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Gabriel Birkhann

OS USOS DE JORNAIS DE ÉPOCA NO ENSINO DE HISTÓRIA: UMA PERSPECTIVA TEÓRICA, DIDÁTICA E METODOLÓGICA
Gabriel dos Santos Birkhann
Especialização em Gestão do Trabalho Pedagógico pela FAVENI

Em primeiro lugar, destaca-se que esta comunicação se trata de uma discussão científica, que tem como objeto o uso de jornais de época no ensino de História. O ensino de História suscita, nos dias atuais, alguns questionamentos a respeito de alguns aspectos que ocorrem na sala de aula, nos diferentes níveis e modalidades de ensino.
Um desses aspectos refere-se à metodologia adotada e aos recursos didáticos utilizados durante o processo de ensino-aprendizagem, os quais muitas vezes não se encontram em sintonia com as demandas dos diferentes discentes.
 Sabe-se que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9394/96 (também conhecida como “LDB” ou “LDBEN”), em seu artigo segundo reza que “a educação (...) tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Neste sentido, faz-se necessário refletir sobre a inclusão de novos recursos e metodologias de ensino no ambiente escolar. Como base da discussão, indica-se o jornal como um recurso didático importante e o debate, mediado pelo professor, como uma metodologia adequada.
Pretende-se, portanto, nesta comunicação reconhecer as fontes impressas, especialmente os jornais, como instrumentos necessários à pesquisa e ao ensino de História.
Por isso, percebendo o quão notório é o grande desafio que os docentes enfrentam no exercício das atividades inerentes à sua profissão, entendeu-se que promover a reflexão sobre os benefícios que a utilização de jornais no ensino de História pode acarretar seria não só necessário, como urgente.  Entende-se que a superação de práticas pedagógicas anacrônicas não é somente indicada, mas viável em termos de ensino e aprendizagem.
De modo a se obter embasamento teórico, pode-se recorrer à Libâneo (2014, p.40), que com sua contextualização a respeito das tendências pedagógicas nos mostrou a importância de se levar à sala de aula conteúdos “concretos e, portanto, indissociáveis das realidades sociais” (p.40), tal como a Tendência Crítico-social dos Conteúdos preconiza. Além disso, a professora Souza (2010, p.1), por seu turno, colocou a importância de se evitar a chamada “farsa do planejamento”, na qual o improviso é constante.
Ou seja, compreende-se também que é necessário que o professor se atenha ao Plano de Ensino da Disciplina que ministra, observando o tempo que dispõe, além das condições e limitações físicas do seu ambiente de trabalho.
Isso não implica, é claro, em uma rigidez, mas somente em um cuidado necessário já que o docente deve preparar a turma de modo que ela entenda que os próprios documentos são objetos de transformações históricas.
É mister destacar que os “PCNs” para a área de Ciências Humanas e suas Tecnologias destacam justamente isso, colocando que os alunos devem compreender o jornal não como apenas o alicerce da construção histórica, mas também como parte dessa construção em todos seus momentos e articulações (BRASIL, p.22).
Destaca-se também o preparo docente, visto que o profissional da educação deve possuir conhecimentos teóricos (conceitos) e didática adequada, de modo a orientar corretamente as atividades discentes. É nítido, portanto, que o professor pode valer-se de metodologias variadas nas situações de ensino-aprendizagem, tais como debates, seminários ou aula expositiva dialogada (quando o conteúdo for o estudo de história local ou conceitos como cultura e tempo, por exemplo).
Uma relação dessas atividades encontra-se em “Didática e pratica de ensino de historia: experiências, reflexões e aprendizados”, livro escrito por Selva Guimarães Fonseca. Mas, como indica Rivas (2012, p.8, tradução nossa), permeia todo este processo o cuidado que o professor deve ter para que o aluno compreenda que inexiste neutralidade no documento:
(...) Os textos não são neutros nem ingênuos e tão pouco dão conta de verdades absolutas; no máximo entregam interpretações dos fatos, os quais, por sua vez são tratados e hierarquizados de acordo a concepções e motivos muito particulares e subjetivos.
Por causa disso, o docente deverá fazer um trabalho profundo, com atenção, desvelando-se os problemas, alinhavando as dúvidas, sempre atento, como colocaria GINZBURG (2012, p.144), aos pormenores mais negligenciáveis”.
Este trabalho do professor deve se desenrolar no sentido do desenvolvimento de competências e habilidades que permitam ao aluno o crescimento rumo a um conhecimento sistematizado e organizado. O docente, ao estabelecer os objetivos de ensino, deverá levar em conta que os próprios documentos são objetos de transformações históricas, vide que em cada época são interpretados de maneiras diferentes por agentes históricos singulares, e deverá transmitir isso aos seus alunos. Assim, o discente analisará que ao longo do tempo diferentes interpretações sobre um determinado fato histórico se tornam dominantes para em seguida caírem em desuso.  
Podendo “desempenhar um papel importante na configuração da identidade, ao incorporar a reflexão sobre a atuação do indivíduo nas suas relações pessoais” (BRASIL, 2000, p.22), os jornais locais/regionais podem ajudar os alunos a entender as dinâmicas sociais que aconteciam em sua cidade e a compreender a importância do estudo de História Local, visto que é em sua comunidade onde suas relações e empatias são desenvolvidas em primeiro lugar.
Os documentos, como coloca BRASIL (2000, p.22) deixaram de ser considerados apenas o alicerce da construção histórica, sendo eles mesmos entendidos como parte dessa construção em todos seus momentos e articulações”.
Neste sentido, após refletir sobre o uso de jornais de época no ensino de História, pode-se inferir que o aluno estará não somente aprendendo o conteúdo específico da aula, mas irá estar também refletindo sobre a construção do conhecimento histórico, desenvolvendo a consciência a respeito da importância da valorização da memória local e da conservação de documentos históricos e de todo o patrimônio cultural de uma determinada sociedade.
Conclui-se, portanto, que os jornais são instrumentos necessários à pesquisa e ao ensino de História, os quais devem ser introduzidos no ambiente escolar.

Referências
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais. Ciências Humanas e suas Tecnologias. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. –Brasília: MEC, 2000. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/cienciah.pdf>. Acesso em: 4 mai. 2016.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e pratica de ensino de historia: experiências, reflexões e aprendizados. São Paulo: Campinas, 2012, 13. e., 443 p. (Coleção Magistério Formação e Trabalho Pedagógico).
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, 288 p.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: A pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 28ª e., 2014, 160 p. (Coleção Educar).
RIVAS, Fernando. La prensa escrita como documento histórico: cuidado, prevenciones y consideraciones. Disponível em: <http://www.observatoriodecomunicacion.cl/sitio/wp-content/uploads/2012/08/La-prensa-escrita-como-documento-hist%C3%B3rico_-cuidado-prevenciones-y-consideraciones1.pdf>. Acesso em: 10 set.2016.
SOUZA, Maria Inês Flôres Marcondes de. A farsa do planejamento. Disponível em:  http://www.institutounipac.com.br/aulas/2010/1/UBEDF02N1/000094/000/afarsadoplanejamento.doc. Acesso em: 10 mai. 2016.

3 comentários:

  1. Caro Gabriel. Sua proposta é muito válida. Parabéns. Os jornais são fontes de pesquisa e instrumentos de ensino importantíssimos. No entanto, embora você fundamente com propriedade a proposta do uso de jornais no ensino de história, não ficou muito claro de que forma pretende fazê-lo. Primeiro, você trata de jornais de uma época específica? Segundo, você pretende trabalhar com fragmentos dos jornais em sala de aula, ou pretende levar os alunos a algum arquivo?

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  2. Olá sua proposta é bastante interessante, entretanto faltou maiores esclarecimentos sobre quais as metodologias podemos adotar na prática pedagógica no uso do jornal como fonte de pesquisa da história local?

    Parabéns e sucesso!
    Sirlene Kosouski

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  3. Olá, Gabriel, tudo bem?
    Muito interessante seu trabalho. Eu gosto de usar jornais e revistas em sala de aula. É uma excelente fonte de pesquisa e ensino e fácil de ser utilizado. Tenho uma curiosidade: você pesquisou ou pesquisa com frequência jornais antigos em bases de dados eletrônicos, como a base da Biblioteca Nacional? Você indica que os alunos façam buscas em jornais a partir de um tema e tragam as notícias para discussão?
    Agradeço desde já suas respostas!
    Abraço,
    Beatriz da Guia

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