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Nathália Machado

O ENSINO DE HISTÓRIA ANTIGA ATRAVÉS DA ANÁLISE DE IMAGENS DO EGITO
Nathália Machado Freire de Arruda
História- UPE

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) vemos que o objeto do componente curricular de História é viabilizar a compreensão e problematização, pelos estudantes, dos processos de constituição e transformação de valores, saberes e fazeres, em diferentes tempos e espaços, de pessoas e coletividades.
A BNCC aborda ainda o direito de todos ao entendimento das múltiplas temporalidades vivenciadas pelas sociedades, bem como a tomada de consciência de que as sociedades têm histórias diversas, que podem ser abordadas a partir de diferentes pontos de vista. Nós, como professores de História, temos que escolher qual o fato que queremos destacar e como trabalharemos a memória de forma crítica e consciente.
O ensino de história no Ensino Fundamental, e também no Ensino Médio, tem como objetivo fundamental proporcionar a nossos(as) alunos(as) as condições para que eles(as) consigam  se identificar enquanto sujeito histórico, participando de um grupo social, ao mesmo tempo único e diverso. (ARAUJO,2006. p.3)
Com foco no ensino de História Antiga, temos diversas formas de explorar este período histórico em sala de aula, não apenas com documentos escritos, mas também com a cultura material, com o estudo arqueológico de edifícios, estátuas, cerâmica, pintura, entre outras categorias de artefatos (FUNARI, 2007, p. 97). Com a seleção desse material, o professor pode abordar diferentes aspectos da sociedade e estimular reflexões sobre as estruturas econômicas, sociais, políticas e cultural da antiguidade (FUNARI, 2004, p.2).
Uma das formas que podem ser trabalhadas em sala de aula é a análise de imagem, pois nos permite observar o passado de forma mais vívida. As imagens trazem mais ludicidade e interação com o conteúdo em análise (BITTENCOURT, 2008) Como sugerido pelo crítico Stephen Bann, citado no livro Testemunha ocular, nossa posição, face a face com uma imagem, nos coloca face a face com a História (BURKE, 2004, p.17). Paulo Knauss, fala em seu texto, O desafio de fazer história com imagens: arte e cultura vizual, sobre o desafio de estudar história com imagens, diz que a imagem pode ser caracterizada como expressão da diversidade social, exibindo a pluralidade humana.
Peter Burke completa, afirmando que as imagens, assim como textos e testemunhos orais, constituem-se numa forma importante de evidência histórica. O autor ainda afirma que o uso das imagens, em diferentes períodos, como objetos de devoção ou meios de persuasão, de transmitir informação ou de oferecer prazer, permite-lhe testemunhar antigas formas de religião, de conhecimento, crença, deleite, etc.(BURKE, 2004, p.17)
Por isso, um direcionamento lúdico a alunos do ensino fundamental vai estimular o aprendizado sobre as estruturas sociais e as produções artísticas e culturais, além de um aprofundamento na civilização que está sendo trabalhada em sala. Além disso, a imagem possui um registro abrangente, baseado em um dos sentidos que caracterizam a condição humana (KNAUSS, 2005, p. 99).
O professor de História Antiga encontra várias barreiras, uma das maiores é fazer com que o aluno se interesse pelo conteúdo trabalhado em sala de aula. Uma maneira de despertar este interesse é levar imagens e analisar junto com a turma, fazendo assim com que os alunos tenham uma maior aproximação com o tema abordado. Peter Burke afirma que a imagem pode ser usada como evidência histórica, já que a arte pode fornecer informações sobre os aspectos da realidade social, que os textos muitas vezes abordam superficialmente.
Uma das sociedades antigas, que deixou um bom acervo de material, foi o Egito, já que eles utilizavam diversos suportes para registrar sua história. Um dos mais conhecidos são as paredes e portas dos templos, onde encontram-se narrações sobre os feitos dos soberanos, mas também grande número de autobiografias e matéria religiosa, como os Textos das Pirâmides (ARAUJO, 2000, p.28). Podemos usar como material de analise em sala de aula as imagens das pirâmides, por exemplo, que vão nos dar muitas informações sobre esta sociedade.
Quando analisamos o estilo egípcio (cânones), que é um conjunto de normas especiais, regras, modelos e padrões que deveriam ser repetidos nas obras executadas ( ARAUJO,2006, p. 28), observamos que esse estilo depois de escolhido não se alterava; é por causa desta padronização que nos deparamos nas artes egípcias com a repetição de temas (cotidiano e religioso) e eram realizados em construções bidimensionais (desenhos e relevos) nas paredes dos templos (SILVA, 2006, p.18).
O estilo egípcio tinha varias regras que fazia com que a arte permanecesse num padrão, como por exemplo:
 Os homens eram sempre pintados com a pele mais escura do que as mulheres; a aparência de cada deus egípcio era rigorosamente estabelecida. Hórus, o deus-céu, tinha que ser apresentado como um falcão ou com uma cabeça de falcão; Anúbis, o deus dos ritos funerais, como um chacal ou com uma cabeça de chacal. (GOMBRICH,1999, p. 65).
Como essa regra definia o padrão da arte egípcia, encontramos características como:
 Os olhos e o torso nunca estão de perfil, já os membros superiores e inferiores são colocados de perfil “deformando” a lógica da observação natural da figura. As estátuas são esculpidas como “um todo”, deixando os membros “colados” ao corpo; Para representar duas ou mais pessoas organizava-se uma relação de posição social, quem fosse “mais importante” seria representado maior e à direita do subsequente. (SILVA,2002, p. 32). 
Tendo por base os padrões que estão em toda a arte egípcia, podemos analisar algumas imagens e aprender mais sobre essa sociedade. Podemos encontrar através da imagem abaixo as características citadas anteriormente, como a questão do tamanho em que a pessoa era representado, que mostrava sua classe naquela sociedade. Observamos também na imagem a forma como os corpos eram desenhados.
Cena de caça. Tumba de Nebamum. C. 1400 a.C. Pintura de parede, 31 cm. British Museum. Disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bd/Tomb_of_Nebamun.jpg

Podemos ver no centro da imagem um homem maior que as demais pessoas, isso representa que ele tem uma importância social maior do que os outros indivíduos presentes na imagem. Logo abaixo dele tem uma menina em tamanho menor, o que representa que ela é inferior ao homem e à mulher ou que é filha deles; a mulher também é representada com menos importância do que o homem, que é o elemento central da imagem. Outros elementos que podemos encontrar é o papiro, planta que dava origem á folha de papiro; temos também aves que estão possivelmente sendo caçadas, e vemos também os peixes no rio Nilo, que representam a sua fertilidade para o povo egípcio.
Ao levar as imagens para serem analisadas em sala de aula, vemos que os objetos, as pinturas e as esculturas têm sempre um tema recorrente que é a religião, e com isso podemos mostrar para o aluno, a relação que esse poder tinha com os deuses.
O formato e os símbolos eram primeiramente estudados para, então, serem usados na construção da mensagem religiosa das obras. Essa mensagem visava fornecer o material de leitura para os vivos e para os mortos, pois o povo egípcio acreditava que seus deuses observavam tudo que era realizado no aquém e além túmulo. (SILVIA, 2002, p.18). 
No Antigo Império, podemos abordar a análise das imagens das pirâmides, mostrando como foi o processo de construção, a evolução das mastabas, que eram túmulos com o formato retangular, até as grandes pirâmides conhecidas mundialmente. Podemos levar imagens que mostrem o interior delas e explicar, por exemplo, a crença dos egípcios no pós-morte, o motivo das grandes pirâmides, o local onde ficava o corpo, inclusive abordar todo o processo funerário que este povo realizava.
Ao levar esta metodologia para a sala de aula, fazemos com que o aluno desperte o interesse e tenha uma maior facilidade de compreender esta parte da história do Egito, já que, quando ele se depara com imagens, concretiza melhor o conhecimento e sai do censo comum.

Referencias Bibliográficas
ARAÚJO, Emanuel (org.). Escrito para a Eternidade: a literatura no Egito Faraônico. Brasília: Editora da Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa oficial do Estado, 2000.
Base nacional comum curricular, 2ª versão revista. Ministério da Educação, 2016. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/bncc-2versao.revista.pdf >
Burke, Peter. Testemunha ocular: história e imagem / Peter Burke; tradução Vera Maria Xavier dos Santos; revisão técnica Daniel Aarão Reis Filho. – Bauro,SP:EDUSC,2004.
Espaços educativos e ensino de História. Boletim 02, Ministério da educação, 2006. Disponível em: < http://cdnbi.tvescola.org.br/resources/VMSResources/contents/document/publicationsSeries/18493502-EspacosEducativos.pdf >
KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula : conceitos, práticas e propostas - 5.ed. São Paulo : Contexto, 2007.
Knauss, Paulo. O desafio de fazer história com imagens: Arte e cultura visual. João Pessoa, 2005. Disponível em: < http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF12/ArtCultura%2012_knauss.pdf >
 Pedro Paulo Abreu Funari e Renata Senna Garraffoni, História Antiga na Sala de Aula. Campinas, IFCH/UNICAMP, Julho de 2004, Textos Didáticos n. 51.
SILVA,Rita Tatiana. Do cânone à criação: A simbologia usada na representação do Faraó Akhenaton. São Paulo, 2006. Disponível em: < http://livros01.livrosgratis.com.br/ea000416.pdf>

9 comentários:

  1. Boa noite Nathália Machado. A utilização de imagens em sala de aula quando problematizadas da maneira correta é realmente um ótimo recurso de ensino e sem dúvida, os alunos se sentem mais atraídos e interessados pelos conteúdos. Porém não são todos os professores que conseguem dominar essa maneira de expor sua aula e muitas vezes não conseguem problematizar, consequentemente, não usam essas imagens da maneira correta em sala de aula. Para você, existe uma maneira correta de o professor se utilizar dessas imagens em sala de aula?

    Atenciosamente
    Alisson Amaro Fernandes

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    1. Boa tarde Alisson,não acho que exista uma maneira correta para a utilização de imagem, pois mesmo ela sendo levada só para a exemplificação, sem gerar uma problematização, ajuda ao aluno a visualizar aquilo que o professor esta abordando na sala de aula. Existem também alunos que tem memoria fotográfica, e relacionam melhor o conteúdo abordado quando o recurso imagético.

      Nathália Machado Freire de arruda

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  2. Como fazer para que o trabalho com imagens não se torne cansativo.

    Daiany Francielly de Barros Rodrigues

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  3. Uma boa maneira de não tornar este trabalho em sala de aula cansativo, é trabalhar os conceitos, que tumulizamos para analisa-las, com os alunos e propor que durante a aula eles também façam a analisa de imagem, junto com o professor.

    Nathália Machado Freire de Arruda

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  4. Nathalia, boa tarde!

    Sou super a favor de intervenções positivas para o aperfeiçoamento e o cativar das aulas para os alunos. A utilização de imagens é de uma sacada fantástica, ver como era e até mesmo viajar na imaginação é sensacional. Outrossim, a arte egípcia é de grande imponência, respeito e formas de linguagem que podem ser apresentadas a alunos como curiosidades para que aluno perceba a evolução.
    Parabéns pelo excelente material apresentado.
    Obrigado
    Jônatas Fernandes Pereira

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  5. Parabéns pelo trabalho colega!
    É muito relevante o uso de images em todas as áreas de estudo inclusive em História.
    Minha questão seria: Como integrar o uso de imagens e a tecnologia?

    Mais uma vez, parabéns!

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  6. Boa noite Lisley, a tecnologia hoje está cada vez mais presente no nosso cotidiano, acredito que deva existir dinâmicas para serem trabalhadas com os alunos,as quais eu não tenho conhecimento, pois ainda não me aprofundei no assunto. Vou ficar devendo uma explicação mais detalhada.

    Nathalia Machado Freire De Arruda

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  7. Boa noite Lisley, a tecnologia hoje está cada vez mais presente no nosso cotidiano, acredito que deva existir dinâmicas para serem trabalhadas com os alunos,as quais eu não tenho conhecimento, pois ainda não me aprofundei no assunto. Vou ficar devendo uma explicação mais detalhada.

    Nathalia Machado Freire De Arruda

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