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Maytê Vieira

A REPRESENTAÇÃO LATINA EM HOLLYWOOD: QUESTÕES QUE PODEM SER ABORDADAS NO ENSINO DE HISTÓRIA
Maytê R. Vieira
Doutoranda em História UFPR

Certa vez, conversando com uma colega sobre cinema algumas perguntas nos incomodaram: como Hollywood representa o latino em suas produções? Como a televisão norte-americana apresenta o latino? Qual a visão e o imaginário em torno deste povo que constitui uma grande gama de imigrantes nos Estados Unidos que vão em busca do “sonho americano”? Toda esta discussão surgiu de um comentário sobre uma famosa entrevista concedida pelo ator argentino Ricardo Darín ao programa de televisão semanal Animales Sueltos. Um dos assuntos abordados é sua recusa a um convite para atuar em Hollywood [Setembro, 2013]. O que nos chamou atenção foi o motivo alegado:

Ricardo Darín: - Antes de fazer essa cara, me escuta, me deixe argumentar, me ofereceram fazer um narcotraficante mexicano!
Alejandro – E?
Ricardo Darín: - E porque querem que eu faça um narcotraficante mexicano? Então todos os narcotraficantes são latino-americanos? No país que tem o maior consumo da face da Terra? Primeiro, não gostei. [...]

A fala de Darín traz implicações relativas a forma como a América Latina é representada no cinema e na televisão norte-americanos. A capacidade de moldar imaginários que o cinema possui é o que o torna um grande construtor de estereótipos.
A dominação do mercado cinematográfico, principalmente nas Américas, por Hollywood é consequência da forma como o cinema se desenvolveu em seus primeiros momentos como indústria. Antes da 1ª Guerra Mundial os filmes eram, basicamente, originários da França, Itália, Inglaterra, Alemanha e Rússia que possuíam um forte mercado de produção e distribuição. Após a Guerra este domínio passou aos Estados Unidos enquanto a Europa se recuperava. Segundo Mattos (2006), no final 90% de todos os filmes assistidos no mundo, em todos os continentes, eram americanos. Produções de outros países europeus e latino-americanos, continuaram ocorrendo, mas com dificuldade de competitividade pela força dos investimentos feitos pelos estúdios estadunidenses nos mercados internacionais com o intuito de vender e fazer circular seus filmes. Mais recentemente produções latino-americanas, incluindo-se aí as brasileiras, tem se desenvolvido e lutado para ganhar espaço nas salas de cinema multiplex possibilitando um processo de modificações do estereótipo do latino-americano, entretanto ainda há muito a ser percorrido para quebrar definitivamente um imaginário construído durante anos de produções massivas. De acordo com alguns autores os estereótipos latinos (criminosos, empregados, coadjuvantes) se devem a implantação do Código Hays, que não permitia a miscigenação de etnias, portanto, somente os atores estadunidenses poderiam protagonizar ou ter papéis de importância nos filmes. Este código de censura que foi estabelecido em Hollywood dos anos 1930 a 1960 por conta da pressão de religiosos e conservadores, que se escandalizavam com cenas consideradas impróprias: nudez, prostituição, uso de drogas, miscigenação racial, uso de palavras de baixo calão, etc. A censura já se encerrou atualmente, porém, a postura do cinema com a origem de alguns atores permaneceu.
Não somente dos latinos, os indígenas e os africanos, mesmo aqueles estadunidenses também foram sempre deturpados e estereotipados por Hollywood. O autor Robert Stam (2000), um estadunidense que pesquisa sobre cultura e é considerado um profundo conhecedor do cinema brasileiro, em seu livro Introdução à teoria do cinema retrata os vários cinemas ao redor do mundo e sua perspectiva dentro dos Estados Unidos. Ele fala que frequentemente o homem latino é estereotipado como violento, membro de gangue, toureiro ou revolucionário, enquanto a mulher é sempre hipersexualizada. Os mexicanos são comumente retratados nos filmes de faroeste, por exemplo, de forma inversamente proporcional ao anglo americano (termo usado por ele), ou seja, enquanto o primeiro é preguiçoso e desmazelado, o segundo é o forte trabalhador e conquistador, isto no que ele chama de ficção de conquista. “A moralidade é definida pela cor, quanto mais escura pior será a personagem.” (STAM, 2000). Isto revela padrões opressivos de preconceito.
Para Stam (2000) não somente a imagem, mas a forma de filmagem também é fundamental para demonstrar este preconceito, ele sugere que ao analisarmos um filme buscando estas questões que observemos: quanto tempo eles aparecem na cena? Como são filmados? Quanto tempo aparecem em comparação com os euro-americanos? São personagens ativas ou apenas elementos decorativos? Como se posicionam?
Se, por um lado, o cinema é mimese e representação, por outro, é também enunciado, um ato de interlocução contextualizada entre produtores e receptores socialmente localizados. Não basta dizer que a arte é construída. Temos de perguntar: Construída para quem e em conjunção com quais ideologias e discursos? Nesse sentido, a arte é representação não tanto em sentido mimético quanto político, de delegação de voz. (STAM, 2000, p. 305)
Uma outra análise apontada pelo autor é de algo que consideramos de alguma maneira inocente: desenhos animados. Neste contexto específico, os estúdios Disney mostram personagens e lugares latinos, africanos e orientais sob estereótipos totalmente preconceituosos de forma naturalizada o que nos dá um panorama desalentador de como uma minoria que detém o monopólio do poder da imagem vê uma maioria e cria representações sem nenhum pudor sobre ela. Imagem de Zé Carioca, por exemplo, é um clássico nesse sentido.
O latino (aqui referido como os povos de línguas originadas do latim como alguns europeus (espanhóis e italianos) e os da América Latina englobando Américas do Sul e Central e o México), desde as primeiras décadas, é retratado como o bandido, o malandro. Isto é visível nos faroestes que retratam a conquista e expansão de fronteiras nas terras de um povo preguiçoso, pobre e servil sendo coadjuvantes para o heroico cowboy americano. Nos anos 1970 e 1980 o papel passou a ser de mafioso (para os italianos) e narcotraficantes das mais diversas origens: México, Colômbia, Bolívia, etc. Neste ponto, voltamos a fala de Darín que demonstra o quanto esta imagem ainda está posta.
Numa outra frente, temos a questão das mulheres. E evoco como um exemplo primordial Carmem Miranda. A atriz foi convidada para participar de produções cinematográficas nos Estados Unidos durante o período de 1940 a 1945 em que a política externa norte americana estava voltada para conquistar e moldar o restante das Américas através da utilização de atores latino-americanos no cinema hollywoodiano. A ideia era promover a amizade e a troca cultural, porém deixando claro a superioridade dos Estados Unidos sobre o restante. “Ao lado de outros artistas latino-americanos, seu papel era suavizar, naturalizar e disseminar as narrativas interamericanas [...] por meio da comédia, da música, de suas curvas, das piscadelas e do grande sorriso.” (MACEDO, 2013).
Neste contexto, Carmem Miranda representa bem a maneira distorcida como eram apresentadas e representadas as mulheres latinas. Suas roupas precisavam deixar a mostra as pernas, o abdômen, os braços e o busto, suas unhas e boca pintados de vermelho e as roupas tinham uma forte conotação de inspiração nos trajes caribenhos. A baiana da atriz mescla identidades diversas ao mesmo tempo em que as distorce, confundindo e negando as diversas etnias, costumes e culturas que convivem nas Américas do Sul e Central e no México. Além do agravante de mostrar a mulher latina como objeto de desejo e disposta ao sexo fácil, a mulher caliente, como a cubana Estelita Rodriguez que atuou na década de 1950 e era chamada de Cuban fireball(bola de fogo cubana). A representação e a apresentação delas induz à ideia de que as mulheres latinas são somente para desfrutar.
Neste período propagou-se e consolidou-se a imagem da América Latina como o paraíso para as férias dos estadunidenses com suas praias, belezas naturais, mulheres permissivas e homens servis, onde seu dinheiro compra tudo por tratar-se de lugares pobres e subdesenvolvidos. Mesmo com toda a evolução das últimas décadas ainda há muito que mudar nesta visão que compartimenta conhecimentos, que não vê os verdadeiros sujeitos sociais, que contempla o outro somente de acordo com seu desejo. É a cultura de que o homem branco, civilizado, racional é aquele que vem da Europa (ainda assim, partes dela) e dos Estados Unidos da América.
Mais recentemente as mudanças, bem vindas, tem sido por conta das produções e inserções da América Latina no cenário dos Estados Unidos e da Europa. Vários filmes de qualidade inquestionável tem tido visibilidade, assim como diretores e atores latinos, tem ganho cada vez mais espaço. A qualidade e a capacidade do cinema latino-americano tem crescido cada vez mais conquistando o público e competindo no e com o mercado internacional, esperemos que este desenvolvimento faça com que avance cada vez mais a desconstrução dos estereótipos. Prova disto, são os excelentes diretores e atores latinos que tomado cada vez mais espaço, além de cinemas nacionais que tem se destacado pelo mundo afora, como é o caso do Novo Cinema Argentino, nas palavras de Fernando Mascarello (2008) que tenta ter no cinema uma forma de reflexão, de catarse, mostrando conflitos pessoais e do indivíduo, algumas vezes de um realismo desconcertante ao nos fazer encarar um mundo ao qual temos que nos adaptar.
A intenção desta breve exposição era deixar em aberto as questões para discussão e aprofundamento, com este intuito seguem abaixo algumas sugestões de alguns links para leitura e filmes e séries para serem assistidas usando os critérios de análise sugeridos por Stam (2000). Espero que rendam boas observações e debates futuros.

Alguns sites
Mesmo se tratando de publicações não científicas, os artigos fazem um bom apanhado geral sobre o assunto e servem como exemplos de filmes a serem analisados:

Sugestão de Filmes: (títulos em português)
A máscara do Zorro (1920, 1940, 1974 e 1998) (todos disponíveis na internet)
Meu amor brasileiro (1953) (Latin lovers)
Sete homens e um destino (1960)
Boulevard night (1979)
Amores brutos (2000)
Frida (2002)
O labirinto do fauno (2006)
O segredo dos seus olhos (2009)
No (2012)
Gravidade (2013)
Relatos Selvagens (2014)
Birdman (2014)
Narco (2015) – série original da e disponível na Netflix

Bibliografia de apoio:
BALIEIRO, F. F. Carmem Miranda entre desejos de duas nações: uma análise de suas personagens baiana e latino-americanas no cinema. In: Anais do XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais, Salvador, 2011.
BAPTISTA, M; MASCARELLO, F. (orgs). Cinema mundial contemporâneo. Campinas, SP: Papirus, 2008.
GUSMÃO, N. M. M. Linguagem, cultura e alteridade: imagens do outro. In: Cadernos de Pesquisa, nº 107, p. 41-78, julho/1999.
LIPOVETSKY, G. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Porto Alegre: Sulina, 2009.
MACEDO, K. B. Formas de desrespeito na representação latino-americana de Hollywood, através de Carmem Miranda (1940-1945). In: Anais eletrônicos do Seminário Internacional Fazendo Genêro 10 – Desafios atuais dos feminismos, Florianópolis, 2013.
MATTOS, A. C. G. Do cinetoscópio ao cinema digital: breve história do cinema americano. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
MASCARELLO, F.; BAPTISTA, M. (orgs.). Cinema mundial contemporâneo. Campinas, SP: Papirus, 2008.
PAIVA, C. C. O cinema de Hollywood e a invenção da América. Mídias e interculturalidades locais e globais. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/paiva-claudio-hollywood-invencao-america.pdfAcesso em: 25 jun. 2015.
STAM, R. Introdução à teoria do cinema. Campinas, SP: Papirus, 2003.

12 comentários:

  1. Cara Mayte,
    Vejo a sua proposta de argumento como algo necessário também para ser discutido sobre o cinema e a televisão – e a cultura popular de maneira geral – na produção brasileira. Veja você que no Brasil também reforçam-se os estereótipos de latinos, como se nós não o fossemos. Prova disso é a indumentária de cantores como Sidney Magal e do próprio “Latino”. As música de Sidney Magal também trazem esse estereótipo do latino violento: “Se te agarro com outro te mato, te mando algumas flores e depois escapo!”
    E por falar em indumentária, a indumentária de Carmem Miranda foi inspirada em Cuba. Veja que no contexto no qual o Brasil é “descoberto” por Hollywood, década de 40, Cuba era considerada o quintal dos Estados Unidos, com os cassinos abertos ao jogo, música, bebida e sexo, para os turistas americanos. Se repararmos veremo inclusive a adoção de instrumentos como as maracas nas aparições de Carmem Miranda no cinema americano. Carmem Miranda, portuguesa de nascimento era uma figura que apesar de representar o exótico, trazia um certo conforto pela sua pele branca e os traços europeus. Além disso, ajudou a promover a imagem do Brasil no exterior, e temos que nos perguntar até que ponto ela não representaria o sucesso do projeto branqueador: ao encenar a baiana ou a sambista, em geral negras ou mulatas.
    Por último, à sua lista de leituras, eu acrescentaria: Stevens, Donald (ed.), Based on a true story: Latin American history at the films. Lanham, LR books

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    1. Obrigada pelas dicas Elaine! E sim, a questão da imagem criada para o latino nos filmes e músicas é bem densa e poderíamos discutir por inúmeras perspectivas, esta foi exatamente a ideia do texto, fomentar o debate deixando abertas as possibilidades de análise desta imagem construída para os latinos.

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  2. Outro problema que vejo na representação não só latina, mais também de forma geral é o chamado Whitewashing. Casos como acontecido em 2016 onde por exemplo atores que deveriam ser egípcios (ou negros) estão longe de ser encontrados em Gods of Egypt, do diretor Alex Proyas (2016). Em vez disso, os deuses titulares são principalmente interpretados por atores e atrizes brancas. Onde com toda certeza nenhum deus egípcio era branco.
    Isso mostra que o próprio ecossistema hollywoodiano é “xenofóbico ”? E que se não fosse a própria relação publica tentando quebrar esse paradigma, ainda teríamos um cinema branco?
    Ainda antes (só voltando a poucas décadas 80 ou 90) as histórias e temas eram retratados como essa divisão: Núcleo Branco, núcleo latino, núcleo negro; dentro de filmes e series de televisão. Seria uma interpretação do próprio pensamento americano? E mais mesmo nessa divisão os latinos são colocados ainda mais em baixo, como na maioria das vezes imigrantes ilegais e ou apenas subalternos.

    Sergio Ricardo Pererira do Nascimento

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    1. Olá Sérgio, suas questões são extremamente pertinentes e há sim, inúmeras outras perspectivas que a permeiam. Esta representação de personagens negros por atores brancos é um problema de longa data. Vem desde os filmes mais antigos. Sua fala me lembrou de uma velha discussão sobre a Cleópatra representada por Elizabeth Taylor: branca, de olhos verdes. Quanto a este branqueamento, eu vejo por dois prismas: o identitário (você precisa representar de forma que os espectadores, no caso do cinema estadunidense, se identifiquem) e o dos códigos de censura do início do cinema, como o Código Hays, que menciono no texto, que acabou por permear as produções até a atualidade. Ele gerou estas discriminações que se perpetuam.

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  3. Olá Maitê,

    Sua discussão, tão frutífera, é facilmente transportada para outros públicos/objetos. Através do documentário 'Filmes Ruins, Árabes Malvados: como Hollywood vilificou um povo' (Jeremy Earp; Sut Jhally, 2007), é possível observar o mesmo modelo de construção de estereótipos, no caso, acerca dos povos do Oriente Médio. Quanto aos povos latinos, são inúmeros os filmes, como bem sabes, que caminham nesse mesmo contexto. Considerando suas possibilidades e interesses, que tal o desenvolvimento de um documentário, talvez com o mesmo estilo daquele acima citado? Seria de extrema valia para as discussões no cotidiano escolar, para nós professores e professoras da educação básica.

    Maicon Roberto Poli de Aguiar.

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    1. Boa noite Maicon, antes de mais nada, desculpe a demora na resposta. De fato, não são somente os latinos que são estereotipados, inclusive há alguns anos já está em uso esta construção do vilão como o povo árabe, o inimigo número 01 do "Ocidente". Há sempre que se ter um outro para culpar ou para estigmatizar para vender a imagem do "american way of life". Quanto ao documentário seria sim, uma excelente ideia, talvez uma ação conjunta? Obrigada pelas considerações.

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    2. Oi Maytê. Gostaria muito de desenvolver esse projeto. Imagino que tanto quanto eu, deves ter uma agenda cheia. Pensei então em irmos dialogando sobre essa ideia, coletando os materiais e construindo aos poucos. Pode ser? Segue meu e-mail: maicon_poly@yahoo.com.br

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  4. Boa tarde, Maytê.

    O seu texto é muito significativo para o assunto. Não sabia da existência do Código de Hays para limitar a participação de latino-americanos e miscigenados como protagonistas de filmes. É uma informação de peso para que estuda o período. Muito interesaante.

    As relações entre os Estados Unidos e a América Latina são resultado de um processo de construção que remete à formação da nação norte-americana e sua estabilização política e econômica. Desde essa época foram estruturados padrões de comportamento que passaram a definir suas relações internacionais dos Estados Unidos, muitos dos quais se mantém até os dias atuais. Desde os Founding Fathers, Destino Manifesto, Mito da Fronteira, Doutrina Monroe, Big Stick...

    Nesse processo, foi sendo construída a identidade estadunidense e, como toda construção de identidade, há a supervalorização da própria e uma critica à negatividade do outro, ou seja, uma América Latina como mercado consumidor, pobre, primitiva, culturalmente homogênea com governantes corruptos, ditadores. Estas características legitimavam, inclusive, intervenções militares ou culturais.

    Rockfeller, falecido há pouquíssimo tempo, foi figura importante neste contexto, financiando e chefiando o OCIAA na área cinematográfica. Ele acabou tomando a América Latina como seu próprio Destino Manifesto a partir de filmes, desenhos, documentários, entre outros que positivavam o “modo de vida americano”.

    Minha questão é: até que ponto nós assumimos e naturalizamos as caracterizações estereotipadas vindas de fora? Compreendemo-nos latinoamericanos a partir da perspectiva estadunidense?

    Heraldo Márcio Galvão Júnior

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    1. Boa noite Heraldo, gostaria de me desculpar pela demora na resposta e agradecer seus apontamentos e considerações muito pertinentes e interessantes. Concordo com você, falava disto em outro comentário, a negação ou negativação da alteridade é parte da legitimação do "american way of life", que também não é acessível a todos. Esta construção é excludente até mesmo dentro da sociedade estadunidense, até mesmo entre seus cidadãos. Respondendo sua pergunta: eu acredito que sim, de uma maneira geral este estereótipo cultural foi tão bem construído e transmitido em séries, filmes, etc. que em alguns casos vemos a nós mesmos, os latinos, por este prisma.

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  5. Marcos Vinicius R. Lopes7 de abril de 2017 às 03:37

    Olá, Maytê! Tenho acompanhado a série Narcos, sugerida no final do texto e é perceptível a forma negativa como os latinos são representados. A população é extremamente pobre, a polícia corrupta e, o que mais me chamou a atenção, a mulher brasileira é hipersexualizada (em um episódio o Pablo leva prostitutas brasileiras para o laboratório de drogas atribuindo às brasileiras o título de "maior bunda do planeta"). Alias, caso parecido com o do ator argentino citado no texto é o do Wagner Moura, que interpreta o Pablo Escobar. É interessante como o problema das drogas e do narcotráfico é representado como um problema essencialmente latino que "ataca" os EUA com seus produtos nefastos. E, paralelamente, os norte americanos surgem como os heróis que lutam contra o narcotráfico representados na figura dos agentes do DEA ao mesmo tempo que, por exemplo, o papel de Pinochet no combate às drogas é distorcido e minimizado. Por sorte, sabemos que, quando se trata de representação, o produto (filme, programa de tv, música, etc.) diz pouco ou quase nada sobre o objeto representado e diz muito sobre quem produz e sobre a época em que é produzido a representação. Nesse sentido, minha questão é a seguinte: Como aproveitar esse tipo de material no ensino de História? Ainda que problematizado, quais são os limites impostos à análise das sociedades latinas através desse tipo de material, se é que tal análise é possível? E, por último, seria pertinente dizer que as produções de Hollywood podem ser utilizadas para analisar os modos de pensar, de agir e de sentir da sociedade estadunidense, numa perspetiva da história das mentalidades?
    Marcos Vinicius R. Lopes

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  6. Boa tarde Maytê. Parabéns pelo texto e pela bela e pertinente reflexão sobre as representações latinas nos cinemas estadounidenses. Penso que as análises sobre a construção das representações sociais podem de fato auxiliar bastante na reflexão não apenas sobre o período ou objeto representado mas também acerca dos limites e possibilidades do uso das narrativas audiovisuais e o estudo da História. Dito isso, gostaria de saber qual a sua opinião acerca da possibilidade de interpretação dos conceitos estéticos do cinema enquanto produto artístico para se pensar também as intencionalidades de produção dos filmes bem como do período em que os mesmos são produzidos.
    Renata Carvalho Silva.

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