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Ronilson Paulino

A MÚSICA COMO FONTE HISTÓRICA: APRENDIZAGEM NO ENSINO DE HISTÓRIA
Ronilson Oliveira Paulino
Prof. Esp. UNINTER São Gabriel


 Introdução
Privilegiar a música no ensino de história significa construção de conhecimento por meio de um recurso de grande prazer e motivação.
Esse artigo tem como objetivo levantar questões e apresentar sugestões acerca do uso da música como recurso didático-pedagógico nas aulas de História. Pois os elementos da música como o som, ritmo, melodia, acabam por contribuir e até mesmo facilitar o processo de ensino aprendizagem, na comunicação, interação entre alunos e professor.
Devido a esse contato dos jovens com a música, pode acabar favorecendo a entrada para um caminho de aproximação dos alunos com o trabalho envolvendo canções.
A música pode possibilitar ao aluno, com as orientações do professor, conhecer certos períodos históricos onde o aluno possa sentir-se sujeito histórico, possibilitando o estudante conhecer uma determinada realidade.
Por este motivo lembramos e queremos aqui destacar que como outra atividade, o uso da música deve ser planejado antecipadamente, o aluno precisa antes de tudo, compreender a matéria ensinada para poder fazer ligações da mesma com a música trabalhada.

Desenvolvimento
A música nem sempre foi considerada como um documento histórico, uma vez que a história do século XIX era voltada para uma escala positivista, onde os autores só descreviam os fatos, sem fazer interpretação destes.
Segundo Reis (2004, p.16), “a função do historiador seria a de recuperar os eventos, suas interconexões e suas tendências através da documentação e fazer-lhes a narrativa”.
No entanto a história dita positivista estava apenas limitada a documentos oficiais, baseada em relatórios governamentais, ou seja, era uma história a favor da política.
No entanto no final da década de 1920, surge um grupo de historiadores franceses, destacando-se Lucien Febvre e Marc Bloc, dando início a uma renovação historiográfica com a criação da revista Annales (1929) e da nova corrente historiográfica, a “Escola dos Annales”. Onde os mesmos procuraram dinamizar o campo historiográfico, defendendo uma história crítica, comparativa, etc. (SANTOS; PEREIRA, 2012)
Desta maneira novos assuntos foram introduzidos na história, como cinema, festas, musica, o cotidiano as mentalidades, etc.
Como ressalta Napolitano (2005):
“a canção ocupa um lugar especial na produção cultural, em seus diversos matizes, ela tem o termômetro, caleidoscópio e espelho não só das mudanças sociais, mas, sobretudo das nossas sensibilidades coletivas mais profundas”. O que nos leva a crer que a música nos leva a compreender melhor determinado tempo histórico.
Com utilização de diferentes linguagens e fontes no ensino de história as mesmas acabam possibilitando o reconhecimento da escola como espaço social, onde o saber escolar reelabora o conhecimento produzido pelo historiador e, nesse processo, integra um conjunto de “representações sociais” do mundo e da história, praticados por professores e alunos, frutos da experiência de ambos e provenientes de diversas fontes de comunicação.
Buscando desta forma despertar o senso crítico do aluno, permitindo que ele compreenda a sua realidade em uma dimensão histórica, identificando mudanças, resistências e permanências, da qual o indivíduo possa situar-se.
Como função cultural, o exercício da música possibilita vivenciar sentimentos pretéritos e presentes de uma época, pela percepção de como o compositor diz o que diz. Como código musical envolve a ideologia e a “maneira de ser” de determinada época, sua vivência estimula formas de pensamento distintas do rotineiro, o que significa dizer que a música possibilita ao educando atentar para seus sentimentos, alimentando-os com experiências vivenciadas e ressignificadas em novas relações. E se a obra musical aponta determinada direção aos sentimentos do educando (ouvir música é ouvir direções), ela também descortina novas possibilidades de que ele se sinta e se conheça, pois a maneira de vivenciá-la é exclusivamente pessoal, é exclusivamente função do receptor. Expressando sentidos irredutíveis a palavras, a música cria um espaço em que os sentimentos dos educandos acabam por encontrar novas e múltiplas possibilidades de ser (Sekeff, 2007: 133).
A incorporação da linguagem musical ao ensino de História reclama do professor e do aluno uma percepção mais consciente da canção popular. Trata-se de uma fonte de pesquisa, onde a forma e o conteúdo integram-se como força de expressão, como referencial de manifestação e comunicação.
Sem sombra de dúvida, ela nunca esteve tão presente no cotidiano de crianças e adolescentes. Imagens e sons acessados pela internet, canais de TV paga exclusivos de música, diversos programas de TV em canais abertos, aparelhos eletrônicos minúsculos, telefones celulares com os mais variados recursos, diferentes fones de ouvidos usados como se fossem um adereço obrigatório, tudo isso permite um extenso contato do jovem de hoje com os mais variados estilos musicais. (DUQUE, 2012, p.3)
A linguagem musical é de extrema importância, pois o aluno se interage as aulas e a musica acaba por descrever uma realidade social, onde a escola procura discutir esta realidade. A canção popular ajudar a repensar a historia e a sociedade.
Durante a ditadura militar a musica ganhou grande repercussão no Brasil, de artistas que através da letra das músicas, denunciavam e emergiam o que estava acontecendo naquele período, as escolas procuram sempre trabalhar com músicas quando se trata de ditadura militar, pois, muitos foram os artistas que engajaram na luta contra esta fase turbulenta na história brasileira.
Após o Ato Institucional nº5, instrumento legal promulgado em fins de 1968 que aprofundou o caráter repressivo do Regime Militar brasileiro implantado quatro anos antes, houve um corte abrupto das experiências musicais ocorridas no Brasil ao longo dos anos 60. Na medida em que boa parte da vida musical brasileira, naquela década, estava lastreada num intenso debate político-ideológico, o recrudescimento da repressão e a censura prévia interferiram de maneira dramática e decisiva na produção e no consumo de canções. A partir de então, os movimentos, artistas e eventos musicais e culturais situados entre os ‘marcos da Bossa Nova (1959) e do Tropicalismo (1968) foram idealizados e percebidos como a balizas de um ciclo de renovação musical radical que, ao que tudo indicava, havia se encerrado. (NAPOLITANO, 2002, p.1)
É interessante fazermos interrogação enquanto a música do autor, ou seja, no que sustenta a sua imagem, seu significado e como ela foi concebida, etc.
Segundo David (2010?, p.106) Uma técnica que vem apresentando bons resultados consiste no desdobramento do trabalho em três momentos básicos: audição sem a letra, audição com a letra e canto. Pode ser desenvolvida da seguinte forma:
Audição e análise da música (sem que a letra tenha sido entregue para os alunos), quantas vezes se fizer necessário, para que os mesmos se manifestem em relação ao que ouvem: melodia, ritmo, instrumentos, cantor, tema da música e em seguida anotem as palavras que consigam perceber.
Audição e análise da música com a letra, implicando em uma prática que se inicia com considerações sobre o título, apresentação do compositor, trabalho com o vocabulário e, a partir do domínio do mesmo, reflexões acerca do conteúdo; hora de interrogar o texto.
Momento de cantar, cuja dinâmica deve percorrer os passos do canto em conjunto ao individual.
O professor ao utilizar a música como um documento em sala o professor, estará mostrando aos alunos que não só o livro didático é detentor de todo conhecimento, a música acaba por contribuir para um amplo conhecimento.

Considerações finais
Contudo, é importante frisarmos que a música tem um grande papel na vida das pessoas. Visto que agregadas aos temas esclarecidos e explicados pelo professor, se torna uma importante ferramenta de complementação e dinamismo nas aulas de quaisquer áreas.
Sabemos que nem todos os alunos tem a mesma facilidade para aprendizado que outros, no entanto o que o aluno não compreendeu na aula ou até mesmo o assunto abordado não lhes interessou, quando o professor complementa com a música , a história realmente muda de figura. O que se nota é que em sua maioria os alunos já tem acesso a qualquer estilo de música, é quando dinamizado pelo professor é muito bem aceita pelos alunos.
O que os professores devem fazer é tentar dinamizar as aulas, principalmente de história, para não se tornar aulas maçantes, quer seja com músicas, teatros, danças, vídeos, entre outros. Para que assim sejam passados os conteúdos com mais leveza para que realmente eles possam aprender e apreender os conteúdos ministrados pelo professor.

Referências
DUQUE, Luís Guilherme Ritta. A canção brasileira na sala de aula: possibilidades didático-pedagógicas. Aedos n. 11, vol. 4 - Set. 2012
DAVID, Célia Maria. Musica e ensino de história: uma proposta. São Paulo: Unesp, 2002
SANTOS, Geilza da Silva; PEREIRA, Auricélia Lopes. A música como instrumento didático: novas formas de ensino-aprendizagem em história, 2012.
NAPOLITANO, Marcos. A música popular brasileira (MPB) dos anos 70: resistência política e consumo cultural. Iv congresso de la rama latino-americana, abril, 2002.
REIS, José Carlos. A história entre filosofia e a ciência. Belo horizonte: autêntica, 2004.
SEKEFF, Maria de Lourdes. Da música seus usos e recursos. 2ª Ed. São Paulo: UNESP, 2007.

19 comentários:

  1. Olá Ronilson,
    Parabéns pelo teu trabalho. Considero muito importante não apenas a valorização da música para o ensino da disciplina História, mas também a integração da própria música em si em nossa grade de ensino. Considerando esses fatores, creio que há um debate incontornável hoje que remete para as transformações que estão ocorrendo em nossas grades curriculares através das reformas federais. O que pensas disso? Como a história e a música poderão se inserir em uma nova estrutura do Ensino Médio que não privilegia estas áreas?
    Abraço e bom debate.


    Israel da Silva Aquino
    Mestrado História - UFRGS

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    1. Ronilson Oliveira Paulino4 de abril de 2017 às 06:22

      Bom dia Israel, ótima sua pergunta, confesso que seu questionamento me fez refletir muito. Em relação a reforma, acredito que perderemos e muito em relação a riqueza da nossa grande curricular, defendo que a reforma não retirasse nenhuma disciplina, colocando-as a margem de optativas. Em relação a sua pergunta, até agora estou tentando oficializar uma resposta. Todavia , acredito que uma forma de inserir a música em uma nova estrutura do ensino médio, é trabalhar a interdisciplinaridade com as disciplinas que se aproximam da história, como por ex: artes, sociologia. Além disso, o ensino de música também ganhou destaque com a reforma, acredito que cabe uma maior interação e discussão entre o corpo docente.
      Abçs, Ronilson

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  2. Oi Ronilson, muito boa a sua proposta e como estudiosa da História Cultural e do Patrimônio gostaria de perguntar-lhe como seria possível, na sua visão, trabalhar em sala de aula não somente o conteúdo contextualizado da letra da música, mas também sua existência enquanto patrimônio cultural que gera referenciais identitários aos indivíduos e comunidades?

    Janaina Cardoso de Mello
    UFS/UFAL/IFS
    Pós-Doutoranda em Estudos Culturais (PACC-UFRJ)

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  3. Olá Ronilson, você conhece a obra História Social da Música Popular Brasileira (ISBN 8573260947) do José Ramos Tinhorão?

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    1. Ronilson Oliveira Paulino4 de abril de 2017 às 05:09

      Bom dia José maria. Só li um capitulo deste livro na graduação, em uma das disciplinas que cursava. A obra toda não tenho.

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    2. Ronilson Oliveira Paulino4 de abril de 2017 às 05:20

      Bom dia Ismael, obrigado pelas considerações. Procuro sempre utilizar diferentes gêneros musicais, mais dou autonomia para os alunos levarem sugestões, fazendo com que isso eles se sintam participantes da construção do processo histórico. Em relação a resistência dos alunos, me lembro que a minha primeira vez com experiência de música na sala de aula, foi em relação a ditadura militar, para o terceiro ano do ensino médio, os alunos me questionavam porque não trazer novos gêneros musicais, ao invés de ficar enraizado aos compositores da época, como Gilberto Gil e Chico Buarque. Todavia,é importante levar em consideração a realidade da qual os alunos estão inseridos. Abçs

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  4. Olá Ronilson, parabéns pelo trabalho. Me interesso bastante pelo uso de novas tecnologias em sala de aula. Sobre o a utilização de música, devemos utilizar diferentes gêneros musicais ou somente o que os alunos estão familiarizados? Tive alguma resistência utilizando mpb, devido ao ritmo.

    Ismael Paiva da Silva

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    1. Ronilson Oliveira Paulino4 de abril de 2017 às 05:22

      Bom dia Ismael, obrigado pelas considerações. Procuro sempre utilizar diferentes gêneros musicais, mais dou autonomia para os alunos levarem sugestões, fazendo com que isso eles se sintam participantes da construção do processo histórico. Em relação a resistência dos alunos, me lembro que a minha primeira vez com experiência de música na sala de aula, foi em relação a ditadura militar, para o terceiro ano do ensino médio, os alunos me questionavam porque não trazer novos gêneros musicais, ao invés de ficar enraizado aos compositores da época, como Gilberto Gil e Chico Buarque. Todavia,é importante levar em consideração a realidade da qual os alunos estão inseridos. Abçs

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  5. Bela publicação. Gostaria de saber se existe discriminação quanto ao estilo de música empregada no ensino de história? Um exemplo seria a comparação entre punk e mpb. O punk era manifestação mais direta enquanto o mpb era mais intelectual tanto é que após análise eram censuradas.

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    1. Ronilson Oliveira Paulino4 de abril de 2017 às 05:37

      Bom dia Lisandro, ótima sua pergunta. Em relação ao estilo de musica, ocorre sim discriminação, os alunos preferem trabalhar com estilos que permeiam a realidade deles, e no sentido mais direto que estejam no auge do sucesso. Sempre que trabalho musica em sala de aula, os alunos preferem por exemplo o funk ou o samba. Uma vez me lembro de trabalhar tradições nordestinas, e utilizei o forró como estilo de música, percebi grande resistência por parte das turmas. Todavia é preciso oficializar uma reflexão com os alunos mostrando a importância dos diferentes gêneros musicais.

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    2. Ronilson Oliveira Paulino4 de abril de 2017 às 06:21

      Bom dia Israel, ótima sua pergunta, confesso que seu questionamento me fez refletir muito. Em relação a reforma, acredito que perderemos e muito em relação a riqueza da nossa grande curricular, defendo que a reforma não retirasse nenhuma disciplina, colocando-as a margem de optativas. Em relação a sua pergunta, até agora estou tentando oficializar uma resposta. Todavia , acredito que uma forma de inserir a música em uma nova estrutura do ensino médio, é trabalhar a interdisciplinaridade com as disciplinas que se aproximam da história, como por ex: artes, sociologia. Além disso, o ensino de música também ganhou destaque com a reforma, acredito que cabe uma maior interação e discussão entre o corpo docente.
      Abçs, Ronilson

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Dentro da sua perspectiva seria interessante a elaboração de projetos musicais em sala de aula? Ex: paródias. PART: Edivaldo Rafael de Souza

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  8. Olá Parabéns por seu trabalho, gostaria de saber a relação que a música possui com a trans e a interdisicplinaridade e como você encara estes conceitos? Minha dúvida surgiu uma vez que somos cobrados em reuniões pedagógicas para estes trabalhos, no entanto na atualidade somos reprimidos por uma escola sem partido e uma nova LDB...

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  9. Ótimo texto, Parabéns.
    Bom hoje nas Escolas vimos a falta da linguagem musical, não há uma certa reflexão sobre as letras dessas canções.você acha que essa falha seria a falta de interesse de alguns professores ou diretores. A não se aplicar no plano de aula ?
    Daniela Caetano Rosa

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    1. Ronilson Oliveira Paulino6 de abril de 2017 às 07:04

      Bom dia Daniela. Acredito que não é falta de interesse do professor e nem do diretor. Trabalhar com linguagem musical requer de fato tempo, como professor afirmo que as escolas cobram muita documentação, e o professor tem que correr para dar conta do conteúdo, o que dificulta na maioria das vezes optar por uma aula mais dinâmica e recreativa.

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  10. Olá, Ronilson,

    Seu texto é muito interessante. Músicas, assim como outras expressões artísticas podem ser utilizadas em sala de aula para atualizar os recursos para o ensino de história, cujo currículo tradicional demonstra ser um tanto ultrapassado em relação a realidade dos estudantes brasileiros. Também pesquiso sobre música, no meu caso o rap, e procuro abordar os elementos estéticos das músicas que não somente as palavras das letras. Pergunto o que você tem a dizer sobre a abordagem, nas salas de aula, de outros elementos musicais, além do conteúdo das letras?

    Obrigado
    GABRIEL PASSOLD

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  11. Olá Ronilson, muito bom sua abordagem, me lembrou muito um livro de Marcos Napolitano [NAPOLITANO, Marcos. Cultura Brasileira: utopia e massificação (1950-1980)]. Música é mais do que um incentivo, é um prazer diário e uma fonte eterna de pesquisa, principalmente nos dias de hoje em que alguns clamam pela volta da Ditadura Militar.

    Pablo Kyoshi Rocha

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  12. Olá, Ronilson.
    De fato, quando pensamos em ensino de História, o profissional dessa área deve estar atento à sua prática pedagógica, buscando novas metodologias de ensino.
    Achei interessante sua proposta de uso de música no ensino de História. Eu, como músico, acredito que a música como ferramenta de ensino é fundamental, pois música é uma linguagem universal que nos une de uma maneira excepcional.
    A minha dúvida, porém, é a seguinte: Como o professor de História pode trabalhar uma determinada música como fonte primária em suas aulas? (Obviamente, não descartando o material didático, uma vez que, em muitos casos, é o único material que as escolas disponibilizam)

    Abraços.

    Márcio Vitor Santos

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