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Larissa Faesser

GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO: UMA ABORDAGEM DO TEMA ATRAVÉS DO ENSINO DE HISTÓRIA DA ROMA ANTIGA
Larissa Faesser
UNESPAR/União da Vitória

Este texto surge da necessidade de trabalhar as temáticas de gênero e sexualidade no contexto escolar e do desejo de promover junto às escolas uma forma de abordar esses temas; a partir dos conteúdos trabalhados em sala de aula. Articulando discussões que possam promover um debate em torno de gênero e sexualidade no âmbito escolar apresento aqui, formas de refletir sobre a sexualidade por meio da História Antiga Romana, para que desta maneira, professores e alunos, encontrem nesse período, um propósito de estudar a história pelo viés do espaço social e cultural.
A existência de discursos moralizantes relacionados à sexualidade em nossa sociedade, não é algo difícil de ser observado, eles fazem parte de uma construção social, influenciada por diversos aspectos, históricos, culturais, econômicos, políticos e religiosos, que revelam a separação entre o que é considerado apropriado para feminino e o masculino como algo natural, pré-determinado. Mas a partir de estudos no âmbito do gênero e da sexualidade, é possível compreender, que estas noções foram construídas historicamente e aprendidas nas relações entre os sujeitos.
Nesse contexto, a escola se torna um importante cenário de análise da reprodução destas construções sociais, uma vez que, segundo Martelli “A sexualidade e suas manifestações, na maioria das vezes, são abordadas com preconceitos, repressão ou reduzidas ao sexo, à reprodução e a contracepção” (MARTELLI, 2016, p. 3). É de extrema importância repensar os métodos usados para lidar com essas manifestações, pois estes, revelam concepções equivocadas, que vão permear a educação do aluno.
A combinação entre sexualidade e educação é um tema que remonta aos primórdios da instituição escolar brasileira, o encontro com a perspectiva de gênero e sexualidade sempre foi uma problemática neste ambiente. A partir dos anos de 1990, com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais, esse conteúdo passou a aparecer mais nos discursos do ambiente escolar, mas ainda assim, existem conflitos relacionados a maneira de como tratar essa temática. Muitos professores acham que o assunto sexualidade não deve ser debatido dentro das escolas, transferindo essa responsabilidade para outras instâncias sociais, como a família. Mas a escola como detentora de saberes e formadora de indivíduos sociais, deve encontrar abordagens que se adequem aos diversos assuntos promovidos durante a vida do aluno.
As manifestações da sexualidade pertencem ao cotidiano escolar; nas conversas entre as crianças e adolescentes, nos desenhos e nas palavras rabiscadas nas portas dos banheiros e nas paredes das salas, nas brincadeiras e nas piadas, nos namoros, nas primeiras sensações afetivas, bem como nas salas de aula, nas falas e ações dos professores e das professoras e dos alunos e das alunas. (LOURO, 2003, p. 131).
Lidar com as manifestações da sexualidade dentro de sala de aula, conduz o professor a repensar a sua forma de lecionar, a postura de silêncio e repressão em relação às dúvidas associadas ao assunto, não é uma atitude correta, pois fazendo isso, o professor está omitindo uma parte importante da vida dos alunos. Em vista disso, é importante que o professor reveja os discursos moralizantes relacionados ao assunto, e promova discussões a partir de conteúdos trabalhados em sala de aula.
Problematizar o natural e desconstruir os estereótipos faz parte das ações que precisam se apresentar nas escolas, o professor se depara com diversas opções de assuntos que podem ser trabalhados, para refletir as relações de gênero e sexualidade no ensino de história. Esses conceitos são inseridos a partir de várias perspectivas da História Antiga Romana, segundo  Feitosa:
Sobre a História Antiga Romana, esses estudos têm permitido rever as áreas de atuação tradicionalmente atribuídas às mulheres, as diversas formas de atuação política e os fundamentos, composição e participação dos grupos sociais nas variadas esferas da organização social. (FEITOSA, 2008, p. 125)
Desta forma, o professor pode encontrar na história antiga, vários materiais que o permitam explorar a multiplicidade de linguagens e abordagens para trabalhar gênero e sexualidade em sala de aula. Neste texto separamos dois exemplos, na História antiga de Roma, relacionados a temática: as formas com as pessoas lidavam com a homossexualidade e as expressões de cunho sexuais expostas nos diversos objetos Romanos.
Na Roma antiga não se estabelecia distinções entre o amor homossexual e o heterossexual, o prazer sexual era visto como algo natural e não trazia discursos moralistas.  Mas, segundo Brown (2009, p.219), “julga-se – e muito severamente – o efeito que tal prazer pode exercer sobre o comportamento público e as relações sociais do homem”. Ser homossexual na Roma Antiga, não era um problema, mas sim, ser passivo, estes não deviam sentir prazer nas relações sexuais, mas somente dá-lo. Desta forma, os homens de classes superior que se submetiam a “humilhação” de serem passivos, eram julgados pela sociedade.
As representações “eróticas” encontradas no universo romano, reproduzidas em pinturas, esculturas, cerâmicas, louças de luxo, moedas romanas, objetos lamparinas, fontes ou pichações em muros, não eram usadas necessariamente, para representações de cunho erótico, mas também assumiam conotações religiosas, satíricas, humorísticas, ou simplesmente mostravam um componente natural da vida.
Apesar de expressões como sexualidade e gênero não serem empregadas naquele período, podemos encontrar discussões que perpetuam até os dias de hoje, cabe ao professor estudar as melhores maneiras de discutir esses assuntos, nos exemplos citados, podemos ressaltar a questão da homossexualidade, em que o professor pode relacionar alguns dos valores impostos na antiguidade, com o que vivemos hoje, pois em nossa sociedade ainda presenciamos pessoas sendo julgadas ao se relacionarem com parceiros do mesmo sexo. O professor precisa apenas considerar que a sociedade Romana, não corresponde aos modelos de domínio ou submissão, com o qual as pessoas se identificam nos tempos modernos.
A escola, como qualquer outro espaço social, é local de assuntos relacionados a sexualidade, proporcionar maneiras de tornar esse tema mais acessível aos alunos, é fazer com que um ambiente de opressão e repressão, se torne um espaço livre de padrões sexistas, machistas, misóginos e homofôbicos e principalmente, com uma vivência mais livre e prazerosa em relação ao bem-estar de todos os envolvidos no processo.

Referências
LOURO, Guacira Lopes. Corpo, escola e identidade. In: Educação e Realidade, Jul/dez. 2000.
FEITOSA, Lourdes Conde W. Gênero e Sexualidade no mundo romano: a antiguidade em nossos dias. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 48/49, p. 119-135, 2008.
POSSAMAI, Paulo César. Sexo e poder na Roma Antiga: o homoerotismo nas obras de Marcial e Juvenal. Bagoas, nº 05, p.79-94, 2010.
MARTELLI, Andréa Cristina. Ações docentes diante das manifestações da sexualidade. Reunião Cientifica Regional da ANPED, Curitiba, nº6, p.1-16, 2016.
ZARBATO, Jaqueline Aparecida Martins. As estratégias do uso do Gênero no ensino de História: narrativa histórica e formação de professores. Revista Trilhas da História, v.4, nº8, p.49-65, 2015.

2 comentários:

  1. Luciana Mendes dos Santos3 de abril de 2017 às 13:17

    Prezada, considero interessante desmistificar a questão da sexualidade na Roma Antiga, tendo como base as fontes históricas e uma boa leitura antes do trabalho. Entretanto, tendo em vista a conjuntura política e social em que nos encontramos, fico com uma dúvida: Explicitar comportamentos da sociedade romana quanto a sua sexualidade não pode reiterar padrões homofóbicos presentes em nossa sociedade? Você já fez isso em sala de aula? Como foi a recepção dos estudantes?

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  2. Obrigado pelo texto, Larissa. Entendi que a abordagem sobre a História de Roma é um instrumento para a discussão sobre gênero e sexualidade. Temos outros, sem dúvida. Gostaria de saber sua opinião sobre a participação de professores de História em projetos multi/ transdisciplinares que abordam esse tema: é possível que um professor de História proponha um projeto desse tipo? Você acha que professores de disciplinas de ciências receberiam bem propostas como essas?

    GUILHERME CYRINO CARVALHO

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