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Maria Larisse

A IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA
Maria Larisse Elias da Silva
UFCG

O ensino de História atualmente vem sendo alvo principal de reformas que desvinculam do próprio ensino a historicidade que o arcabouço historiográfico requer. Primeiro a propostas eram de organizar a disciplina em temáticas de acordo com as séries, agora a proposta é abolir de forma indireta o referido ensino. Dessa forma, nos vemos diante da dificuldade de trabalhar no ensino de História a identificação do sujeito com o seu meio social. De acordo com (CARRANO, 2013, p. 191), os jovens instituem lutas simbólicas através dos compromissos cotidianos que assumem com determinado processo de identização coletiva, este devendo ser considerado como algo que existe no contexto de práticas permanentes e mutantes de definição das identidades coletivas. Logo, nos apoiaremos numa metodologia problematizadora dessas perspectivas para o ensino de História. Assim, propomos como objetivo desde trabalho, refletir sobre as possíveis abordagens que o ensino de História pode fazer uso, levando em consideração a identificação do sujeito com seu meio social para que ele possa pensar os parâmetros históricos que estão em seu cotidiano como representação de sua história.
Atualmente o ensino de História visita diversos campos dos saberes, dialogando com outras áreas, como a exemplo antropologia, geografia, sociologia, no entanto, percebemos que ainda existem dificuldades quando ele precisa lidar com o campo das culturas juvenis. Segundo (PAIS, 1996; FORQUIN, 1993), isso se dá por que a diversidade existente no campo das culturas que os jovens carregam acaba se distanciando da cultura escolar, e, diante disso, acaba criando uma crise na educação escolar e consequentemente no ensino. Essa crise vai ser fomentada pela carência que a escola tem de propor ações que aproximem a cultura escolar das culturas dos alunos. A carência que produz essa crise é decorrente de diversos fatores que limitam essa aproximação, como a exemplo a falta de uma estrutura física adequada no seio escolar; a falta de identificação dos sujeitos que trabalham na escola, sejam eles professores, zeladores, coordenadores, com o próprio espaço em questão. Todos esses fatores acabam refletindo nesse processo de identificação do sujeito com o ensino, pois, tendo em vista que a partir do momento em que o professor não se identifica com o espaço escolar, seja pelas condições de trabalho que lhes são impostas ou outros fatores decorrentes do ambiente e das relações que nele permeiam; entendemos que tudo isso será refletido no momento em que ele for abordar uma metodologia no seu plano de aula. Assim como também a estrutura em que a escola se encontra fisicamente influencia no processo de ensino-aprendizagem, pois se o aluno está em uma sala que as saídas de ar são limitadas, a acústica da sala é de baixa qualidade, as cadeiras são desconfortáveis, tudo isso afeta esse processo.
Diante dessa realidade, compreendemos que para ensinar é preciso conhecer a realidade do aluno. Não tem como obtermos êxito no processo de ensino-aprendizagem se não conhecemos o sujeito, pois, temos em vista que o processo metodológico de ensino-aprendizagem se baseia numa construção de métodos que recebe contribuições do aluno e do professor. É necessário ressaltarmos que, esse processo é como um tripé, tendo como base o conhecimento e como guiadores desse conhecimento o aluno e o professor. A relação de aprendizagem é recíproca quando entendemos que para que o professor possa ensinar, primeiro ele precisa saber de determinado conhecimento e quando ele transmite esse conhecimento para o aluno e o referido lhe devolve o conhecimento em forma de uma nova pergunta, o professor precisa sair da zona do conhecimento que já está e refletir, procurar entender métodos que possam auxiliá-lo na maneira de responder determinado questionamento. Esse processo desmistifica a ideia de que o professor é o detentor do conhecimento, pois ao percebermos ele dentro desse processo, vislumbramos um sujeito que também aprende com seus alunos.
Visto isso, acreditamos que para provocar uma mobilização intelectual daquele que aprende, primeiro é necessário que façamos uso de metodologias que aproximem o sujeito de sua realidade. Na era contemporânea, segundo (CAIMI, 2015, p. 107) é necessário perceber a História-Conhecimento como um saber que nos proporciona a reflexão e justificação para o tempo presente, ou, como ensina (RÜSEN, 2001), para conhecermos a nós e aos outros, explicar o mundo, nos orientar na vida prática cotidiana e enfrentar as suas contingências. Assim, incorporar nas metodologias que compõem o currículo escolar novos temas que abordem o conteúdo a ser trabalhado de maneira próxima ao meio social do aluno, a exemplo quando o tema é patrimônio histórico; a metodologia a ser abordada na aula deve estar diretamente relacionada com a cidade aonde o aluno reside, pois entendemos que por meio da aproximação do aluno com o objeto de conhecimento, ocorra a identificação no qual facilitará o processo de ensino-aprendizagem. De acordo com (ROLIM, 2010, p. 25), a partir da educação patrimonial podemos promover um trabalho com a história local e a valorização de suas identidades. Esse é somente uma das várias abordagens que podemos fazer uso quando formos colocar em prática esse processo de ensino-aprendizagem baseado na identificação com sujeito.
Concluímos compreendendo que um dos caminhos possíveis rumo a esses novos métodos de ensino está diretamente relacionado com a percepção das culturas juvenis presentes no espaço escolar. De fato essas culturas são muitas, pois cada aluno que frequenta esse espaço está carregado de conhecimentos sócio-culturais que os levam a perceber o ensino de maneira diferente. E, sabemos também que não é possível, por parte do professor, conhecer a singularidade de cada aluno e fazer uso de métodos específicos para cada um, no entanto, partilhamos da perspectiva que só a partir de um conhecimento (mesmo que básico) do lugar social do aluno é que poderemos pensar em novas abordagens metodológicas que impulsionem o ensino. Pois, a partir daí teremos uma breve noção das limitações que o aluno possui e onde devemos dar mais atenção para que possamos minimizar as dificuldades de ensino-aprendizagem. Destarte, a identificação do sujeito com o objeto de conhecimento é uma ferramenta crucial para o enriquecimento individual e coletivo. E, por fim, a incorporação de metodologias que se aproximem do ofício do historiador, como o uso de análises documentais no campo pedagógico, no qual podem proporcionar um protagonismo dos estudantes tanto no processo de aprendizagem do conteúdo, como também uma aproximação ao campo da História.

Referências Bibliográficas
CARRANO, Paulo. Identidades culturais juvenis e escolas: arenas de conflitos e possibilidades. In: MOREIRA, Antonio Flávio. Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Editora Vozes Limitada, 2012.
PAIS, J. M. Culturas Juvenis. Lisboa: Imprensa Nacional, 1996.
FORQUIN, J. C. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
RÜSEN, J. A Razão histórica. Teoria da História: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Ed. UnB, 2001.
ROLIM, Eliana de Souza et al. Patrimônio Arquitetônico de Cajazeiras-PB: memória, políticas públicas e educação patrimonial. 2010, p. 25.
CAIMI, Flávia Eloísa. O que precisa saber um professor de história?.História & Ensino, v. 21, n. 2, p. 105-124, 2016.



5 comentários:

  1. Realmente um excelente texto!
    Prezada Maria Larisse, na sua opinião é possível ensinar História mais na questão da prática para o sujeito, de forma que ele possa levar esse conhecimento adquirido durante sua vida e aplicá-lo no seu cotidiano? Assinado: Elizama Franciane da Costa

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    1. Olá, Elizama!

      Primeiramente gostaria de agradecê-la pela atenção à temática. Então, parto da perspectiva de que, para que o aluno compreenda de maneira mais próxima de seu cotidiano determinado conteúdo, é importante que passemos a dialogar com o espaço em que este sujeito está inserido. Dessa forma, ao proporcionarmos essa assimilação do conteúdo a ser ministrado com a vida do aluno, apostamos num processo de identificação que é uma ferramenta primordial dentro do processo ensino-aprendizagem.

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  2. Ótimo texto.segundo o texto,sobre o processo de identificação do sujeito com o ensino. Na sua opinião, como poderia ser melhorado esse processo? Jaqueline Cardoso Paiva

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