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Maurício José Adam

PEDAGOGIA HISTÓRICO CRÍTICA E EDUCAÇÃO HISTÓRICA: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE HISTÓRIA NAS ETAPAS 7,8 E 9 DO EJA
Maurício José Adam
Mestre em Ensino de História/UFSM

Introdução
Para saber pensar e sentir; para saber querer, agir ou avaliar é preciso aprender, o que implica o trabalho educativo. Assim, o saber que diretamente interessa à educação é aquele que emerge como resultado do processo de aprendizagem, como resultado do trabalho educativo. Entretanto, para chegar a esse resultado a educação tem que partir, tem que tomar como referência, como matéria-prima de sua atividade, o saber objetivo produzido historicamente. (SAVIANI, 2013, p. 7).
O saber objetivo, escolar, conforme descrito por Saviani anteriormente, é o saber que os estudantes jovens e adultos vem buscar quando retornam as cadeiras da escola após um período de afastamento ou de reprovações.  Esse acesso é garantido por lei, e a qualificação desse serviço prestado a comunidade aparece como ponto essencial deste texto. Partindo do pressuposto que a qualidade do processo ensino-aprendizagem está diretamente ligada a qualidade do professor, o presente trabalho busca, a partir da coleta de informações com os estudantes, propor uma oficina para qualificação de professores de história que trabalham com jovens e adultos tendo como bases a Pedagogia Histórico-Crítica e a Educação Histórica.
Desde 1996, a lei nº. 9.394 de dezembro do mesmo ano, define em seu Art. 4º, inciso IV como dever do Estado garantir acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os que não os concluíram na idade própria”.

A coleta de dados e o desenvolvimento
A instituição utilizada como base para coleta de informações é uma escola pública estadual localizada no município de Santa Cruz do Sul, na qual foram observadas a realidade de 6 turmas de EJA das etapas 7,8 e 9. Este texto, resulta da pesquisa orientada pela seguinte questão: Quais as possíveis contribuições da Educação Histórica e da Pedagogia Histórico-crítica na promoção de estudantes preparados para o mercado de trabalho e conscientes de sua postura cidadã?
Para construção dessa análise foram utilizadas informações concedidas pelos próprios estudantes acerca de seu aprendizado histórico. A pesquisa se justifica pela sua intencionalidade de identificar os problemas no processo ensino-aprendizagem da disciplina de História nessa modalidade de ensino e as possibilidades de desenvolvimento de estratégias que possam qualificar este ensino nas etapas estudadas. Para qualificar o ensino, uma oficina de professores é desenvolvida. Para isso relacionam-se além das informações advindas das entrevistas e dos documentos públicos, conceitos atribuídos e descritos nas concepções teóricas da Educação Histórica e da Pedagogia Histórico-Crítica como base bibliográfica.
O trabalho pressupõe que há a necessidade de conhecer a comunidade escolar, qualificar o professor, oportunizar momentos de reflexão teórica sobre sua prática, e devolvê-lo a sala de aula já empossado de uma visão.
Quanto a base teórica, para Saviani:
Numa síntese bastante apertada pode-se considerar que a pedagogia histórico-crítica é tributária da concepção dialética, especificamente na versão do materialismo histórico, tendo fortes afinidades, no que se refere as suas bases psicológicas, com a psicologia histórico-cultural desenvolvida pela Escola de Vigotski. A educação é entendida como o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Em outros termos, isso significa que a educação é entendida como mediação no seio da prática social global. (SAVIANI, 2011, p. 421-422).
Quanto a contribuição de Rüsen
A categoria básica para a compreensão da aprendizagem histórica é a consciência histórica. A sua definição mais ampla ressoa como se segue: a atividade mental de interpretação do passado para compreender o presente e esperar o futuro. Assim, combina o passado, presente e futuro de acordo com a ideia sobre o que trata a mudança temporal. Sintetiza as experiências do passado com os critérios de sentido que são eficazes na vida prática contemporânea e nas perspectivas de orientação para o futuro. (RÜSEN, 2015, p. 23).
Visando transpor o simples discurso teórico e abordar a possibilidade de discutir as próprias práticas entre os professores toma-se a conceituação de oficina apontada por Betancourt (2007), em El taller educativo:¿Que és? fundamentos, cómo organizarlo y dirigirlo como evaluarlo como referência
El taller, en lenguaje corriente, es el lugar donde hace, se construye o se repara algo. Así, se habla de taller de mecânica, taller de carpintaria, taller de reparación de electrodomésticos, etc. Desde hace algunos años la practica ha perfeccionado el concepto de taller, extendiéndolo a la educación. La idea de ser um lugar donde varias personas trabajam cooperativamente para hacer o reparar algo, lugar donde se aprende haciendo junto a todos; há motivado la búsqueda de métodos activos em la enseñanza. (BETANCOURT, 2007, p. 11).
De forma sucinta, a oficina ampara-se em um momento de discussão teórica, em um momento de conhecimento da realidade do professor baseado em três questões problematizadoras (Quem eu sou como professor? Onde estou trabalhando como professor? Quando estou trabalhando como professor?) e por fim um fechamento sistematizado em forma de texto sobre a historicidade da realidade do professor.  
Utilizando-se de um raciocínio similar a Educação Histórica e a Pedagogia Histórico-Crítica podem contribuir com a promoção de cidadãos conscientes de sua postura na sociedade, mais preparados para o mercado de trabalho (conforme a legislação brasileira deseja), mas também cientes da realidade histórica que os trouxe até o presente.

Referências
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BARCA, Isabel. Ideias chave para a educação histórica: uma busca de (inter) identidades. Hist. R., Goiânia, v. 17, n. 1, p. 37-51, 2012.
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5 comentários:

  1. Maurício, gostaria que você explicasse melhor a afirmação "Partindo do pressuposto que a qualidade do processo ensino-aprendizagem está diretamente ligada a qualidade do professor". A partir de quais pressupostos teóricos você se baseia em tal afirmação? Bruna Aparecida Gomes Coelho

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  2. Oi Bruna! Obrigado pela questão! Quando utilizo esse ponto de partida e utilizo o termo " pressuposto", é no sentido de acreditar que a qualificação e o estudo constante do professor será capaz de torná-lo mais capaz de trabalhar com a diversidade presente no ambiente da modalidade EJA, isso porque um ensino de qualidade possui influência da qualificação do profissional que conduz e norteia o processo. Essa influência pode ser tanto positiva quanto negativa. Att Mauricio

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  3. Oi Bruna! Obrigado pela questão! Quando utilizo esse ponto de partida e utilizo o termo "pressuposto, é no sentido de acreditar que a qualificação e o estudo constante do professor será capaz de torná-lo mais capacitado a trabalhar com a diversidade presente na modalidade EJA, isso porque um ensino de qualidade possui influência da qualificação do profissional que conduz e norteia o processo. Essa influencia pode ser tanto positiva quanto negativa. Att Mauricio.

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  4. Oi, Maurício!

    Me incomodei com algumas coisas ao ler teu texto. Dizem que é bom, pois o que nos incomoda, nos movimenta. Vamos lá!
    - Utilizastes "O EJA". Estamos falando DA EDUCAÇAO de Jovens e Adultos, portanto, entende-se que deva ser usada A EJA;
    - Escreves de uma EJA que prepare para o mercado de trabalho e que ao mesmo tempo permita que seus estudantes sejam conscientes de sua postura cidadã: Fico pensando: Estás falando de uma EJA de Ensino Fundamental, certo? (penso que essa informação é importante constar, pois nem todos os leitores tem conhecimento destes códigos T6, T7, T8..., que inclusive podem ser diferentes, de acordo com a rede de ensino). Será que é realmente papel da escola a formação para o mercado de trabalho? Nós educadores devemos assumir também esta responsabilidade? Para pensar!


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  5. Mais uma coisa: O texto está publicado na íntegra nesta página? Pergunto pois não constam os resultados... carece de dados no desenvolvimento, não há informações sobre os resultados das oficinas... e a lista das referências é mais extensa que o próprio texto, sendo que a maior parte dos autores não foi nem citada, tampouco discutida no breve texto.

    Daniela Maria Weber

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