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Igor Lapsky

CINEMA EM SALA DE AULA: PARA ALÉM DO FILME HISTÓRICO
Igor Lapsky1


Introdução
O uso de filmes em sala de aula é uma realidade para o professor. Muitos, ao pensarem em temáticas relacionadas a distâncias temporais distintas, que vão desde a Antiguidade até a Guerra Fria, optam por utilizar películas para retratar uma época e discutir elementos específicos desenvolvidos na história. Desta forma, é escolhido em sala de aula a categoria filmes históricos, utilizada primeiramente por Marc Ferro na década de 1970. No artigo “O filme: uma contra-análise da sociedade?” (1975), o autor desenvolve o argumento em prol da utilização dos filmes como fonte histórica e operacionaliza a relação cinema-História a partir de produções relacionadas à Revolução Russa.
Partindo da análise de Marc Ferro, outras produções enalteceram a importância do uso de filmes nas pesquisas históricas, desenvolvendo argumentos embasados na categoria cunhada por Ferro. Autores como Pierre Sorlin (1980; 1992), Christian Délage (2013), na França, Jorge Nóvoa (2009), no Brasil, e Robert Rosenstone (2010), nos Estados Unidos, discutiram a forma de trabalhar os filmes, trazendo novas possibilidades para os historiadores desenvolverem métodos para análise de filmes históricos.
No âmbito do ensino de História, muitas produções sobre o uso de filmes em sala de aula pelo professor já foram desenvolvidas. A tese central é que o cinema não pode ser tratado como uma forma de “diversão” ou “passatempo” para os alunos e o professor e os filmes utilizados em sala devem passar por um planejamento para utilização, pois é uma ferramenta importante para ilustrar determinados períodos aos alunos, a partir dos diversos elementos existentes em um filme.³ Nesse sentido, a operacionalização do uso das produções cinematográficas se dá a partir de narrativas históricas, atreladas a algum período que está sendo estudado em sala.
Desta forma, precisamos partir para algumas reflexões: por que somente filmes históricos? É possível trabalharmos com outras possibilidades? O objetivo deste artigo é analisar o uso de filmes de ficção como ferramenta de debate em sala de aula. Para tal, utilizaremos exemplos de análise que podem ser feitos com filmes de grande bilheteria nos Estados Unidos (blockbusters), que possuem maior alcance nas diferentes localizações e classes sociais.
A tese central que desenvolvemos nesse trabalho é que é possível trabalhar com filmes de ficção nas aulas de História. Partindo da conceituação de Marc Bloch em Apologia da História ou o Ofício do Historiador em que o autor diz que “História é o estudo dos homens no tempo” e que a História do Tempo Presente é um campo de trabalho consolidado para os historiadores, as produções cinematográficas de ficção possuem uma estreita relação com os anseios daquela sociedade no período em que o filme foi produzido. Desta forma, analisar as grandes bilheterias é compreender uma representação da sociedade, a partir de suas agendas e posicionamentos enquanto grupo.
Para desenvolvermos nossa tese, é preciso compreender a forma de funcionamento do cinema enquanto uma indústria cultural consolidada, que possuiu relações estreitas com a sociedade. Desta forma, analisaremos o papel de Hollywood nesse processo para então realizarmos um exercício de trabalho com filmes de grande bilheteria, como Avatar (2009) e Os Vingadores (2012).

Cinema das massas – o sistema de Hollywood
O cinema foi uma inovação tecnológica que desde sua criação no final do século XIX foi voltado para o grande público. Ao contrário das casas de ópera e dos teatros da época, exclusivos para as camadas mais abastadas da sociedade, as exibições de filmes eram para trabalhadores, custando apenas um nickel (cinco centavos de dólar) nos Estados Unidos nos primeiros anos do século XX.
O complexo de Hollywood é fruto da mudança de localização de diversas produtoras independentes devido ao truste formado em 1907 pelas maiores empresas cinematográficas dos Estados Unidos chamado de Moving Picture Patents Company (MPPC).² Além do truste, outra causa das mudanças de diversos produtores para a costa oeste dos Estados Unidos deve-se à cobrança de patentes da empresa de Thomas Edison, localizada em Nova Jersey, que reclamava a exclusividade do uso da tecnologia utilizada para a gravação e exibição de filmes.
Clima, vegetação e paisagens também contribuíram para a mudança das companhias para o oeste dos Estados Unidos, permitindo a utilização da paisagem próxima aos estúdios para gravação de filmes. Este fator é fundamental para compreendermos a quantidade de westerns (faroestes) lançados pelas produtoras, o principal gênero de filme norte-americano nos primeiros anos do cinema no país.
O sistema de produção de Hollywood foi sendo desenvolvido com objetivo de lançar grande quantidade de filmes para produzir lucro aos produtores. Os estúdios no local passaram a centralizar todas as etapas de produção de filme: gravação em lugares fixos ou paisagens próximas ao complexo, processo de edição, organização, divulgação e distribuição. O objetivo do complexo era manter a produção de filmes em escala, possibilitando as mais de 20 mil salas de cinema dos Estados Unidos nos anos 1910, ter novos trabalhos cinematográficos em exibição semanal, pois a fórmula inicial, em que os lançamentos eram exibidos quinzenalmente, não era suficiente para manter o funcionamento de todas as salas de cinema.
A dificuldade em torno da manutenção dos cinemas estava na estrutura complexa que existia no funcionamento das mesmas. Segundo o professor emérito da Universidade de Maryland, Douglas Gomery, o sistema implantado em 1916 pela empresa Balaban & Katz, em Chicago, obteve muito sucesso e foi disseminado por todo o país (1997; 43-52). Segundo o autor, a empresa adotou uma estratégia em 5 estágios para captação de público no cinema:
1.      Localização: a escolha do local para ser construída sala de cinema deveria ser através do critério de concentração de capital. Considerando que a sociedade norte-americana trabalhava no centro da cidade e a classe alta possuía prédios na região, Balaban & Katz montavam cinemas nestas regiões, pois assim as salas estariam sempre cheias, devido ao grande volume de filmes lançados.
2.      Arquitetura: os cinemas, como ficavam em locais com grande circulação de capital, grandes construções com design clássico, que remetiam à França e Espanha, com detalhes de arte contemporânea. As casas possuíam escadas monumentais, tornando a entrada do público um momento espetacular, com salões espaçosos e um grande letreiro luminoso na entrada. As salas eram baseadas nos grandes teatros e casas de ópera, onde as pessoas eram divididas em balcões e plateia.
3.      Serviços: durante os primeiros anos do cinema, não existia uma preocupação em fazer filmes voltados para o público infantil, dificultando o acesso das famílias ao cinema. Diante deste quadro, Balaban & Katz ofereciam um serviço para cuidar de crianças em locais específicos nos cinemas: grandes salas com brinquedos eram construídas para pais deixarem seus filhos com pessoas contratadas para cuidar deles durante a exibição do filme.
4.      Atrações: eventos especiais eram realizados durante feriados, como musicais e rápidos shows de palco que antecediam o filme. Além disso, uma orquestra se localizava dentro da sala para tocar música de acordo com o gênero e cenas dos filmes, para melhorar a experiência do público.
5.      Estrutura: antes do sistema de Balaban & Katz, os cinemas nos Estados Unidos ficavam fechados na época do verão por causa do calor intenso nas salas de projeção. Além de todo o serviço oferecido ao público, a empresa também fez os primeiros experimentos de ar-condicionado no cinema, através da utilização de sistema de gelo picado nas tubulações, possibilitando a abertura das salas. O ar-condicionado foi um dos principais meios de captação do público, pois as propagandas durante o verão utilizavam o cinema, além de ser diversão, como um meio de amenizar a temperatura da época.
O sistema implantado por Balaban & Katz foi disseminado por todo o país com muito sucesso e todos os elementos analisados acima ainda permanecem como estratégia de captação de público no cinema.
O sistema hollywoodiano para obtenção de lucro com o cinema também permitiu o desenvolvimento da imagem dos artistas, que eram utilizados como ferramenta publicitária dos filmes. Com isso, as preferências por determinados atores permitiram a constituição de grupos de fãs, que compravam revistas sobre a vida das estrelas. Assim, o sistema de estrelato (star system) se consolidou nos Estados Unidos, levando o modelo para outros países.

Os códigos de conduta da indústria cinematográfica norte-americana: da criação do monopólio ao lobby político
Um dos elementos fundamentais para situarmos o desenvolvimento do cinema norte-americano como uma indústria produtora de filmes com histórias comuns é o estabelecimento de códigos de conduta dos filmes. Segundo Douglas Gomery (2008), estes códigos serviam para garantir o monopólio da produção e, principalmente a distribuição de filmes nos Estados Unidos, uma vez que o número de produtoras naquele momento propiciava uma alta concorrência nas grandes cidades.
A primeira tentativa de monopólio a partir da formação de trustes foi o Motion Pictures Patent Company (MPPC), fundado por Thomas Edison em 1908 para controlar o uso de equipamento pela Biograph, Edison, Vitagraph e empresas concorrentes no cenário internacional, como a Pathé. O acordo tinha como objetivo enfraquecer as produtoras que estavam surgindo e criar modelos para o cinema norte-americano. Neste sentido, o processo de produção de filmes foi padronizado desde a quantidade de rolo, que determinava a duração, até o processo de distribuição, só permitido para salas cadastradas ao grupo. Com o desenvolvimento de outros gêneros, principalmente o épico, e o fortalecimento de Hollywood, o MPPC foi a falência em 1918, devido a sua iniciativa ter sido considerada ilegal nos Estados Unidos (GOMERY, 2008; p.7), acompanhado da instauração do modelo industrial pensado por Adolph Zukor, dono e fundador da Paramount Pictures.
Adolph Zukor estruturou um modelo de produção nas bases industriais. O sistema de estúdio, em que as várias etapas da elaboração do filme são feitas em um local, possibilitou o aumento da produtividade das empresas em crescimento, que passaram a dominar o mercado norte-americano a partir da década de 1920, quando os filmes sonoros começaram a ser realizados. Neste contexto, são criados diversos organismos para controlar a produção e manter o monopólio dos Big Five, composto por Paramount, MGM, Fox, Warner e RKO, como a Motion Picture Producers and Distributors of America (MPPDA) em 1922 por Will H. Hays.
Hays, presidente do órgão entre 1922 e 1945, montou uma série de regras ao longo da década de 1920, conhecidas como Código Hays, que as empresas deveriam cumprir para terem seus filmes distribuídos para os cinemas do país. Os filmes não poderiam ter cenas de sexo, nudez, cenas de amor prolongadas, tornar vícios atraentes, como o jogo e a bebida, ofender crenças religiosas, enfatizar violência e divulgar gestos vulgares (GOMERY, 2008. P. 67). Com isto, Hays, influente no Partido Republicano, argumentava que a própria indústria tinha seus mecanismos de censura, conseguindo findar as tentativas de intervenção do governo na produção de filmes. Porém, com os anos 1930 e a entrada de Franklin Delano Roosevelt na presidência dos Estados Unidos, Hays precisou ceder e aliou o código de conduta com as exigências do governo, firmando uma parceria que embasaria a produção de filmes ao longo da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria. Com a morte de Roosevelt em 1945, Hays é substituído do cargo pelo Eric Johnston, republicano e membro da Câmara de Comércio dos Estados Unidos.
Johnston formulou o código pensado por Hays durante a Guerra Fria, baseado no anticomunismo idealizado pelo presidente Henry Truman e o senador Joseph McCarthy. Sua primeira iniciativa foi alterar o nome do órgão para Motion Pictures Association of America(MPAA), nomenclatura existente até os dias atuais. Segundo Gomery, Johnston utilizou sua grande influência tanto na política quanto em Hollywood para projetar os ideais norte-americanos pelo mundo, sendo considerado um melhor gestor do que Hays. Uma das principais tomadas por Jonhston medidas foi a revisão do código com objetivo de conseguir competir com a indústria da televisão, que tinha uma proposta de levar a experiência do cinema para as casas das famílias.
Com a mudança do código escrito por Will Hays, novas temáticas passaram a ser abordadas no cinema, tornando a proposta dos filmes mais ousada e trazendo mais público para as salas de cinema. Neste sentido Johnston, foi um ator central para o aumento da divulgação de filmes que quebravam alguns tabus da sociedade norte-americana, principalmente em relação ao sexo e à violência. Ele morreu em 1963, deixando vaga a presidência da MPAA, que foi assumida pelo interino Ralph Hetzel até 1966, quando foi indicado pelos estúdios o lobista Jack Valenti, assistente do presidente Lyndon Johnson, que ficaria no cargo até 2004.
Segundo Gomery, Valenti foi responsável por findar a maioria dos pontos pensados pelo conjunto de regras escritas por Hays, seguidas da flexibilização proposta por Johnston. Uma das primeiras medidas feitas em relação ao código foi em 1968, quando adotou o sistema de classificação etária para o cinema, divididos em quatro categorias que definiam o público de cada filme. Este sistema passou a ser utilizado também pela televisão a partir dos anos 1990.
Com uma boa relação com democratas e republicanos, utilizou sua influência em Washington para aumentar o poder dos grandes estúdios, fortalecendo ainda mais a indústria cinematográfica norte-americana. Além disso, foi responsável por conseguir realizar as transmissões da entrega do Oscar4 em todo o mundo a partir de 1969. Com a internacionalização da cerimônia da premiação da indústria cinematográfica norte-americana, os estúdios ganharam mais força em outros países, expandindo seus modelos de produção para outros mercados.5
Valenti ficou na presidência da MPAA até 2004 devido sua grande influência política. Segundo Gomery, para obter apoio do governo, ele cedia atores do cinema e da televisão para campanhas políticas e atuou em todas as eleições, desde Nixon até George W. Bush. Isto o transformou no lobista mais bem pago dos Estados Unidos nos anos 1990, ganhando cerca de 100 mil dólares por ano para sustentar o poder da indústria cinematográfica em Washington (2008; p. 288-298).
Após a saída de Jack Valenti, foi indicado o democrata Dan Glickman para o cargo. Antigo secretário da agricultura no governo Clinton entre 1995 e 2001, foi indicado para alterar a forma de trabalho da MPAA e integrá-la ao mundo digital, tecnologia que havia se desenvolvido ao longo do fim do século XX e já estava popularizada em 2004. Um dos maiores desafios de Glickman foi a tentativa de combate à pirataria virtual6, acompanhando o que a indústria fonográfica já havia feito no início dos anos 2000, quando o criador do Napster foi processado por pirataria por representantes do Metallica, banda de trash metal fundada nos anos 1980.7
Em 2011, o cargo foi assumido por Christopher Dodd, senador do estado de Connecticut pelo partido democrata entre 1981 e 2011, que continuou a luta contra os crimes na internet, sendo um dos principais apoiadores da SOPA, uma proposta para criar um conjunto de leis com objetivo de regularizar a navegação na internet, colocando a responsabilidade da pirataria nas pessoas que disponibilizam o material na rede e nos que fazem o download do mesmo.8A atuação destas lideranças da MPAA durante o século XX nos mostra como que a indústria cinematográfica está relacionada à política norte-americana. Além da produção de filmes de propaganda na Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e na Guerra contra o terrorismo, as relações entre os estúdios e os partidos eram estabelecidas para fortalecer a indústria e a própria imagem dos políticos. A criação de um "código de disciplina" pelo cinema começou como uma tentativa de fortalecer um determinado grupo e terminou como jogada política, conduzida por lobistas e membros dos governos.

Realizando um exercício: Avatar e Os Vingadores
Partindo da análise da indústria cinematográfica norte-americana em que toda produção deve ser voltada para obtenção de lucro para os investidores e a parte mais expressiva do montante é oriunda das bilheterias internas e externas aos Estados Unidos, os filmes de grande audiência nos cinemas nos mostram um padrão de preferência da sociedade, que consome agendas contidas no subtexto dos longas-metragens.
Escolhemos para o artigo filmes que estão entre as maiores bilheterias dentro e fora dos Estados Unidos. As análises serão realizadas a partir da compreensão dos debates do período em que os filmes foram realizados. Em 2009, período em que os debates sobre o funcionamento das instituições norte-americanas eram evidentes por conta dos problemas oriundos das guerras no Oriente Médio e da crise econômica que levou uma série de grandes empresas à falência no país, Avatar é lançado com uma pauta de discussão sobre o meio ambiente, o papel predatório das indústrias de mineração e a relação entre culturas e povos diferentes.
Avatar (James Cameron, 2009, 162 min), é a maior bilheteria do cinema norte-americano fora do país e a segunda maior dentro dos Estados Unidos9, sendo batido pelo sétimo filme da saga Star Wars em 2015. Avatar nos mostra a história do soldado paraplégico Jake Sully (Sam Worthington), que é chamado para substituir seu irmão gêmeo em um trabalho de levantamento antropológico e ambiental durante uma missão de exploração de recursos no planeta Pandora no ano de 2154. Ao chegar ao local, Sully é integrado à equipe da doutora Grace Augustine (Sigourney Weaver) para assumir o controle do Avatar, uma criatura construída em laboratório com as mesmas condições biológicas dos seres de Pandora, produzido para ser utilizado pelo seu irmão.
Em 2012, ano de eleições presidenciais nos Estados Unidos, os debates sobre segurança e instituições ainda eram recorrentes, quando Os Vingadores, produzido pela Marvel Studios, foi lançado. O filme tem uma pauta de relação tensa entre povos diferentes (mais um filme de seres humanos contra extraterrestres) e o debate sobre privatização da segurança do país, presente em outros filmes da série Homem de Ferro.
Os Vingadores (The Avengers, Joss Wheldon, 2012, 143 minutos), quinto da lista das maiores bilheterias dentro e fora dos Estados Unidos, conta a história da tentativa de invasão da Terra por seres alienígenas que vieram ao planeta para exterminar a raça humana. Para combater tal ameaça, é acionado o grupo dos vingadores, formados por heróis icônicos, além do Capitão América, como o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Hulk (Mark Ruffalo) e Thor (Chris Hemsworth), que se unem para lutar contra os alienígenas invasores na cidade de Nova Iorque. O objetivo dos heróis é claro: união em situação adversa para proteger a liberdade do povo americano, uma vez que a invasão é feita a partir numa das maiores cidades dos Estados Unidos.
Analisaremos os dois filmes a partir das categorias de segurança interna, segurança internacional e a relação com o “outro”, temáticas de debates presentes desde os atentados de 11 de setembro, quando a política em relação aos países do Oriente Médio e potenciais ameaças se tornou uma agenda, perdurando nos governos Bush, Obama e Trump10.

Segurança interna
Em Avatar, há um debate importante com relação à defesa da vida e dos seus direitos, quando a tribo dos Omaticaya, que habitam o planeta Pandora, resolvem se defender contra a companhia de exploração dos recursos minerais, legitimando o ataque aos mercenários contratados para oprimir os habitantes e garantir a destruição da floresta. Desta forma, os Omaticaya, reivindicando o direito de defender sua propriedade (no caso, as árvores sagradas e as que abrigavam as pessoas), pegam em armas para lutar contra o invasor e vencem. A vitória, neste caso, legitima e reforça a Segunda Emenda.
No final de Os Vingadores, vemos um debate sobre a capacidade destrutiva dos heróis ser uma propriedade privada. Após a vitória do grupo contra os alienígenas, uma série de programas de televisão passam a discutir em como os heróis podem representar uma ameaça à sociedade, uma vez que eles possuem alto poder destrutivo. A resposta que conclui este debate é dada pela enfermeira salva pelo Capitão América: ele não pode ser considerado uma ameaça por ter poderes que tem um alto potencial destrutivo, pois suas habilidades foram utilizadas para salvar vidas e defender a cidade das consequências da invasão extraterrestre. A mesma questão ocorre nas histórias de Hulk, Homem de ferro e Thor. O monstro verde, em filmes anteriores, tenta ser controlado pelo exército e afastado da sociedade para evitar que a "arma" possa ser controlada por agente externos às forças de segurança do estado; Tony Stark, o homem de ferro, a partir de seus conhecimentos tecnológicos, declara que privatizou a paz mundial quando desenvolveu os protótipos da armadura que usa; e Thor teve sua arma capturada por agentes de segurança para evitar que saísse do controle dos órgãos do estado. Todos, em algum momento, foram considerados ameaças e depois absolvidos por terem salvado os cidadãos americanos.

Segurança internacional
No primeiro filme listado podemos ver o debate sobre política externa a partir da a questão da segurança internacional aliada à extração de recursos minerais. Podemos perceber este ponto quando analisamos a forma de atuação da corporação dirigida por Parker Selfridge (Giovanni Ribisi), que investe pesado em tropas mercenárias para garantir a segurança da empresa e "pacificar" a relação com os Omaticaya, resistentes à presença dos terráqueos em seu planeta. Ao mesmo tempo que o processo de securitização é implementado por mercenários, há uma tentativa de investimento na tribo, com intuito de facilitar o trabalho dos mercenários.  Estas medidas são realizadas para garantir a extração de minérios valiosos para a empresa, que seriam revendidos no planeta Terra por altas quantias. Desenvolvido como crítica por James Cameron, a corporação é um retrato dos Estados Unidos na guerra contra o terrorismo, quando o país utilizou empresas de segurança, como a blackwater, para garantir a segurança de empresas (principalmente as petroleiras) e agentes importantes localizados no Afeganistão e Iraque.
No segundo filme, a questão da política externa pode ser vista em determinados momentos na história: o primeiro, mais direto, é a reação do líder da iniciativa vingadores, Nick Fury (Samuel L. Jackson), quando a invasão extraterrestre é vencida pelos heróis. Fury é questionado pelos governantes por ter deixado os heróis "soltos" após a ação e ainda permitir que os fatos que ocorreram na cidade de Nova Iorque tenham se espalhado pelas emissoras de televisão pelo mundo. Em resposta, Fury afirma que sua decisão foi proposital, pois os demais seres que tentarem invadir ou atacar o país sofreriam as mesmas consequências que os alienígenas que tentaram destruir Nova Iorque. Desta forma, a política de manutenção da paz através de um aparato militar fortalecido se mostra clara no pensamento de Fury, que coaduna com o pensamento em relação à política externa americana desde o final da Guerra Fria.

Relação com o “outro”
A questão da relação com o outro também é um tema central em filmes listados nesta categoria. Em The Avengers, os extraterrestres são liderados pelo vilão Loki (Tom Hiddlestom), irmão de Thor, que planeja vingança por ter sido derrotado quando tentou usurpar o reinado de Asgard. Para tal, ele planeja uma invasão seguido de destruição do planeta Terra, local estimado por Thor e que possuía tecnologia para a migração entre mundos, importante para uma nova tentativa de entrar em guerra contra Asgard. O diálogo entre Loki e Tony Stark mostra que não há negociação de paz com o outro: enquanto o primeiro mostra a quantidade de alienígenas preparados para invadir Nova Iorque, o segundo reforça o poderio de suas armas e companheiros, com a frase: "nós temos o Hulk". Os seres invasores, como a maioria dos inimigos que enfrentaram os Estados Unidos ao longo do século XX, não possuem rosto, são todos iguais e comandados por forças externas desconhecidas, mas que não são páreo para o grupo de heróis, que, mesmo em menor número, conseguem destruir todos os alienígenas.
No caso de Avatar, o diretor James Cameron retratou uma guerra ocorrida pela defesa de um território e a exploração de recursos minerais, diferente do que foi realizado no filme da Marvel. Os Omaticaya assumiram o papel de insurgentes a uma ordem imposta pela empresa de mineração, podendo ser comparados ao povo iraquiano e afegão quando contrariados pela política norte-americana de apoiar governos impopulares e promover a entrada de empresas para explorar os campos de petróleo na região11.

Considerações finais
Partindo da análise de que todo filme deve ser compreendido pelos seus diversos textos e o subtexto (TEIXEIRA DA SILVA, 2004), que corresponde ao seu contexto de produção e lançamento, defendemos a tese de que filmes de ficção de grande público devem ser utilizados em sala de aula, de forma que o professor possa realizar um debate planejado e relacionado ao debate da sociedade contemporânea à obra cinematográfica. Desta forma, filmes que possuem uma maior facilidade de contato com os alunos poderiam ser relativizados pelo professor, que auxiliará no processo de reflexão do que está sendo discutindo na história.
Filmes de ficção nos mostram os anseios de uma sociedade contemporânea, em que os heróis e os vilões funcionam como uma representação dos medos e esperanças da sociedade. Obviamente, essas questões só podem ser pensadas a partir da obtenção de “experiências”, defendidas por Marc Bloch (2002) como um dos elementos centrais para o pesquisador desenvolver análises mais consistentes de um objeto.
As “experiências” para análise dos filmes de ficção e os filmes históricos se darão pela vivência dos alunos - a realidade de cada um, como defende Pierre Sorlin (1992) - e pelo papel do professor como mediador dessas informações, que são massificadas pelo cinema muitas vezes sem uma análise. Um dos exemplos mais expressivos desse caso é A vida é bela(La vitta è bella, Roberto Begnini, Itália, 1997, 117 min) em que, sem a devida contextualização e a compreensão de que o cinema não tem compromisso com a verdade, pode ser encarada de forma que o Holocausto possa ser relativizado, levando a acusações infundadas12.
Portanto, o filme deve ser visto para além de uma ilustração do passado. Ele pode ser compreendido pelo seu presente, analisando o ser humano em seu tempo, o elemento central para todo historiador. Essa percepção aumenta nossas possibilidades de trabalho com filmes em sala, auxiliando em atividades mais dinâmicas e lúdicas para nossos alunos, que se sentem mais próximos do que está sendo estudado.

Referências bibliográficas
FERRO, Marc. O filme: uma contra-análise da sociedade?. In: NORA, Pierre. História: Novos objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
GOMERY, Douglas. The Hollywood Studio System. In: NOWELL-SMITH, Geoffrey. The oxford history of world cinema: the definitive history of cinema worldwide. New York: Oxford University Press: 1997
______________.The Hollywood Studio System: A History. London: British Film Institute, 2008.
ROSENSTONE, ROBERT. A história nos filmes os filmes na História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010.
SILVA, F. C. T. Cinema e guerra: um encontro no presente. In: TEMPO, Rio de Janeiro, no. 16.
SORLIN, Pierre. Sociología del cine: La apertura para la historia de mañana. México: Fondo de Cultura Económico, 1992.
SOUZA, Éder Cristiano. O uso do cinema no ensino de História: Propostas Recorrentes, Dimensões Teóricas e Perspectivas da Educação Histórica. In: Escritas, vol 4, 2012.

Notas
1.      Professor adjunto do departamento de História da Universidade de Pernambuco – Campus Mata Norte.
2.      Muitos livros e artigos sobre a temática foram publicados. Para ter uma análise aprofundada sobre a questão, ver: SOUZA, Éder Cristiano. O uso do cinema no ensino de História: Propostas Recorrentes, Dimensões Teóricas e Perspectivas da Educação Histórica. In: Escritas, vol 4, 2012; MOCELLIN, Renato. O cinema e o ensino de História. Curitiba: Nova Didática, 2002.; NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003; NOVA, Cristiane. O Cinema e o conhecimento da História. In: Olho da História, n.º3, 2003.
3.      A união durou até 1911, quando a principal empresa de rolo de filmes participante do truste, Eastman Kodak, mudou o contrato de exclusividade e passou a vender material para produtoras independentes.
4.      O Oscar criado na década de 1920, sob o contexto do fortalecimento da indústria cinematográfica norte-americana. A primeira cerimônia ocorreu em 1929, quando a associação avaliou os filmes realizados nos dois anos anteriores. Entra as premiações dadas, podemos destacar: Melhor filme artístico, Melhor Diretor de filme dramático, Melhor roteiro adaptado, Melhor roteiro original, Melhor direção de filme de comédia, Melhor atriz, Melhor Ator, e Melhor Filme. Naquele momento, foram doze categorias avaliadas e não existiam todas as categorias que podemos ver nos últimos anos da entrega do Oscar, que acontece no final do inverno nos Estados Unidos (atualmente são 24, sem contar as premiações de homenagens).  A primeira premiação consolidou o poder da chamada Academia, que se expandiu ao longo da década de 1950, quando passou a ser exibida na televisão nos Estados Unidos. Para mais informações, ver: http://oscar.go.com/oscar-history Acesso em: 01/03/2017.
5.      A premiação para melhor filme estrangeiro começou em 1947, ao final da Segunda Guerra Mundial e deu a premiação para o filme italiano Sciuscià, de Vitorio de Sica. Nos primeiros anos, a premiação foi dominada pelos cinemas italiano, francês e japonês, que possuem 9 dos 10 primeiros prêmios entregues nesta categoria. Para mais, ver: http://www.oscars.org/awards/academyawards/legacy/ Acesso em 01/03/2017.
6.      Ver: CNET. MPAA wants ISP help in online piracy fight. Disponível em: http://www.cnet.com/news/mpaa-wants-isp-help-in-online-piracy-fight/ Acesso em 26/09/2014.
7.      Para mais informações, ver: Rolling Stone Brasil. Metallica x Napster aconteceu há 8 anos. Disponível em: http://rollingstone.uol.com.br/noticia/metallica-x-napster-aconteceu-ha-8-anos/#imagem0 Acesso em 01/03/2017.
9.      Ver: http://www.boxofficemojo.com/alltime/world/ Acesso em 01/03/2017.
10.  As perspectivas de cada governo em relação à temática são distintas: Bush defendeu a política de guerra contra o terrorismo, intensificando a presença das Forças Armadas norte-americanas no Oriente Médio e as fronteiras com os Estados Unidos; Obama retirou as tropas do Iraque e aumentou no Afeganistão e desenvolveu um debate sobre o controle de armas nos Estados Unidos; Bush, no início de seu mandato, discute a finalização do muro entre Estados Unidos e México e a proibição da entrada de imigrantes no país, oriundo das regiões de refugiados. Para ver mais sobre a política externa de bush e Obama, ver: VIDIGAL, A. A. F. Algumas tendências da Política Externa dos Estados Unidos após o fim da Guerra Fria. In: Intellector. Ano III, Vol. III, No.6. Rio de Janeiro, 2007; POWELL, Charles. La política exterior y de seguridad de Barack Obama: ¿Hacia un nuevo paradigma geopolítico estadounidense?. Real Instituto Elcano. Madrid, 2015.
11.  PODHORETZ, John. Avatarocious: Another spectacle hits an iceberg and sinks. The Weekly Standard, Vol 15. No. 15. 2009. Disponível em: http://www.weeklystandard.com/Content/Public/Articles/000/000/017/350fozta.asp# Acesso em 01/03/2017
12.  O filme foi considerado como negacionista, ou seja, que relativiza o Holocausto. Para mais, ver: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq16059830.htm Acesso em 01/03/2017.



40 comentários:

  1. Olá professor,

    Os filmes ficcionais são, na maioria das vezes, mais atraentes para o público escolar do que os filmes classificados como 'históricos', principalmente aqueles produzidos dentro da estética/narrativa tradicional estadunidense, que tanto alcança as salas de cinema brasileiras. Utilizo-me de diversas destas obras cinematográficas no meu planejamento, seja na íntegra ou através de recortes. Clube da Luta (David Fincher, 1999), Um Dia de Fúria (Joel Schumacher, 1993), Comando Para Matar (Mark L. Lester, 1985), são alguns exemplos entre tantos outros que podem ser utilizados no cotidiano escolar.

    Maicon Roberto Poli de Aguiar.

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    1. Olá, Maicon, boa tarde! Concordo contigo e acho que devemos nos atentar para a realidade dos nossos estudantes. Muito do que é visto por eles não é considerado em sala de aula e muitos discursos passam "batidos", sem nenhuma crítica.

      Temos que trabalhar esses filmes, sempre considerando o seu contexto de produção.

      Abraço, Igor.

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  2. Boa tarde, professor.

    Gostei bastante do texto pois refletiu e ampliou de forma significativa minhas ideias acerca dos filmes de ficção em uma análise social e historiográfica.

    Da mesma forma que Maicon exemplificou acima, também utilizei e utilizo tais filmes em sala de aula, assim como em aulas interdisciplinares e conjuntas com os professores de química, sociologia, literatura e matemática.

    Meu comentário vem mais no sentido de contribuir e trazer para a discussão o papel da coordenação e da direção da escola nesta empreitada. Em certa instituição que ministrei aula, foram longos meses de conversas e argumentação com os gestores para que eu pudesse utilizar esta categoria fílmica em aulas e que isso não configurasse "perda de tempo". Tal situação só foi resolvida quando os gestores foram convidados a assistir tal aula.

    Sendo assim, pergunto: quais os limites da liberdade do professor em definir uma metodologia diferente e inovadora no contexto escolar? Os currículos de graduação em historia e pedagogia abordam tais perspectivas?

    Heraldo Márcio Galvão Júnior

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    1. Olá Heraldo, boa tarde! Excelente colocação. Infelizmente, nosso currículo é pouquíssimo flexível, o que acaba nos levando a trabalharmos assuntos importantes de forma bastante rasteira, nos forçando a dar aquela velha aula expositiva, que é fundamental, mas pode ser mesclada com outros tipos de atividade.

      Penso com muita preocupação sobre o assunto, principalmente com as mudanças que estamos acompanhando na educação. A disciplina de História foi uma das únicas que não conseguiu fechar um texto conjunto para a Base Nacional Comum Curricular, e o apontamento para História ser um eixo eletivo para os estudantes do ensino médio nos traz uma apreensão acerca do nosso planejamento, além dos debates políticos.

      Abraço, Igor.

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  3. Boa tarde professor. Primeiramente gostaria de parabeniza-lo pela análise muito bem discutida com os filmes selecionados.
    Entretanto o senhor no início do texto afirma que o filme serve de ilustração, mas no final sentencia que deve ser visto além de ilustração do passado. Também defende a utilização do filme de ficção como meio de compreender o posicionamento no presente, e nisso concordo com o senhor. Mas, o que eu gostaria de compreender, é o seu posicionamento quanto aos filmes ditos históricos e os documentários? Eles podem ou não serem considerados como ilustração do passado? Ou também são expressões do presente em que foram produzidos?

    Grato pela atenção

    Matheus Mendanha Cruz

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    1. Olá Matheus, boa tarde. Agradeço pela sua colocação.

      Veja, o uso de documentários e filmes históricos é fundamental e está consolidado como uso para o historiador desde a década de 1970, quando Marc Ferro desenvolveu seus argumentos defendendo este tipo de fonte. Eles são considerados uma ilustração do passado, mas, como toda ilustração, ela dialoga bastante com o presente. Ou seja, as ilustrações mostram como nós do presente enxergamos o passado.

      Retomo aqui as ideias do historiador italiano Benedetto Croce, no livro "História como História da Liberdade", que afirmou que todo historiador é por natureza um homem de seu tempo. Sua vontade de estudar algum período da História tem a ver com a sua vivência em seu tempo presente. Assim, reforçando a máxima do autor, "Toda História é História Contemporânea".

      Abraço, Igor.

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  4. Olá professor. O Brasil passou 21 anos sob comando militar, e atualmente veio a público muitas atrocidades cometidas nesse período. Os filmes históricos e os documentários sobre Ditadura Militar no Brasil não colaborariam de forma mais intensa para nossos jovens entenderem esse tema tão importante de nossa história e se posicionarem na política atual do País?
    Vânia Farias Ferreira

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    1. Olá Vânia, boa tarde! Obrigado pela pergunta. A filmografia do período e sobre o período é vastíssima e acredito que ela só contribui para o debate. Devemos utilizar esses filmes em sala, com certeza, mas sempre lembrando aos nossos estudantes que toda as produções possuem um lugar de fala, que deve ser compreendido para analisarmos o que a mensagem contida no filme.

      Um abraço, Igor.

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  5. Prezado Igor, poderíamos pensar nos filmes de ficção relacionados com questões políticas, econômicas, sociais e culturais do contexto histórico em que são produzidos, o que possibilitaria um trabalho com tais filmes em sala de aula, pois o professor poderia abordar ou desenvolver trabalhos a partir desses temas. Minha questão gira em torno de filmes de ficção baseados em livros (ou mesmo em outros filmes - remakes) que produziram narrativas em contextos diferentes daquele vivido no presente, por exemplo, O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia (para seguir os exemplos de filmes produzidos por grandes estúdios e de grande bilheteria) que são dois filmes baseados em livros produzidos durante a Segunda Guerra Mundial e que, ao meu ver, podem ser mobilizados para trabalhar esse conteúdo, mas como o professor aconselharia a trabalhar as diferentes temporalidades que envolveram a produção dos originais e a produção dos filmes?
    Eduardo Roberto Jordão Knack

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    1. Olá Eduardo, nesse caso temos que analisar o contexto da produção de cada um dos filmes (os originais e o remake), assim como os livros. Cito o caso aqui de "Sete homens e um destino", lançado em 2016 e dirigido por Antoine Fuqua. O filme é um remake da versão de 1960 dirigida por John Turges e que nos mostra uma série de diferenças que podem ser relacionadas com as discussões do nosso tempo. Na versão de 2016, o líder do grupo é um negro (Denzel Washington) e temos diferentes tipos de etnia no grupo (asiáticos, latinos, índios), diferente da versão anterior. O filme foi lançado nos Estados Unidos no ano em que estávamos discutindo a possibilidade de Donald Trump ser eleito e os problemas étnicos que o país estava passando. Isso nos ajuda a pensar um pouco sobre os personagens.

      Com relação às obras de literatura, é a mesma operação. Temos que analisar as produções de acordo com o seu contexto e os pontos que elas nos chama mais atenção.

      Um abraço, Igor.

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  6. Olá professor. Gostei bastante do seu texto, pois apresenta o objetivo e faz análise do material proposto (algo prático e preciso). Tenho utilizado filmes nas minhas aulas da universidade próxima a sua perspectiva e recentemente estamos a trabalhar com projeto de extensão (filmes da História do Brasil) voltado para o Fundamental. Por mais que se fale que o filme é ótimo para o uso em aulas, o que venho percebendo é que permanece a utilização dos mesmo como divertimento ou para passar o tempo da aula. Tenho utilizado redes sociais para ampliar discussões em sala e trabalho o filme com os alunos lembrando e relembrando a eles que o filme é um texto tal qual o artigo que lemos e interpretamos. Temos tido experiências ricas, mas o caminho é logo. Teria sugestões de filmes e como trabalhar no campo da teoria da história? Agradeço

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    1. Olá Ivaneide, boa tarde! Obrigado pela pergunta.

      Acredito que primeiro temos que explicar aos estudantes que o filme pode ter a mesma validade de um documento histórico: assim, tentamos de alguma forma trazer o interesse para a nossa disciplina. Concordo contigo: o caminho é bastante longo e ainda passamos por alguns preconceitos ("o professor não quer dar aula, e está passando filme!").

      Uma das formas de tentarmos resolver isso é fazermos um roteiro de análise do filme, em que o aluno deverá responder algumas questões baseadas na leitura do roteiro e no filme que está assistindo. Após a sessão, podemos promover um debate, relacionando pontos específicos a determinados assuntos trabalhados em sala.

      Sobre filmes e teoria da História, indico dois: "Uma cidade sem passado" (1990), que trabalha o ofício do historiador, e "Negação" (2016), que possui um debate acerca dos negacionistas, desenvolvendo a discussão sobre a relação entre verdade e memória.

      Abraço, Igor.

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  7. Olá professor. Acho esplendido utilizar as produções cinematográficas no ensino de história, E não só os filmes, mas também novelas e outros, trabalhando em várias perspectivas como a da política, cultura, economia podendo ser abordadas por meio de diferentes técnicas como a analogia, ilustração e a própria crítica social. no entanto, para que se consiga um bom resultado percebo que é necessário que o professor tenha um entendimento teórico e metodológico sobre as formas de analises e sobre os contextos que se pretende demonstrar, o que muitas vezes não acontece com a maioria dos professores. Neste ponto gostaria de saber que indicações você daria para um professor iniciante que deseje trabalhar com os filmes nas aulas de História no ensino básico? Ass: Márcia Cleide Lustosa de Aguiar.

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    1. Olá Márcia, boa tarde! O primeiro ponto é o planejamento. Existem diversos artigos e livros que indicam a forma de se trabalhar cinema em sala de aula. Cito alguns no texto acima. Após a leitura, você deve escolher um filme que se relacione com o tema que será estudado, e que esteja de acordo com a faixa etária do seu público (não adianta escolher um filme de linguagem complexa para jovens que ainda não possuem maturidade para compreender o que estão assistindo).

      Com a leitura e o filme escolhidos, você deve então desenvolver um ponto central para análise do filme: como você quer que os estudantes assistam ao filme? Quais são os elementos que eles devem prestar atenção? Fazendo isso, você produz um roteiro para que eles possam ler para assistir ao filme. Com isso, você possibilita um debate produtivo que sempre deve estar relacionado ao ponto que está sendo trabalhado em sala.

      Um abraço, Igor.

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  8. Boa noite professor

    Obras cinematográficas como recurso servem para complementar o conteúdo ministrado e têm sido bastante utilizadas. No entanto, se não forem bem pensadas podem desviar os alunos do objetivo e deixá-los dispersos.
    Pergunto ao Sr se existem técnicas para o uso de filmes em aula?

    Heloisa Helena Campelo Rodrigues da Rocha

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    1. Olá Heloísa, boa tarde. Existem diversas técnicas que podemos utilizar para trabalhar os filmes em sala de aula que são desenvolvidas em artigos e livros citados no texto acima. O professor Marcos Napolitano, por exemplo, é um desses autores que desenvolveu a questão e pode te ajudar.

      O principal é que você tenha um bom planejamento. O filme não pode ser escolhido em cima da hora da aula, como se fosse um substituto. Ele deve ser bem pensado e um roteiro deve ser disponibilizado para que os estudantes possam ler e analisar o filme de acordo com os pontos a serem trabalhados.

      Um abraço, Igor.

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    2. A utilização de imagens é recente no ensino e o filme cinematográfico aparece hoje ser matéria prima privilegiada em auías de história.
      Para que o uso do filme se constitua em um instrumento de reflexão sobre a sociedade e seus modos de ser e não se transforme simplesmente num complemento para preencher algumas horas do calendário escolar o que o professor deve considerar sobre o filme que apresenta aos alunos?

      Ass.

      ANTONIO AUGUSTO DA SILVA AZAMBUJA

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  9. Boa noite professor

    Obras cinematográficas como recurso servem para complementar o conteúdo ministrado e têm sido bastante utilizadas. No entanto, se não forem bem pensadas podem desviar os alunos do objetivo e deixá-los dispersos.
    Pergunto ao Sr.se existem técnicas para o uso de filmes em aula?

    Ass.
    Heloisa Helena Campelo Rodrigues da Rocha

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  10. Ótimo texto professor. No intuito de utilizar dessa metodologia qual melhor forma tu acreditas que seja eficaz? Passar o filme na sala de aula na íntegra ou apenas a (s) parte (s) que deseja trabalhar com os alunos? Ou solicitar aos mesmos que vejam em casa para, após, debaterem em sala de aula?

    Leonardo Moura Campani

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    1. Olá Leonardo, boa tarde! Obrigado pela resposta.

      A forma em que o filme será passado depende muito do planejamento. Se você tem condições de trabalhar o filme completo em sala, é sempre benéfico, pois se você tiver um roteiro bem planejado, haverá uma série de pontos a serem destacados pelos alunos. A exibição de trechos deve ser feita com muito cuidado, pois, como é sabido, muitas partes só são compreendidas se tivermos acesso ao todo. Assim, a análise de um trecho pode não alcançar o resultado desejado.

      Os filmes assistidos fora de sala devem ser muito bem amarrados com alguma atividade, para que os estudantes possam encarar o ato de ver o filme como uma tarefa importante para a sala de aula.

      Tudo vai depender da carga horária, estrutura e dinâmica com a turma.

      Um abraço, Igor.

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  11. Durante a exibição de filme é comum professores lidarem com essa fonte como exemplificação de um período e esquecer de refletir sobre a dimensão ficcional e o papel de diversos agentes na elaboração do filme na atualidade (diretores, produtores, redatores, entre outros), o que acabar por induzir leituras equivocadas de um período histórico, absorvendo muitas vezes o discurso dos idealizadores do filme que nem sempre estão ancorados na verossimilhança. Como superar este uso do filme em sala de aula? Como os professores de história podem dialogar com os críticos de cinema para compreender as etapas de produção de um filme? No tocante ao uso de filmes abertamente ficcionais nas aulas de história, como exibir "Avatar" (aproximadamente 2h40 de duração) em 1h40 de aula por semana no Ensino Médio sem comprometer o planejamento pedagógico? Como persuadir outros professores a cederem aulas para alunos assistirem aos "Vingadores"? Como tornar a exibição de filmes ficcionais atuais viáveis num planejamento pedagógico em que cada vez se exige mais conteúdos dos professores de história e menos aulas são ofertadas? Por fim, como desenvolver atividades de avaliação após aulas com filmes?
    Gustavo Lion Alves de Oliveira

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    1. Olá Gustavo, obrigado pelas perguntas.

      Veja, é um grande desafio trabalharmos filmes em sala de aula. De Chaplin à "Os Vingadores", muitas vezes temos dificuldades com o uso de filmes em sala. Isso se deve a um currículo engessado, que embora diga que se valha de uma construção coletiva com a sociedade, esquece que os estudantes deveriam ser o ator principal na maioria dos casos. Assim, temos estruturas que não dialogam com os nossos jovens.

      O uso dos filmes vai depender muito do nosso planejamento. Se o amarrarmos a uma atividade bem organizada, o estudante pode até assistir em casa. Porém, isso deve ser bem explicado pelo professor, que elaborará um roteiro de análise do filme.

      Com relação aos conteúdos, os filmes podem trabalhar conteúdos de forma rica, assim como um documento. Isso, repito, dependerá da escolha e da forma que ele será trabalhado em sala. A avaliação pode ser feita a partir da participação em debates e preenchimento de um questionário elaborado pelo professor.

      Um abraço, Igor.

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  12. Carla Cristina
    Bom Dia!
    Igor
    Você considera o filme uma fonte histórica?

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    1. Olá Carla, boa tarde. O filme é uma fonte histórica consolidada desde a década de 1970 e a cada dia que passa vem sendo mais utilizado pelos historiadores. Ele é uma fonte tão importante quanto um documento que está arquivado.

      Abraço, Igor.

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  13. Por ser muito relevante aprofundar a temática sobre como ensinamos história que, achei essa reflexão atualissima e pertinente uma vez que, também uso filmes contextualizando-os ao conteúdo da ocasião. Observei que o uso de filmes no Ensino Médio é melhor avaliado pelos alunos que no Ensino Fundamental.. sempre uso o filme "A lista de Schindler" no conteúdo Segunda Guerra Mundial (3°ano) e os alunos amam. É importante que os alunos relacionem o conteúdo que estudam nos livros com as imagens em movimento do filme pois, apesar de ser uma ficção (e eles compreendem este ponto), com o filme podem fazer relações de fatos como o holocausto, por exemplo, vendo como foi esse horror.Acredito que, e pesquisas mostram, o poder das imagens é indiscutível sobrepondo ao das palavras. Concordo então, com o autor que observa a importância do filme em sala aproximar o aluno dos conteúdos estudados, sendo, portanto, um objeto didático indispensável na era das imagens.

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    1. Olá Rute, bom dia! Obrigado pela sua colocação. Com certeza, o filme pode ser muito benéfico em sala de aula.

      Um abraço, Igor.

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  14. Por ser muito relevante aprofundar a temática sobre como ensinamos história que, achei essa reflexão atualissima e pertinente uma vez que, também uso filmes contextualizando-os ao conteúdo da ocasião. Observei que o uso de filmes no Ensino Médio é melhor avaliado pelos alunos que no Ensino Fundamental.. sempre uso o filme "A lista de Schindler" no conteúdo Segunda Guerra Mundial (3°ano) e os alunos amam. É importante que os alunos relacionem o conteúdo que estudam nos livros com as imagens em movimento do filme pois, apesar de ser uma ficção (e eles compreendem este ponto), com o filme podem fazer relações de fatos como o holocausto, por exemplo, vendo como foi esse horror.Acredito que, e pesquisas mostram, o poder das imagens é indiscutível sobrepondo ao das palavras. Concordo então, com o autor que observa a importância do filme em sala aproximar o aluno dos conteúdos estudados, sendo, portanto, um objeto didático indispensável na era das imagens.

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  15. Por ser muito relevante aprofundar a temática sobre como ensinamos história que, achei essa reflexão atualissima e pertinente uma vez que, também uso filmes contextualizando-os ao conteúdo da ocasião. Observei que o uso de filmes no Ensino Médio é melhor avaliado pelos alunos que no Ensino Fundamental.. sempre uso o filme "A lista de Schindler" no conteúdo Segunda Guerra Mundial (3°ano) e os alunos amam. É importante que os alunos relacionem o conteúdo que estudam nos livros com as imagens em movimento do filme pois, apesar de ser uma ficção (e eles compreendem este ponto), com o filme podem fazer relações de fatos como o holocausto, por exemplo, vendo como foi esse horror.Acredito que, e pesquisas mostram, o poder das imagens é indiscutível sobrepondo ao das palavras. Concordo então, com o autor que observa a importância do filme em sala aproximar o aluno dos conteúdos estudados, sendo, portanto, um objeto didático indispensável na era das imagens.

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  16. Boa noite. professor, gostei muito do seu texto.Sobre a colocação do filme como um outro texto, pergunto. Com distanciar ou aproximar a ficção da narrativa historica.

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    1. Olá Ribamar, bom dia. A relação da ficção com a narrativa histórica é a chave do nosso texto. Aqui, pensamos que a análise sobre o contexto da ficção é fundamental para relacionarmos os filme como fonte.

      Outro ponto importante sobre a relação entre os filmes de ficção e a narrativa histórica é o argumento formulado por Robert Rosenstone, quando afirma que o filme é igual a um livro. Tanto a ficção quanto a narrativa histórica são oriundas de visões sobre um determinado ponto, que está diretamente relacionado ao contexto de sua produção.

      Um abraço, Igor.

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  17. Este comentário foi removido pelo autor.

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  18. Olá professor. Adorei a leitura de seu texto, particularmente por tratar de filmes de ficção onde residiam muitas de minhas dúvidas, parabéns! Em uma de suas respostas, você alertou para a necessidade de nós professores trabalharmos com os alunos, acerca de que "todas as produções possuem um lugar de fala", no que concordo completamente, aliás, considero essencial no trabalho pedagógico com filmes. Mas a minha pergunta é, trabalhar essa perspectiva no ensino superior e ensino médio é bem tranquilo, mas e no ensino fundamental? Já que os pequenos ficam bastante atraídos pela junção imagem e som?
    Ana Rosa Sudário Rodrigues

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    1. Olá Ana, obrigado pela resposta. Temos que utilizar os filmes em sala de acordo com a realidade de cada turma. Se formos trabalhar com o ensino fundamental, é possível utilizar filmes mais curtos (ou até mesmo desenhos) e de fácil linguagem. Não adianta trabalharmos pontos super complexos para a idade, pois não teremos um bom resultado.

      O fundamental é explicar o conteúdo que será trabalhado primeiro, apresentar a proposta da atividade e depois passar os filmes. Por exemplo: ao trabalhar a segunda guerra mundial, podemos passar os vídeos de propaganda, feitos em desenho animado. Talvez o melhor exemplo seja o Pato Donald em Der Fuhrer's Face. É curto (tem uns 10 minutos) e pode ser trabalhado uma série pontos interessantes.

      Um abraço, Igor.

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  19. Olá, Professor,

    O seu questionamento quanto a limitação do uso de filmes "históricos" é muito importante, pois penso que a arte pode enriquecer as discussões muito além de uma verossimilhança histórica. Por exemplo, os filmes de Quentin Tarantino, Jango Livre, Bastardos Inglórios superam a verossimilhança, e penso que este último pode gerar discussões muito mais interessantes sobre as possibilidades de pensar a histórica do que por exemplo, o filme 12 anos de escravidão, possivelmente com uma maior verossimilhança. Penso que a dicotomia "ficção" versus "realidade" não é um critério interessante para análise de obras de arte. Gostaria de saber o que você pensa sobre isso?

    Obrigado
    GABRIEL PASSOLD

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  20. Boa tarde, prof Igor. Parabéns pelo breve porém esclarecedor texto aqui apresentado. Trabalho com o uso da linguagem audiovisual desde a monografia de graduação em história e agora no mestrado busco desenvolver pesquisa acerca dos usos do cinema como ferramenta para o ensino da temática indígena em sala de aula. Partindo de leituras como as do clássico de Marc Ferro, Michele Lagny, Pierre Sorlan ou mesmo Rosenstone, penso que há em comum em todos eles uma certa resistência em pensar as implicações estéticas do filme como passíveis de também auxiliarem na reflexão acerca das intencionalidades de representação de um determinado objeto ou período. Nesse sentido, qual a sua opinião acerca das possibilidades de análise das implicações estéticas do filme para as reflexões acerca da relação Cinema e História?
    Renata Carvalho Silva.

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  21. Boa tarde, Professor Igor.

    Seu texto é relevante do ponto de vista do ensino da história, sobretudo, porque problematiza a rica possibilidade de trabalhar o filme ficcional em sala de aula.

    Outro ponto que gostaria de ressaltar é o estudo do tempo presente.

    Neste aspecto, gostaria que discorresse sobre a partir de que autores pensa tempo presente?

    Por fim, tenho intetesse em desenvolver uma Mostra de História e cinema voltada para a história do Brasil. Poderia contribuir com orientações de natureza teórica e metodológica?

    Paz e bem.

    Francisca Márcia Costa de Souza

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