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Isabele Fogaça; Lucas Eduardo

ENSINO DE HISTÓRIA E SIMBOLOGIA PARA SÉTIMOS ANOS: DO PERÍODO MEDIEVAL AOS DIAS ATUAIS
Isabele Fogaça de Almeida
Lucas Eduardo de Oliveira
UEPG

A importância dada aos símbolos na atualidade é extremamente relevante. Como afirma Ribeiro “Vivemos rodeados por símbolos, são eles desde o aceno de mãos em uma despedida ao alfabeto que utilizamos para falar e escrever” (2010, pág. 46).  Esses estão presentes em todos os aspectos do cotidiano. A maioria das pessoas consegue reconhecer uma marca de grande empresa ou instituição, sem que esta venha com seu nome, apenas pela logomarca. 
Mas é válido notar que o uso de símbolos não é uma característica dos tempos atuais, pois sempre estiveram presentes nas organizações dos grupos sociais.  Em especial, no período medieval, é possível perceber o uso da simbologia.
Predominava a concepção de que a meta do homem era o Reino de Deus e de que a Revelação estava contida nas Sagradas Escrituras. Dessa forma, não se observava a natureza para deduzir explicações ou levantar hipóteses, mas para ver os símbolos dos desígnios divinos. [...]. (FRANCO JUNIOR, 1986, p.143)
Nas afirmações de Franco Junior, nota-se como o simbolismo permeava a mentalidade medieval, com o objetivo de ligar o mundo divino ao humano, era a interpretação para leitura do universo naquele período. Em tal visão o universo era entendido como um aglomerado de símbolos, onde até mesmo o homem era um dele; o que limitava inclusive, o avanço da ciência, já que a maneira de expressão e entendimento sobre o mundo, o homem, e da sociedade era também norteada pelo simbolismo.
Este trabalho visa apresentar os resultados de uma experiência didática realizada por meio de uma oficina pedagógica que teve como objetivo aprofundar o conhecimento sobre alguns dos símbolos utilizados na época medieval e que tem elementos presentes na sociedade atual. Essa oficina consistiu-se em uma das formas de intervençãodosubprojeto de História, do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) na disciplina de História, em turmas do sétimo ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila, em 2015. O projeto de ensino foi complementar ao conteúdo previsto no Plano de Trabalho Docente sobre a Idade Média.
Atendendo à proposta metodológica problematizadora da disciplina, buscaram-se estabelecer relações entre presente e passado, correlacionando os símbolos medievais e sua importância com os logotipos utilizados na sociedade atual e sua importância simbólica.
A oficina pedagógica foi realizada em quatro horas-aulas, sendo dividida em quatro momentos: símbolos na atualidade, origem dos brasões, origem dos sobrenomes e jogo Rei dos Reisdo professor de História da turma - Marcelo Kloster, professor supervisor do subprojeto de História do PIBID. No primeiro momento, através de uma apresentação de slides, um dos pibidianos mostrou apenas a imagem de alguns símbolos famosos de marcas como Nike, Apple, Mc Donald’s, Pepsi e escudos de alguns times de futebol mais conhecidos em nível nacional. Os alunos identificaram prontamente os símbolos, sem que fosse necessária explicação das imagens. Esse exercício mostrou aos alunos o quanto uma imagem pode ser carregada de símbolos e significados.
Estabelecendo relações com essas imagens, foi apresentada a origem dos brasões utilizados pelas famílias e instituições na Idade Média. A utilização dos brasões, a princípio consistia num desenho que seguia as leis da heráldica, com o intuito de identificar famílias. Para explicar como eram escolhidos e compostos os brasões na Idade Média, na sequência, foi entregue aos alunos uma folha com significado de cores e símbolos que poderiam compor um brasão, conforme a heráldica, ciência que estuda os brasões, e estes foram convidados a criar um brasão referente a si mesmo, que fossem estruturados de acordo com a sua personalidade, aspirações, família, dentre outras características, para ser apresentado e explicado na próxima aula.
Logo em seguida foi abordado sobre a origem dos sobrenomes no período medieval, que tinham relação com a região onde morava, ofício, origem, fortuna, aspecto físico, personalidade.  Para finalizar, foi entregue a cada aluno uma descrição sobre a origem do seu sobrenome, resultado do trabalho de pesquisa feito pelos pibidianos com antecedência, com base na listagem dos nomes presentes no diário de classe da turma. Dessa forma, poderiam utilizar elementos de significado de seu sobrenome na criação do seu brasão.
As duas últimas horas-aulas da oficina aconteceram na semana seguinte, como acordado, os brasões foram entregues e cada aluno explicou o significado dos elementos que o compunham.  Nas apresentações dos alunos notou-se que houve entendimento sobre a simbologia utilizada nos brasões construídos a partir de elementos significativos para cada um deles e, desse modo puderam reconhecer a importância atribuída aos brasões na sociedade medieval, na qual a simbologia era um elemento essencial para o entender o mundo.
Concluindo a oficina, foi explicado o jogo Rei dos Reis. O jogo criado tem por objetivo aguçar a compreensão do aluno sobre as relações de poder estabelecidas na sociedade feudal, por meio da simulação de guerra entre feudos. Nas cartas do jogo cada feudo tem um símbolo.
O jogo se organiza em batalhas, na qual cada jogador recebe um conjunto de cartas. Cada uma delas tem um valor que somado refere à quantidade de seu exército. Dando sequência, o ataque é realizado pela escolha do rei – este que já foi previamente escolhido no início do jogo. Os ataques são feitos até que todo o exército perca, tendo apenas o rei para se defender e atacar. Ganha o time que conseguir derrubar o rei adversário.
Os alunos foram divididos em equipes na sala, cada equipe foi composta por seis componentes, e cada conjunto de cartas era disputado por duas equipes. Os estudantes puderam utilizar seu brasão durante o jogo, representando seu escudo de guerra para defender seu feudo, este que eles deram um nome também.
Para socialização dos resultados desse trabalho com a comunidade escolar, foi montada uma exposição no mural, no saguão da escola em formato de castelo, com os brasões dos alunos, para apreciação dos trabalhos durante a semana.
Após o fim das oficinas ministradas pelos pibidianos, pôde-se notar que houve uma atenção maior por parte dos alunos ao que se refere aos símbolos presentes no seu cotidiano, no sentido de perceberem os significados que carregam e a importância social, política ou econômica que possam ter.  Eles puderam reconhecer elementos de sua identidade pessoal na experiência de criação de um brasão próprio, com elementos de sua própria cultura, reconhecendo o significado de seu sobrenome assim como sua origem étnico-cultural. Os resultados expressos nos brasões por eles confeccionados foram bem estruturados atendendo as orientações, o que foi extremamente reconfortante.Assim como o interesse demonstrado pelos alunos em aprender sobre o assunto, visto que, foi possível introduzi-los na História. 

Com essa experiência didática, percebeu-se a importância de inovar no Ensino de História, sendo esta possível e imprescindível. Manter um estudo sobre a história apenas na teoria não demonstra a perspectiva da disciplina, que é trabalhar com o agora e não somente passado. Quando se inova no ensino, diferentes atividades são realizadas, fazendo com que passado e presente se interliguem, e assim os alunos possam compreender e se reconhecer como pertencentes à história.

Referências
FRANCO JÚNIOR, Hilário. Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2007.
KLOSTER, Marcelo. CARVALHO, Silvana Maura Batista de. O jogo de cartas Rei dos Reis: uma contribuição do lúdico na aprendizagem sobre as relações de poder na baixa idade média. Ponta Grossa. 2015.
RIBEIRO, Emílio Soares. Um estudo sobre símbolos, com base na semiótica de Peirce. Rio Grande do norte. 2010.


6 comentários:

  1. Boa noite Isabele e Lucas. Como membro do Pibid História da Universidade Federal de Sergipe, achei a experiência de vocês super interessante. Por meio de aspectos familiares e cotidianos dos alunos vocês conseguiram explicar características do período medieval. Essa relação, nos dias atuais, é de suma importância devido a baixa valorização do conhecimento histórico no âmbito escolar, visto como algo que não influencia ou não servirá para seu presente e futuro. E a Idade média então, que com a discussão da bncc seria um dos conteúdos que seriam excluídos do currículo escolar. A atividade desenvolvida por vocês demonstra exatamente isso, que apesar de realidades muito distantes, o passado reflete no presente e se faz necessário o estudo da história para esta compreensão. Parabenizo pelo trabalho e pela forma concreta de incentivar a valorização do conhecimento histórico.

    Fernanda Carolina Pereira dos Santos

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    1. Boa noite Nanda! É muito gratificante pra nós ver um comentário tão sensibilizado assim, ainda mais por você também participar do PIBID. Muito obrigada!!

      Isabele Fogaça de Almeida e Lucas Eduardo de Oliveira

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  2. Prezados Isabele e Lucas,
    Primeiramente gostaria de parabenizar o trabalho de vocês, sobretudo por tocarem em algo muito interessante de discutir: os símbolos. A abordagem do contexto medieval é muito válida e rica para o conhecimento histórico, visto que, como vocês mesmo apontaram, foi na Idade Média que a hierofania atinge seu ápice e, por consequência, toca todas as razões sensíveis, imaginário, cosmovisões, enfim, dos homens e mulheres medievais. Sendo assim, vocês também lançaram mão do uso de jogos para findar as oficinas de vocês, gostaria de saber o como vocês fundamentaram para os alunos que eles iriam ser ensinados pela perspectiva do jogo? Como foi a reação dos alunos em vista disso?

    Grato
    José Walter Cracco Junior

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    1. Muito obrigada pelas considerações e a pergunta José!Como já tínhamos utilizados outros jogos em outros momentos com a turma, e sempre obtivemos bons resultados com relação ao interesse por parte deles; no jogo Rei dos Reis em si eles já estavam acostumados com essa questão de aprender, e perceber o conteúdo através de um jogo. Mas nessa oficina pedagógica em específico eles ficaram bem motivados a atraídos pelo jogo. Ao utilizarem os brasões feitos por eles como escudo de guerra, criar e decidir o nome pro seu feudo, se sentiram realmente participantes daquela batalha. Tanto é que a aula acabou e eles queriam continuar jogando, e nas aulas da sequência mesmo em outros conteúdos, sempre perguntavam do jogo. Nesse sentido foi possível perceber todas as questões teóricas trabalhas antes, através do jogo, resultando numa aprendizagem dinâmica e interativa. Esperamos ter respondido sua pergunta.
      Isabele Fogaça de Almeida e Lucas Eduardo de Oliveira.

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  3. Olá!
    Achei muito pertinente a definição temática e metodológica de vocês, tanto na utilização da idade média quanto na fuga das formas tradicionais de ensino - aprendizagem. Minha pergunta é em relação ao mural feito pelos alunos ao fim dessa etapa de construção do conhecimento. Esse mural que foi exposto, os alunos que ajudaram na sua confecção explicaram para os demais alunos do colégio o contexto das heráldicas e idade media com a atualidade? ou foi uma exposição mais contemplativa? e como foi a forma de reação por parte dos demais alunos com esse trabalho?

    Ronny Costa Pereira

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    1. Olá Rony, muito obrigada! Então, o mural foi feito por nós, e infelizmente foi uma exposição apenas contemplativa, por uma questão de pouco tempo para muitos conteúdos da disciplina. É uma prática nossa expor as atividades que eles fazem, pois percebemos que há um maior esforço no desenvolvimento destas, por parte deles. Dessa forma, tanto eles, quanto os demais alunos do colégio e comunidade escolar, já estão acostumados com nossas exposições.De maneira geral, sempre geram uma boa repercussão e ganham bastante visibilidade; podemos notar isso com os comentários apreciativos que recebemos, no quanto eles ficam sendo observados, e mostrados pelos alunos da sala que participou da atividade.

      Isabele Fogaça de Almeida e Lucas Eduardo de Oliveira

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