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Jackson Alexsandro

DO VESTIBULAR À SALA DE AULA: O PAPEL SOCIAL DA HISTÓRIA E DO PROFESSOR DE HISTÓRIA

Jackson Alexsandro Peres

Doutorando em História na UFSC


Uma escolha nada fácil

Corajosos. Talvez este seja o adjetivo mais apropriado para designar os jovens que ao final do ensino médio optam por carreiras na área/disciplina da educação, como Física, Matemática, Filosofia, Artes, Química, Biologia, Educação Física, Geografia, Letras e História. Apesar de todas abrirem possibilidades para o exercício da profissão fora da sala de aula, ou melhor, trabalhos de pesquisa, desenvolvimento científico, ou apenas exercendo a profissão em outros setores, a verdade é que uma minoria dos formados nessas áreas segue por esses caminhos. A maioria sabe que terá como campo de atuação a sala de aula, exercendo a profissão de professor. Por este motivo chamamos esses ingressantes de corajosos, pois acreditamos que muitos possuem conhecimento da realidade da profissão professor.
Para a escolha do curso, o indivíduo leva em conta muitos fatores. Dentre os fatores tem-se primeiro a influência de terceiros. Pais, família e amigos, por bem ou não acabam por dar sugestões e influenciam na decisão. Em segundo o mercado de trabalho, já que o mundo exige com que você pese cada vez mais esse fator na hora da escolha de uma profissão, sendo muitas vezes decisivo. Em terceiro lugar vem a afinidade. Esse é o fator que consideramos mais importante na hora da escolha de uma profissão, pois ele busca a satisfação profissional. É saber onde e como você irá atuar e saber as condições que irá encontrar e mesmo assim ter motivação para seguir em frente.
O mercado de trabalho para um professor, levando-se em conta o fator econômico, não é muito animador. Existe quantidade de trabalho, mas a questão é: quais são as condições de mercado de trabalho que um estudante de História vai encontrar na sala de aula, se ele realmente atuar como Professor? Nas palavras de Cabrini, podemos ter uma idéia:
Certamente você, melhor do que nós (ou, assim como nós), sabe das péssimas condições estruturais do ensino, por senti-las na própria pele em sua experiência diária. As grandes dificuldades de suas condições de trabalho (baixos salários, instabilidade do serviço, enorme carga horária, choques constantes com a estrutura hierárquica e burocrática etc.) pesam muito sobre você e não serão modificadas sem uma longa luta, a qual evidentemente requer muito de seu já sacrificado tempo (CABRINI, 1994, p. 13-14)
Colocaremos em pauta algumas questões sobre o curso de História e o papel do Professor de História na sociedade. O texto será baseado em uma bibliografia que atende as questões sobre História/Ensino e à partir das impressões pessoais sobre o curso de Graduação em História e a experiência profissional na área.

A História na academia

Segundo Conceição Cabrini (1994, p. 33) “a história estuda as ações dos homens, procurando explicar as relações entre seus diferentes grupos. Essas relações estão em permanente movimento, são essencialmente dinâmicas e contraditórias.” Para dar conta dessa concepção, na graduação tem-se contato com disciplinas de teoria e metodologia da história, para compreendermos como se escreveu e quem escreveu a História através do tempo.
Obviamente que, se o curso nos habilita a sermos Professores, teremos de ter no mínimo noção do funcionamento do sistema de ensino brasileiro e as leis que regem esse sistema. Também é necessário que tenhamos contato com situações práticas de ensino através do estágio obrigatório supervisionado. Esses dois segmentos devem caminhar juntos na formação do professor já que:
É preciso garantir que o professor de história seja alguém que domine o processo de produção do conhecimento histórico, que seja alguém que saiba se relacionar com o saber histórico já produzido e que, finalmente, seja alguém capaz de encaminhar seus alunos (sejam eles de 1º, 2º ou 3º graus) nesses mesmos caminhos da produção e da relação crítica do saber.(CABRINI, 1994, p.23)
Não acreditamos que os conteúdos e teorias trabalhados em sala de aula possam dar conta do saber necessário para um indivíduo ser ou não um bom professor. Sabemos que cada situação profissional vivida é diferente de outra. Não há regras nem receitas para sermos bons professores. Cada realidade que se apresenta na sala de aula servirá de aprendizado. Este aprendizado será constante, e estará sempre em reformulação. A competência será conseguida por meio da prática. Ranzi coloca que “ensinar história é um métier que se aprende e como todo métier, particularmente aqueles qualificados de intelectuais, o ato de aprender não tem fim, aprende-se pela experiência, aprende-se pela reflexão teórico-prática” (RANZI, 1999, p.20).
É importante não desmerecermos as questões e os conteúdos das disciplinas pedagógicas. Elas nos fornecem um contato prévio com a prática de ensino. Através delas obtemos trocas de experiências e relatos apresentados pelos professores e colegas que contribuirão para nossa formação. É através dessas disciplinas que podemos ter um contato com o mundo e com os desafios que ainda não enfrentamos, mas que nos esperam quando nos formarmos. Um desses desafios é apresentado por Schmidt (2002, p, 58):
No que se refere ao fazer histórico e ao fazer pedagógico, um desafio se destaca dos enfrentados pelos educadores na sala de aula, e pode ser lembrado como necessário à formação do professor de História: realizar a transposição didática dos conteúdos e do procedimento histórico e também da relação entre inovações tecnológicas e o ensino de História.


O papel da História e do professor de História


O professor possui, seja ele de qualquer disciplina, um papel fundamental dentro da sociedade. Talvez mais do que outra disciplina, a História vem a aumentar a responsabilidade de quem à ministra na sala de aula. Isso por que: “A História enquanto disciplina dos currículos dos ensinos básico e secundário, apesar de ser ciclicamente contestada e posta em causa, tem um papel reconhecido em termos internacionais, sociais e individuais” (ALVES, 2001, p. 23). Dentro das competências do ensino de História, a criação de uma identidade se mostra como sendo uma das principais.

(...) Sem consciência histórica sobre o passado (e antepassados...) não perceberíamos quem somos. Esta dimensão identitária – quem somos? – emerge no terreno de memórias históricas partilhadas. (...) a consciência histórica contribui, deste modo, para a afirmação da identidade – individual e coletiva (...). (ALVES, 2001, p. 25).

Dentro desse contexto, procuramos identificar a utilidade da História compartilhando as ideias de Luís Alves. O autor coloca que:
a)      É através da História e do conhecimento do passado que obtemos experiências que diminuem o atrito entre as gerações tornando melhor a convivência entre as diferentes épocas da família;
b)      A História permite que encontremos pontos de referência no passado que fazem diminuir as angústias do presente, contribuindo para a paz de espírito, já que transforma o presente em um espaço de experiências e o futuro em um horizonte de expectativas;
c)      A História fornece as origens, genealogias, ligações e persistências, que em último caso denunciam as más experiências e legitimam as boas. A compreensão de nossa identidade é garantida pelo papel da História na nossa formação;
d)     Por último, a História remete-nos ao passado como refúgio para a fugacidade do presente. Através dela, as transformações políticas poderão ou não ter nossa simpatia, a vida social poderá nos levar até a nostalgia e a cultura e arte serão o nosso trampolim para o sonho. (ALVES, 2001, p.25)
Se entendermos o papel da História através desse enfoque, podemos simplificar o sentido do ensino de História. Assim, se nos perguntarem “por que se estuda História?”, podemos tomar como resposta as palavras de Black:
Ensina-se História por 3 razões diferentes: razões de índole humanística (a História contribui para a educação); razões de índole instrumentalista (a História tem uma função: como meio para atingir determinado fim); razões de índole científica, porque a História tem um valor intrínseco como ciência (...). (ALVES, 2001, p. 26)
Dentro dessa competência, a História deve estar pautada nos quatro pilares da educação. Que são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser. Aprender a conhecer está ligado ao domínio dos instrumentos do conhecimento e é na História que os conteúdos e as finalidades são capazes de fornecerem meios para que o conhecimento se transforme num processo de aprendizagem contínua. Aprender a fazer substitui a qualificação pela competência. Englobando além da qualificação, o comportamento social, a aptidão para um trabalho em equipe, a capacidade de iniciativa, o gosto pelo risco e a adesão à mudança. Aprender a viver com os outros significa contemplar a diversidade histórica, as heterogeneidades étnicas ou religiosas, para evitar a incompreensão que gera ódio e violência. Aprender a ser, então, resume tudo isso, ou seja, a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa humana. (ALVES, 2001, p. 29-30).
Desse modo, esperamos que os cursos de licenciatura em História continuem a atrair corajosos, que em suas práticas tornem-se heróis, pois,
Da nossa postura de educadores ou professores e da forma como soubermos utilizar a História dependerá o exercício da cidadania dos nossos alunos no mundo de amanhã. A preparação desse futuro (re) começa na próxima aula ou no próximo “Lugar da História”. Não desperdicemos a oportunidade de dar o nosso contributo e de deixar a nossa marca na sociedade que os nossos jovens e alunos vão ter de construir. (ALVES, 2001, p. 31)

Bibliografia

ALVES, Luís Alberto Marques. O Estado da História – o Ensino. In: Revista da Faculdade de Letras – História. Porto, III Série, vol. 2, 2001.
CABRINI, Conceição...[et al.] O ensino de História: revisão urgente. 5º ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
PINSKY, Jaime. Nação e ensino de História no Brasil. In: PINSKY, Jaime (org). O ensino de História e criação do fato. 10ª edição. São Paulo: Contexto, 2002.
RANZI, Serlei Maria Ficher. A especificidade da História como disciplina escolar. In: Simpósio Nacional da Associação Nacional de História (20:1999:Florianópolis) História: fronteiras. São Paulo: Humanitas / FFLCH / USP: ANPUH, 1999.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula. In: BITTENCOURT, Circe (org). O saber histórico na sala de aula. 8 edição. São Paulo: Contexto, 2002.


3 comentários:

  1. Olá Jackson,

    Como você percebe o impacto da recém estabelecida reforma do Ensino Médio, naqueles corajosos - como você mesmo afirma - que hoje frequentam as cadeiras universitárias do curso de História?

    Maicon Roberto Poli de Aguiar.

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    1. Boa tarde Maicon. Um grande amigo meu, também historiador e professor no curso de História em uma Universidade do Paraná, colocou que não incentivará mais ninguém a fazer História (curso). Eu não chegaria a esse ponto, mas fazer História hoje tem que ter ainda mais coragem do que há alguns anos atrás. Os profissionais historiadores enfrentam uma luta constante para afirmar a importância de nossa área na educação. Penso que a reforma do EM deve e tem impactado os graduandos de História, mas penso que ela pode ser um estímulo a mais na labuta diária que é nossa profissão.

      Jackson Alexsandro Peres

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  2. Confesso um certo desanimo pela carreira de professor. Devo pensar em outras possibilidades? O que podemos esperar como professores de história?

    Raquel de Souza Martins Lima

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