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Joséti Viana; Kaíque Lessa; Siméia Teixeira

A RELAÇÃO ENTRE O PASSADO E O PRESENTE NAS AULAS DE HISTÓRIA
Joséti Viana Alves
Kaíque Lessa de Souza
Siméia Teixeira Gomes Silva
UNEB

Ensinar e aprender História não são tarefas fáceis. Embora História seja vida - expressão da ação dos seres humanos no mundo -, o conhecimento produzido a esse respeito oferece inúmeros desafios. Não se pode ter acesso direto ao passado, mas, por outro lado, não pode existir um presente sem conexão com o passado. Por meio do estudo deste, é possível perceber as continuidades e as rupturas necessárias à compreensão da historicidade de cada indivíduo e da historicidade da sociedade da qual, todos fazem parte.
Concebe-se o papel da História como um eficaz instrumento para a formação de uma geração mais consciente. Nessa perspectiva, realizamos uma aula-palestra sobre Intolerância Religiosa dentro do conteúdo Reforma e Contrarreforma para alunos do 7º Ano turmas “A” e “B” do Grupo Escolar Manoel Lopes Teixeira, turno matutino, com os objetivos de que os alunos tenham condições de se perceberem como sujeitos históricos, capazes de agir, e no limite, contribuir para a transformação da realidade social na qual estão historicamente inseridos. Além disso, a compreensão por parte dos alunos de múltiplas realidades, de situações concretas de sua vida cotidiana e do seu tempo, condições essenciais para a formação e o desenvolvimento da cidadania.
Ademais, com base em uma perspectiva crítica, relevante na formação de uma geração mais sensível ao compromisso de se construir uma sociedade pluralista, na qual o respeito às diversidades étnica, cultural e religiosa seja um ponto fundamental, possamos desenvolver uma sociedade com um profundo viés humanista e marcada pela tolerância e solidariedade.
É na tentativa de se entender melhor o presente e compreender de que forma tudo aconteceu que o passado ganha significado. Ao transitar entre o presente e o passado, os alunos encontrarão respostas para diversas questões, é importante para que conheçam a si mesmos, assim como suas afinidades e diferenças em relação aos outros.
O ponto de partida para o estudo do tema trabalhado na palestra foi o tempo presente, sendo que algumas das inquietações do mundo contemporâneo nortearam a busca dos conhecimentos prévios dos alunos por parte dos palestrantes (uma candomblecista e um pastor protestante), que se preocuparam em estabelecer vínculos entre o presente e o passado, contextualizando o tema estudado, ou seja, aproximando-o à vida dos alunos, a situações do presente. Assim, criam situações de aprendizagem em que os saberes científicos são articulados aos saberes dos alunos.
Ao trabalhar com essa relação de passado e presente, estivemos preocupados em transmitir o conteúdo relacionando as mudanças e permanências proporcionando vários recursos didáticos como slides, filmes, músicas e poema. Ao longo do trabalho estivemos preocupados em fazer com que os alunos pensassem historicamente através da análise desses recursos citados para que assim pudessem desenvolver uma consciência histórica segundo a proposta de Jörn Rüsen, ou seja, permitir que o indivíduo possua mecanismos para compreender o seu presente através de seu passado e perspectivar o seu futuro.
“Primeiro, a consciência histórica não pode ser meramente equacionada como simples conhecimento do passado. A consciência história dá estrutura ao conhecimento histórico como um meio de entender o tempo presente e antecipar o futuro. Ela é uma combinação complexa que contém a apreensão do passado regulada pela necessidade de entender o presente e de presumir o futuro.” (RÜSEN, 2006, p. 14)
Além de perceberem “[...] o tipo de relações que as sociedades históricas mantiveram com o seu passado e o lugar que a história ocupa no seu presente.” (LE GOFF, 1990, p. 18).
No caso da Reforma e Contrarreforma, primeiramente explicamos o conteúdo utilizando slides e o próprio livro didático, no qual sempre pedíamos aos alunos que analisassem as imagens do livro e dos slides como a de Martinho Lutero, de Henrique VIII, da sociedade; e relatassem o que compreendiam sobre aquelas imagens, também pedíamos que interpretassem os trechos do filme Lutero. Em seguida organizamos uma palestra entre uma candomblecista, um pastor e um representante da Igreja Católica. Este último não compareceu e os dois primeiros abordaram seus pontos de vista a respeito da intolerância religiosa, além de citarem exemplos tanto do passado quanto da atualidade.
A proposta dessa palestra foi relacionar o conteúdo do século XVI com acontecimentos de intolerância do século XXI no Brasil e no mundo. Inicialmente buscamos referenciais em jornais, revistas sobre casos de crimes religiosos como os massacres provocados pelo Estado Islâmico às minorias étnicas e religiosas da Síria e do Iraque. Verificamos as causas desse extremismo pautado na Sharia - conjunto de leis islâmicas radicais -, ao mesmo tempo em que conferimos os ataques sofridos pelos adeptos do Candomblé, incluindo terreiros destruídos e ofensas pessoais e físicas.
O livro didático assim como as pesquisas realizadas por nós serviu como base para a aula e para a palestra, pois os alunos já possuíam algum conhecimento acerca da intolerância religiosa e os palestrantes puderam abordar sem precisar entrar em detalhes sobre o passado, já que isso havia sido explanado nas aulas anteriores.
Após a palestra, pedimos aos alunos que elaborassem um relatório sobre o que haviam compreendido a respeito da intolerância para que assim pudessem desenvolver seu senso crítico. A fim de preservar o anonimato dos alunos participantes, usamos pseudônimos na identificação dos relatórios.
Obtivemos informação sobre o processo de aprendizagem e a aquisição de conhecimentos por parte dos alunos a partir da solicitação de uma produção escrita individual - um relatório - sobre a aula palestra ofertada aos educandos. O relatório serviu de instrumento para avaliarmos a aprendizagem dos alunos bem como nossa própria prática docente.
Perante a colocação dos alunos podemos perceber o quanto o nosso trabalho foi importante, pois através dessa palestra pudemos despertar nos alunos, uma consciência histórica fazendo-os perceber quanto o preconceito “emporcalha” nossa sociedade, impedindo o outro de ser quem ele é. E isso despertou em nós futuros docentes formadores de cidadãos críticos, o desejo de buscar métodos pedagógicos, para acabar ou no mínimo conscientizar os educandos do horror e absurdo que é o preconceito, intolerância ou qualquer outra forma de desrespeito com o próximo. Como afirma a doutora em Didática História Lana Siman:
“Pensar historicamente supõe a capacidade de identificar e explicar permanências e rupturas entre o presente/passado e futuro, a capacidade de relacionar os acontecimentos e seus estruturantes de longa e média duração em seus ritmos diferenciados de mudança; [...] Supõe identificar, no próprio cotidiano, nas relações sociais, nas ações políticas da atualidade, a continuidade de elementos do passado, reforçando o diálogo passado/presente.” (SIMAN, 2003, p. 119)
Destarte, percebemos que é de grande relevância o professor trabalhar os conteúdos do livro didático, fazendo um contraponto do assunto estudado com a atualidade desses discentes, pois quando estes se sentem mais próximo da história eles se enxergam parte da mesma e passa a ter um significativo na vida dos estudantes.

Referências
BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino: elemento articulador da formação do professor. IN: BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006.
BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino: elemento articulador da formação do professor. IN: BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão. [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990.
RÜSEN, Jörn. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa, Ponta Grossa, vol. 1, nº 2, jul.-dez. 2006, pp. 07-16.
SIMAN, Lana Mara de Castro. O papel dos mediadores culturais e da ação mediadora do professor no processo de construção do conhecimento histórico pelos alunos. In: ZARTH, Paulo e outros. (Orgs) Ensino de História e Educação. Ijuí: Ed. Unijui, 2004.
TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 8a edição Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1988. (Coleção Psicologia e Pedagogia).

9 comentários:

  1. Boa Noite, primeiramente gostaria de parabenizar os autores desse projeto pela notável temática da pesquisa. Trabalho com essa questão acerca da tolerância religiosa com meus alunos, e percebo a necessidade de levarmos esse assunto para além dos muros da escola. Gostaria de saber dos autores desse projeto, como vocês trataram com os alunos acerca da ausência do líder religioso da igreja católica na palestra abordada por vocês? Além disso, gostaria de saber quais outros recursos além dos livros e slides podem ser utilizados pelo educador como métodos para se trabalhar acerca da questão da tolerância religiosa na escola.

    Att. Aline Cândida de Araújo.

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    1. Kaíque Lessa de Souza5 de abril de 2017 às 02:23

      Obrigado e com relação ao representante católico foi meio complicado porque ele nos avisou que não poderia comparecer quando já estávamos prestes a começar a palestra, esperávamos que os três expusessem seus pontos de vistas sobre a intolerância religiosa, a palestra durou boa parte da manhã e os alunos tiveram que assistir aula com outro professor sem seguida.
      Por sermos estagiários, a professora-regente pediu para que na semana seguinte, devido à alguns feriados anteriores, iniciássemos um novo assunto (Grandes Navegações) para que os alunos não ficassem atrasados, depois realizamos uma avaliação finalizando o nosso estágio, então não tivemos tempo praticamente para abordar sobre essa ausência do líder católico.
      Outros recursos podem ser filmes: Lutero (2004); O homem que não vendeu sua alma (1966) (este aborda a perseguição aos católicos pelos protestantes ingleses); ou também pode ser feita, com o consentimento dos pais, visitas a um terreiro, uma igreja católica e protestante em que os alunos podem tirar dúvidas com os líderes religiosos e podem perceber a diferença, por exemplo, entre uma igreja católica e uma protestante "Por que as igrejas católicas são mais decoradas do que as protestantes?" ou "Por que existem imagens de santos nos terreiros de candomblé?".

      Att. Kaíque Lessa de Souza

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  2. Como trabalhar com o aluno a questão do passado de forma mais interessante? Visto que os mesmos muitas vezes não sabem porque estudar o que já se passou.

    Daiany Francielly de Barros Rodrigues

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    1. Kaíque Lessa de Souza5 de abril de 2017 às 07:23

      Uma boa forma de se trabalhar essa relação é com a utilização de diversos recursos didáticos como filmes, jornais, revistas, histórias em quadrinhos e até jogos digitais (tudo, é claro, voltado para a temática abordada) e tentar fazer com que o próprio aluno consiga fazer essa relação entre passado e presente analisando as mudanças e permanências.

      Kaíque Lessa de Souza.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Uma outra forma interessante de trabalhar o passado em sala de aula é relaciona-lo com o presente dos alunos, sempre fazendo um contraponto com a realidade dos mesmos. Não devemos trabalhar o passado pelo passado e sim estuda-lo para refletir o presente e perspectivar o futuro (RÜSEN, 2006).

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  4. Olá e parabéns pelo trabalho!
    gostaria de saber como foi a atitude dos alunos no momento da apresentação da palestra. Eles participavam ativamente fazendo indagações ou só assistiram passivamente?
    Cordialmente,
    Velsa de Fátima Donato Teixeira Ferreira

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    1. Kaíque Lessa de Souza5 de abril de 2017 às 23:00

      Durante a palestra a maioria ficou quieta, poucos perguntaram ou fizeram algum comentário.

      Kaíque Lessa de Souza

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  5. Boa noite caros, parabenizo pela palestra e a escolha do tema trabalhado, é uma importante iniciativa para a construção de uma sociedade mais democrática e plural! Gostaria que comentassem sobre a recepção por parte da comunidade escolar do tema trabalhado, principalmente no que se refere a presença de líderes religiosos no espaço escolar.
    Mais uma vez parabenizo pela atividade!
    Atenciosamente,
    Lucilvana Ferreira Barros

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