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Leandro Mayer

FUNDAMENTOS DO ENSINO DE HISTÓRIA EM ESCOLAS PÚBLICAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA
Leandro Mayer
Doutorando em História pela UPF
Bolsista FUPF

O objetivo deste trabalho é discorrer sobre as diretrizes que norteiam o currículo na Educação Básica no Estado de Santa Catarina. São elas: Proposta Curricular de Santa Catarina (1998); Diretrizes 3: organização da prática escolar na educação básica: conceitos científicos essenciais, competências e habilidades (2001); Documento base de orientação pedagógica/administrativa da educação básica e profissional (2005) e a Atualização da Proposta Curricular de Santa Catarina (2014). Para facilitar a compreensão, estas abordagens ocorrerão em ordem cronológica.
A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998), nos fundamentos teórico-metodológicos do ensino de História, traz considerações sobre a concepção norteadora da prática do ensino de História na educação básica, evidenciando a necessidade de
superar o ensino de História enquanto simples repasse de informações, entendemos que o conhecimento histórico é uma construção de vários sujeitos. Há que se buscar, através de projetos de pesquisa, uma melhor compreensão do cotidiano das pessoas, possibilitando-lhes a capacidade de se compreenderem enquanto sujeitos da sua história (SANTA CATARINA, 1998, p. 140).
Neste sentido, conclama ao professor historiador quanto à necessidade da elaboração e aplicação de projetos de pesquisa e para a abertura de novas abordagens que possibilitem ao aluno uma melhor compreensão do cotidiano das pessoas enquanto sujeitos e protagonistas da sua história, viabilizando a “a interpenetração de conteúdo/forma entre as relações estabelecidas no cotidiano da Escola e o conhecimento produzido universalmente” (SANTA CATARINA, 1998, p. 140).
As relações sociais, são consideradas pela Proposta Curricular como centrais para o estudo da História. Lê-se que “deve-se trabalhar a maneira como o homem se organiza e se relaciona nas diferentes épocas e espaços, de modo a introduzir nesta noção as dimensões de classes sociais, papéis sociais e os conflitos decorrentes de interesses antagônicos na sociedade” (SANTA CATARINA, 1998, p. 141).
Seus fundamentos teórico-metodológicos evidenciam também considerações relevantes quanto à memória e identidade, enfatizando que
a memória é um atributo pessoal e absoluto. Ela indica como o homem se relaciona com o passado e quais os elementos significativos deste passado. Ela indica níveis de comparação, seleção de valores, hierarquia de acontecimentos da vida humana. A história relaciona-se com as memórias produzidas coletivamente, ou seja, o que determinadas sociedades guardaram como referências do passado (SANTA CATARINA, 1998, p. 142).
Neste sentido, “a memória é um elemento na recuperação histórica. Esta dimensão permite encontrar a subjetividade do indivíduo que fala do presente sobre o passado” (SANTA CATARINA, 1998, p. 142). As pessoas se identificam em uma história mais próxima; se sentem parte do processo histórico como sujeitos históricos e protagonistas.
A Proposta Curricular ainda atenta para a necessidade de diálogo entre as diferentes fontes históricas, fazendo do ensino de História um processo de produção de novos saberes. Sobre o ensino de história,
não se pode entender o ensino como mera transmissão de conhecimento. Faz-se necessário o diálogo com a historiografia especializada, com os documentos históricos orais ou referentes à cultura material, fazendo do ensino de História um processo ativo de produção de novos "saberes" e não apenas a vulgarização ou difusão de saberes já consagrados. Para que os alunos se apropriem do conhecimento a produção deve ser estimulada, através da formulação de hipóteses que deverão ser tratadas pela pesquisa e análise do material coletado (SANTA CATARINA, 1998, p. 143).
Já em relação aos conteúdos programáticos para o ensino de história, a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998) enaltece quanto à necessidade do professor historiador propiciar experiências na elaboração de histórias de vida dos estudantes, tendo por base a sua relação com os espaços vividos no cotidiano, como a escola, rua, casa, bairro, cidade, Estado. Além disso, considera “estimular a criança a recuperar o passado familiar para o entendimento das diferenças e semelhanças entre o presente e o passado [...] espera-se do profissional do Magistério que ele desenvolva conhecimentos sobre o lugar, a cidade e o Estado” (SANTA CATARINA, 1998, p. 144).
Nas Competências e Habilidades das diretrizes da organização da prática escolar na Educação Básica de Santa Catarina de 2001, lemos que
enquanto prática pedagógica, o Ensino de História permite ampliar estudos sobre as questões contemporâneas, situando-as nas diversas temporalidades vinculadas às questões sociais, possibilitando mudanças ou continuidades; numa dimensão presente-passado-presente (SANTA CATARINA, 2001, p. 73).
Neste sentido,
a História entende o homem como ser social, singular, em constante formação e transformação construindo-se no respeito às diversidades histórico-culturais. Necessitando, para ampliar seu espaço, desenvolver e dominar competências por meio de aprendizagens significativas, permitindo apropriar-se de conceitos constantemente reelaborados, possibilitando situar-se no mundo, sendo sujeito da sua própria história (SANTA CATARINA, 2001, p. 73).
Entende-se o conhecimento histórico como uma construção que engloba vários sujeitos, “permitindo uma prática educativa que vincule o conhecimento teórico e as questões da vida real, do cotidiano, ampliando a compreensão de sujeito histórico” (Santa Catarina, 2001, p. 73). Ainda, de acordo com o documento, a história como ciência social,
é um referencial crítico para o reencontro da integridade do humano, no vivido. Esta integridade necessita romper com os sentidos instrumental e funcional da educação para constituir-se na formulação de preposições na direção da liberdade de pensar, agir, criar, escolher, para que o aluno consiga compreender seu cotidiano e intervir consistentemente nele. A historicidade do ser humano, além da integração cultural, abrange a construção de competências e habilidades cognitivas e atitudinais, para que possam ser sujeitos da construção histórica (Santa Catarina, 2001, p. 73).
Neste contexto, o ser humano sujeito da história deve “situar-se como agente construtor da história, numa sociedade em constante transformação, relacionando presente – passado – presente, numa perspectiva local – global – local” (Santa Catarina, 2001, p. 76). Incorporar e aplicar práticas de investigação no cotidiano do aluno, fazendo com que se identifique com a história, o faz se sentir mais próximo dela.
A Atualização da Proposta Curricular de Santa Catarina de 2014, caracteriza a área das ciências humanas como aquela contemplada por “componentes curriculares como: História, Geografia, Sociologia, Filosofia, Ensino Religioso, interligados com as demais áreas de conhecimento e, considerando as questões da diversidade, contribuem para a formação integral da pessoa” (SANTA CATARINA, 2014, p. 139). Neste sentido, o documento afirma que as “Ciências Humanas agregam e sintetizam uma série de saberes e fazeres elaborados de forma coletiva por seus componentes curriculares e as demais áreas do conhecimento, a fim de potencializar as possibilidades de ação do sujeito no mundo” (SANTA CATARINA, 2014, p. 140).
O documento atenta quanto ao planejamento das atividades de aprendizagem pelos docentes, de modo que
no planejamento e na elaboração das atividades de aprendizagem, é significativo que o docente consiga estabelecer, pela problematização, a conexão dos conteúdos curriculares a serem apropriados com a vida real dos estudantes de forma desafiadora, de modo a motivá-los para a aprendizagem (LEONTIEV, apud SANTA CATARINA, 2014, p. 140).
Neste sentido, o que se defende é que “[...] a partir das experiências e das vivências dos sujeitos da aprendizagem que se organizam as atividades que desenvolvem a conscientização histórica” (SANTA CATARINA, 2014, p. 146). Para tanto,
é importante que a ação educativa da História seja colocada à disposição dos estudantes para auxiliar a compreender suas próprias vivências. É significativo que atividades ofereçam condições de aprendizagem dos sujeitos e instrumentos que desenvolvam os conceitos a partir das suas próprias percepções com a complexificação dos recursos de textos e documentos históricos que possam auxiliar nos trabalhos de compreensão (Santa Catarina, 2014, p. 146).
Ocorre assim, de acordo com o documento, o desenvolvimento e problematização de um trabalho de pesquisa historiográfico, onde:
O desenvolvimento de um trabalho de pesquisa, problematizado a partir da experiência cotidiana do sujeito inserido em seu contexto histórico, utilizando-se das metodologias da História Oral, por exemplo, aproxima de forma significativa o sujeito da aprendizagem e seu objeto de pesquisa – a vida humana e suas relações. Assim, evidentemente, as narrativas não serão tratadas como verdade absoluta, mas o discurso será contextualizado e ressignificado à luz da historiografia pertinente ao tema proposto (Santa Catarina, 2014, p. 146).
Neste contexto, a proposta deste estudo pretende colaborar com a discussão em torno da prática docente as aulas de História, partindo do pressuposto de que são bem vindos os projetos desenvolvidos com os estudantes que tenham por base o local onde vivem, envolvendo-os como sujeitos históricos e protagonistas de um trabalho que preserve a memória do lugar onde se inserem. Para os estudantes, neste caso entendidos como sujeitos protagonistas de um projeto de pesquisa, é importante demonstrar que esse conhecimento é fruto de um trabalho coletivo, do qual todos participam e são peças importantes. Por fim, resta dizer que é necessário que o professor conheça as diretrizes e instruções normativas que norteiam o currículo do educandário e da rede de ensino no qual está inserido.

Referências bibliográficas
SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de Santa Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Formação docente para educação infantil e séries iniciais. Florianópolis: COGEN, 1998.
________. Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Diretrizes 3: organização da prática escolar na educação básica: conceitos científicos essenciais, competências e habilidades. Florianópolis: Diretoria de Ensino Fundamental/Diretoria de Ensino Médio. Florianópolis, 2001.
________. Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia. Documento base de orientação pedagógica/administrativa: educação básica e profissional. Florianópolis, 2005.
________. Secretaria de Estado da Educação. Proposta curricular de Santa Catarina: formação integral na educação básica. Florianópolis, 2014.


2 comentários:

  1. Luciana Mendes dos Santos3 de abril de 2017 às 13:01

    A história como processo constituído em um trabalho coletivo faz parte das diretrizes para a área de diversos municípios e estados. Entretanto, as estruturas fornecidas aos professores para consolidar um planejamento que contemple os anseios constituídos no trabalho do professor de história estão longe de facilitar a vida do mesmo. Gostaria de saber se conhecesse projetos que já foram realizados que contemplem as normativas dos documentos.

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    1. Olá,
      Agradeço pelas considerações. Concordo contigo quando falas das estruturas "fornecidas aos professores". Nem sempre a melhor estrutura oferecida pelo poder público fará o professor dar as melhores aulas, embora concorde contigo que é um fator importante. Percebo que o maior problema do professor é ir do macro ao micro, ou seja, reduzir a escala das suas aulas e perceber como local ou regionalmente os processos estudados nas macro teorias são sentidas...
      Sobre escolas: na perspectiva da abordagem deste artigo, tem um projeto muito legal em andamento na escola de ensino fundamental Porto Novo, no município de Itapiranga. O educandário foi contemplado há mais de uma década com o projeto de Tempo Integral. Na modalidade, são oferecidas diversas disciplinas "diversificadas", entre elas, História Local, e um trabalho bem bacana nesse sentido foi realizado e pode ser conferido em www.historialocalportonovo.blogspot.com.

      Abraço,

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