois nos pediu para observar os monumentos e começou sua aula a partir da história presente ali. Aquela aula chamou muito minha atenção, era “genial” e posso dizer que foi de grande influência para me fazer defender nesse e em outros trabalhos o estudo do meio como fundamental no processo de ensino aprendizagem.
A leitura de alguns teóricos me ajudaram a pensar esse estudo do meio e como eu poderia encaixa-los em minha prática docente. Segundo Bittencourt (2009) todo meio é histórico, e “organizar saídas dos alunos da escola é, normalmente, algo bem aceito e visto sempre de maneira positiva quer pela motivação que provoca nos alunos, quer pelas oportunidades pedagógicas que pode oferecer.” (BITTENCOURT, 2009, p. 273). Nós professores de história, somos privilegiados pela infinidade de meios que temos para trabalhar os conteúdos com os alunos e alunas e é nosso dever explorar esses meios. Nesse sentido, busco refletir a partir de minha experiência pessoal, o estudo do meio como prática pedagógica.
Durante os estágios finais, após serem determinados os temas pelos quais eu ficaria responsável de trabalhar com os alunos e alunas, comecei a pensar em como estruturar as aulas procurando desenvolver o pensar historicamente aproximando os discentes da história. Tendo em vista que um dos temas era “Revolução Industrial” a leitura de Fonseca (2003) foi essencial para pensar essas aulas, pois em seu livro “Didática e prática de ensino de história” ela cita o exemplo de projetos de pesquisa de saídas de campo, que podem ser aplicados de maneira interdisciplinar e facilitam a compreensão dos alunos e alunas sobre diferentes perspectivas.
ensino de história, possibilita a reconciliação da história vivida com a história conhecimento, a partir de uma relação ativa entre os tempos presente e passado, entre espaços próximos e distantes, num movimento dialético. (FONSECA, 2003, p.124)
Considerando as reflexões de Fonseca (2003) e Bittencourt (2009), decidi levar os discentes para dentro de uma fábrica de chapas de fibra de madeira que fica em nosso município, a ideia foi bem vista pelo professor supervisor, o que facilitou a saída dos alunos e alunas do colégio. O objetivo era visitar duas fábricas, uma onde os meios tecnológicos eram escassos e outra bem desenvolvida tecnologicamente, infelizmente como o tempo era curto optamos por visitar apenas uma, a fábrica com mais recursos tecnológicos. Na minha visão, nada melhor do que pensar a “Revolução Industrial” dentro de uma fábrica, pois aproximava os discentes da história trabalhada em sala de aula, e eles poderiam se ver como agentes históricos, atuantes de seu tempo.
A experiência na fábrica foi fantástica, os alunos e alunas estavam atentos/as a tudo, levaram para a fábrica os conhecimentos adquiridos em sala de aula, algo que consegui perceber com as intervenções durante o “passeio” para perguntas que buscavam refletir os avanços da revolução. Para muitos alunos e alunas do 2º ano do ensino médio, como as turmas que levei para a visita a fábrica, tecnologia é celular, vídeo game, computador de última geração, revolução tecnológica para muitos deles se limita a isso, conhecer uma fábrica que dispõe de uma das melhores tecnologias do país em maquinário, possibilitou aos discentes ampliar suas visões de mundo. Os pais de muitos alunos e alunas trabalham nas fábricas da cidade, com isso conseguimos estabelecer relações com a luta pelos direitos do proletariado, pois sem essa luta os pais daqueles discentes ainda estariam trabalhando em condições desumanas, com salários baixíssimos.
Algumas perguntas se repetiram nas duas turmas “qual o número de mulheres trabalhando na fábrica?” “o salário das mulheres é igual ao dos homens?” Notadamente, estavam procurando comparar se os dados do período estudado, ainda se aplicavam aos dias atuais. A questão ambiental também teve destaque na fala dos alunos e alunas, que queriam saber quais eram as preocupações dos donos da fábrica com a poluição, o responsável pela empresa respondeu aos questionamentos dizendo, que eles têm uma grande preocupação com o ambiente e buscam não utilizar produtos químicos durante a colagem da chapa dura para que a fumaça liberada no ar não agrida o meio ambiente, esse fato chamou bastante a atenção dos alunos e alunas.
Segundo Lopes (1991) o professor sempre tem a necessidade de buscar técnicas para o desenvolvimento dos conteúdos dos seus planos, e esse era meu objetivo, inovar, fazer com que os discentes se vissem como parte da história que eles aprendem em sala de aula. Muitos professores optam por não sair da sala de aula para evitar transtornos, preferem não arriscar sair do modo tradicional, devemos encarar esse desafio, pois se não arriscarmos, nunca vamos saber se vai dar certo. Algo que escutei muito durante a graduação foi que deveríamos tirar os alunos e alunas de dentro da sala de aula para ver como eles se comportam, e essa experiência é muito válida. A rotina da sala de aula às vezes cansa os alunos e alunas, e quando você os/as tira daquele ambiente automaticamente chama a atenção, e eles/as vão topar qualquer atividade para sair da sala de aula, e é nessa brecha que as atividades propostas devem fazer os/as discentes pensarem historicamente.
A experiência na fábrica me fez refletir ainda mais sobre essa prática do estudo do meio, pois acrescentou muito à minha formação e acredito que pelos trabalhos desenvolvidos, acrescentou muito para os alunos e alunas também. Por isso defendo que tirar os/as discentes da sala de aula, de maneira alguma é perca de tempo, é parte fundamental no processo de ensino. Seja na praça, na fábrica, no museu ou nas ruas é nesses lugares que alunos e alunas observarão, cara a cara, o que aprendem em sala de aula e, mais do que isso, desenvolverão uma visão própria do mundo. O estudo do meio permite que os discentes entrem em contato com certas dimensões da realidade que não estão nos livros. Como afirma Bittencourt (2009) do ponto de vista do desenvolvimento intelectual, o estudo do meio favorece a aquisição de uma série de capacidades, destacando-se a observação e o domínio de organizar e analisar registros orais e visuais. 
Ser professor/a vai muito além de simplesmente preparar e aplicar aula, é querer e saber ensinar, saber compreender o/a seu/sua educando/a a fim de torná-lo/a capaz de entender a sociedade e ser hábil o suficiente para viver nela, é saber estimular os seus alunos e alunas para que eles/as possam desenvolver o que eles/as têm de melhor. Mas ser professor/a de história não basta saber contar história, tem que conseguir fazer os/as discentes se sentirem parte dela.

Referências
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos e métodos. 3ed, São Paulo, Cortez 2009.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história. Experiências, reflexões e aprendizados. Campinas: Papirus, 2003.
LOPES, Antonia Osima. Aula expositiva: superando o tradicional. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.) Técnicas de ensino: Por que não?. Campinas: Papirus, 1991.
SEFFNER, Fernando. Teoria, metodologia e ensino de História. In: Questões de Teoria e Metodologia da História. Porto Alegre: Ed. Da Universidade UFRGS, 2000.

9 comentários:

  1. No trabalho fora de sala de aula verifica-se um melhor desempenho e aplicação por parte do discente. Encontra-se melhores e mais efetivos resultados. Mas como tornar essa atividade menos espaçada e dispersa, já que as escolas não tem recursos materiais e tempo para tal? Não podemos esquecer que a disciplina de história compõe-se de duas aulas semanais de uma hora cada. Que na realidade torna-se menos devido a uma serie de fatores, como: tempo de entrada em sala, acomodação da turma etc.
    Sandra Márcia Giaretta

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    1. Olá Sandra!
      Realizar atividades fora da sala de aula levando em consideração os fatores que você levantou pode parecer impossível, mas não é. Tornar a atividade menos espaçada e dispersa em meu ponto de vista dependerá do professor/a e dos/as alunos/as, se o projeto que o professor/a desenvolver for bem organizado, contando com apoio de outros professores/as direção da escola, equipe pedagógica e até mesmo com a prefeitura da cidade (caso necessite de transporte) o tempo curto para as aulas não será um problema.
      Taciane Fernanda Silva

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  2. As tentativas de integrar a relação entre o aluno e professor, e entre aluno o meio onde o mesmo vive, ou seja, apresentar o local sob uma nova visão,melhorar o relacionamento que os mesmos tem com a disciplina história,e com seu ambiente habitual é muito interessante, buscar trazer isto para além do ambiente da sala de aula é uma iniciativa que pode trazer muitos benefícios não só para o aprendizado da História mas para a comunidade onde estes indivíduos estão inseridos. Todavia, não podemos esquecer que no nosso país, o ensino de qualquer disciplina é muito complicado,os horários curtos, a falta de disciplina dos alunos,a falta de verba das escolas,os alunos muitas vezes não se interessam por aprender, e veem uma atividade fora das paredes da sala de aula como uma oportunidade de escapar,se dispersam, buscam "enganar" o professor e muitas vezes não participam das atividades, não compreendendo o real sentido proposto. Agora, dito isto, como pensar uma maneira de quebrara esta barreira? Como propor uma atividade fora da sala de aula que cumpra o propósito pensado pelo professor e que estimule os alunos, que os leve a participar da mesma, sem sucumbirem a tentação de escapar?
    Gerfeson Carvalho dos Santos

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    1. Olá Gerfeson!
      Interessante seus apontamentos sobre a realidade do ensino nos dias de hoje, porém acredito que em meio a tantas dificuldades nós professores/as devemos nos sentir desafiados a superá-las. Os alunos/as precisam se sentir parte da história ensinada, só assim fará sentido para eles/as aprender sobre a mesma. Raramente uma atividade vai atingir todos os alunos/as da classe, por isso a necessidade de pensarmos diversas maneiras de ensinar, para alguns pode ser um meio de escapar sim, mas devemos pensar também nos alunos e alunas que querem aprender. Nós enquanto professores/as precisamos arriscar, como escrevi em outra resposta um projeto bem organizado despertará a atenção dos alunos. Sendo nosso objetivo ensinar os/as alunos/as a pensar historicamente toda atividade que busque desenvolver essa competência vale a tentativa.
      Taciane Fernanda Silva

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  3. excelente texto, me imaginei por diversas vezes com meus alunos em experiências que já fizemos. Mas gostaria de saber quantas atividades fora da sala de aula você acha interessante fazer no período letivo?
    Girleide Almeida

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    1. Olá Girleide!
      Primeiramente obrigada, ter boas experiências para contar é muito bom, não é mesmo? O número de atividades fora de sala de aula depende muito do plano de trabalho do professor/a. Acredito que no mínimo duas atividades fora da sala de aula durante o ano letivo são essenciais, mas se o professor/a conseguir realizar uma, ele/a já fez a diferença no desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos e alunas.
      Taciane Fernanda Silva

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  4. Taciane, Como podemos convencer os alunos de que conhecer História é fundamental para sua formação cidadã?
    Wiliane Maine do Nascimento

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    1. Olá Wiliane!
      Devemos aproximar os alunos e alunas da história contada em sala de aula, eles/as devem se ver como parte da história. Só assim vão conseguir desenvolver o pensar historicamente fundamental na sua formação cidadã. Esse "convencimento" dependerá de como o professor/a irá ministrar suas aulas.
      Taciane Fernanda Silva

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