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Fabian Filatow

ENSINO DE HISTÓRIA E PATRIMÔNIO
Fabian Filatow
Doutor em História PUC/RS

A realidade vivenciada entre o desenvolvimento das pesquisas históricas efetivadas na academia e a prática do ensino de história na Educação Básica ainda está marcada por um abismo que distancia estas duas partes de uma mesma equação. Uma das possibilidades que percebo que podem contribuir para resolver esta realidade, que por muito tempo assombra a educação, está no estudo da memória e do patrimônio, questões que podem ser utilizadas para fomentar uma melhor conscientização das possibilidades do conhecimento histórico.
Acreditamos que a introdução de questões atreladas tanto a memória quanto ao patrimônio histórico oferecem uma riqueza de trabalho para os diversos fins do estudo da História também na Educação Básica. Este foi o caso da proposta pedagógica desenvolvida ao longo desde ano com estudantes dos sexto ano do ensino fundamental do Centro Municipal de Educacional Básica Oswaldo Aranha de Esteio – RS.
            Almejando promover um conhecimento mais amplo que oportunizasse aos estudantes um maior contato com as artes de como se produz História, elaborei um trabalho que envolvesse a tanto a memória local quando o patrimônio histórico de Esteio. Neste sentido, fiz uso do recém criado Museu Histórico de Esteio (MHE), localizado nas dependências da Casa de Cultura de Esteio (RS).
Partindo da concepção de que Patrimônio Educacional
Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da Educação Patrimonial busca levar as crianças e os adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural. (Horta, 1999, p. 6)
Primeiramente elaboramos um museu itinerante, ou seja, coletamos diferentes objetos que ofereciam um significativo potencial histórico. O objetivo foi sensibilizar o grupo para as potencialidades oriundas dos mais diferentes objetos para refletirmos sobre a História.
Os objetos foram expostos aos estudantes. Na sequência, discutimos algumas questões sobre como procedemos para separar objetos para um museu, como é realizada a seleção dos objetos que devem contar a história do município e estar em exposição no MHE. As questões eram: Quem define os critérios que elegem um objeto como patrimônio? Quais pessoas devem participar dessas escolhas? Quais grupos sociais ou étnicos devem estar presentes no museu? Quais os tipos de objetos devem ser privilegiados para contar a História de Esteio? O objetivo era demonstrar a dificuldade em realizar esta seleção. Demonstrar que objetos estão relacionados com a memória de pessoas, de grupos sociais. Ensinar aos estudantes que o patrimônio, seja ele material ou imaterial, é apropriado e reapropriado pelas comunidades para reivindicarem as suas identidades culturais particulares, mas sempre em contextos de deslocação quer no espaço, quer no tempo.
A ação do professor de história torna-se fundamental para construir em suas aulas um espaço propício para a discussão sobre questões tão pertinentes como patrimônio e memória, bem como suas reapropriações. E, neste sentido, “(...) a Educação Patrimonial é um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, lavando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. (Horta; Grunberg; Monteiro, 1999, p. 6)
Após estas reflexões, o projeto passou para uma segunda etapa, uma visita ao MHE. A atividade no museu esteve orientada pela prática, ou seja, em duplas os estudantes deveriam responder perguntas previamente estabelecidas em fichas. Perguntas que conduziam os visitantes a serem participativos do espaço de memória, ou seja, deveriam descobrir a data de fundação, o objetivo da criação do museu, o tipo de museu que estavam visitando e relacionar os diferentes tipos de fontes históricas que poderiam ser identificadas no museu.
Como destacou Jacques Le Goff “o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder”. (1990, p. 545). Assim sendo, cada fonte histórica pesquisada era associada a uma história particular e também ao município. Neste sentido, as coisas “velhas” passaram a ter sentidos para estes estudantes, muitos reconheceram objetos de seus antepassados. Como bem disse Marc Bloc “os documentos são vestígios.” (2001, p. 7-8). A relação entre estes objetos, estes patrimônios e a memória são muito próximos, pois mais do que preservar, a memória constrói o passado, o inventa, conferindo-lhe sentido, que ela monta e remonta, lembra, esquece e seleciona os vestígios do passado.
A atividade envolvendo o museu contribui para exercitarmos em sala de aula e de maneira prática uma proposta presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais de História e Geografia, que sinaliza como necessidade:
Conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais, em diversos tempos e espaços, em suas manifestações culturais, econômicas, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças entre eles; Reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas, presentes na sua realidade e em outras comunidades, próximas ou distantes no tempo e no espaço; Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e como um elemento de fortalecimento da democracia. (PCN. História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997, vol. 5, p. 41).
Em 1983 a Educação Patrimonial foi introduzida no Brasil em termos conceituais e práticos. Esta metodologia estabelece etapas, tais como: observar, registrar, explorar e apropriar. Destacamos aqui que algumas destas etapas foram adaptadas para a realidade escolar na qual nos encontrávamos como o recurso do LABIN – Laboratório de Informática – para fins de ampliarmos os conhecimentos sobre os objetos e suas utilidades no passado.
Outra etapa do projeto ocorreu na exposição na Feira de Ciências e Ideias que ocorreu nas dependências da escola no mês de julho. Neste momento foi apresentado para a comunidade em geral a visita realizada pelos estudantes ao MHE, bem como a reconstrução do museu itinerante e a explicação sobre as diferentes fontes históricas disponíveis para a pesquisa histórica. Foi a apropriação, pois buscou-se sensibilizar a comunidade para a importância de se ter e de se manter o museu histórico municipal.

Apontamentos finais
Enfim, o patrimônio, assim como a memória nasce, vive e morre, na era de um momento onde a questão patrimonial está na moda, onde tudo poder ser tombado, registrado e preservado há a necessidade de uma educação patrimonial transformadora, com o firme propósito de respeitar e preservar as diversidades, visando que o patrimônio tenha sentido para a população.
Enfim, utilizando-se do museu acreditamos ter contribuído para um processo de consciência histórica, sobre a história local municipal, para o estabelecimento de relação entre os estudantes e os fatos ocorridos no passado no município no qual habitam.

Referências bibliográficas
ABREU, Martha; SOIHET, Rachel (Orgs.). Ensino de História: Conceitos, temáticas e metodologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de história: fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
BLOCH, Marc. Apologia da História. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais. História e Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. Vol. 5.
FUNARI, Pedro Paulo Abreu; PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. Patrimônio histórico e cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
HARTOG, François. O tempo desorientado. Tempo e história. Como escrever a história da França? Anos 90, Porto Alegre, n. 7, julho de 1997.
HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / Museu Imperial, 1999.
HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Fundamentos da educação patrimonial. In: Revista Ciências & Letras – nº 27 – jan/jun. Porto Alegre: Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras, 2000 p. 13-36.
LE GOFF, Jacques. Documento/monumento. In: História e memória. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1990.
LEMOS, Carlos A. C.. O que é patrimônio histórico. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2000.
MACHADO, Maria Beatriz Pinheiro. Educação Patrimonial: Orientações para professores do ensino fundamental e médio. Caxias do Sul: Maneco Livraria & Editora, 2004.
MANIQUE, Antônio Pedro; PROENÇA, Maria Cândida. Didática da História: patrimônio e história local. Texto Editora. Lisboa, 1994.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo (10), Dez., 1993.
PINSKY, Carla Bassanezi  (Org).  Fontes históricas.  2ª ed. São Paulo: Contexto, 2006.
PINSKY; DE LUCA, Tânia Regina (orgs.).  O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009.
SOARES, André Luis Ramos; KLAMT, Sérgio Célio (orgs.). Educação Patrimonial: teoria e prática. Santa Maria: Ed. UFSM, 2008.


21 comentários:

  1. Bom Día.
    Quando você se refere a construção de um museu itinerante, você fiz a coleta dos objetos com potencial histórico com apoio dos estudantes? Gostaria de saber como foi feita a coleta e que objetos foram trazidos, onde encontraram aqueles objetos? O que tipo de elementos fizeram parte da coleta?
    Pergunto isto pois nas minhas aulas de história do design (em espaços universitários) e eu trabalho a memória individual e coletiva além da geração de patrimônio material a partir de objetos familiares que os estudantes levam pra aula e que tem um valor significativo para suas famílias e a partir deste exercício se começa a trabalhar os valores simbólicos dos elementos e a construção de uma memória coletiva (neste caso, familiar) pra entender a potência dos objetos como referentes históricos próprios e o valor dos objetos como ferramenta de análise historiográfico.
    Obrigada.
    Maria Isabel Giraldo Vasquez.

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    1. Olá Maria Vasquez.
      A proposta foi levar objetos coletados para fomentar a reflexão do patrimônio, ou seja, partindo de objetos diversos com potencial histórico para uma construção da valorização da preservação patrimonial. Os objetos mencionados foram coletados ao longo da minha jornada como educador, tais como arte indígena (esculturas de animais e cestaria), réplicas de monumentos (Torre Eiffel, Nerfetit, Portão de Brandemburgo, Dinheiro antigo (papel e moedas), fotografias antigas, jornais antigos e até pano de prato (foram lançados por uma rede de supermercados aqui no RS com temas festivos tipo ano 2000, Descobrimento do Brasil, Ópera do Guarani entre outros). Enfim, objetos que para muitos eram tralhas ou coisas velhas, mas serviram ao propósito de pensar outros tempos, outras modas, outros lugares, levar a questionar o significado do signo, das imagens, das frases alusivas as festas comemorativas. Refletir sobre a participação dos diferentes sujeitos históricos nestes acontecimentos. Usei museu itinerante pois como trablaho numa escola pública o professor é que faz a diferença, ou seja, adquiri os materiais e leva no ombro para cada turma que vai lecionar. Esta foi a saída encontrada para abordar esta temática tão importante também na educação básica. Somando-se a isso, o município está construindo um Museu Histórico Municipal e percebi a importância de relacionar esta fase de coleta de patrimônio local com uma atividade prática na sala de aula. Agradeço pela pergunta e desejo-lhe sucesso. Abraço.

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  2. Boa tarde! Gostaria de saber como foi a aceitação da comunidade sobre seu projeto? Está integrada sobre a importância de se ter e de se manter o museu histórico municipal?

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    1. Boa tarde Shirlei Fetter.
      Bem, primeiro a comunidade foi a escola, dentro desta algumas turmas com as quais trabalho. Nestas o projeto foi bacana, envolvente, consumiu um grande tempo, mas deu resultados positivos. A comunidade local, o município, teve a oportunidade de ver o resultado do projeto na Feira de Ciências e Ideias, onde a proposta pedagógica foi apresentada por um grupo de estudantes. Nesta oportunidade divulgaram o valor e a importância do patrimônio histórico e assim, salientaram a relevância de dar apoio ao projeto do município de manter o recém criado Museu Histórico Municipal de Esteio (RS). Grande abraço para você.

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  3. Parabéns pela pesquisa! Gostaria de saber se no caso que você apresenta, existe algumas preocupação com as questões de identidade étnica ou de gênero, presentes nas narrativas do museu? Grande abraço, Daniel Gevehr.

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  4. Boa tarde prof. Daneil Gevehr.
    Foi um trabalho solo, ainda iniciando, pois foi a primeira vez que se abordou a temática nesta escola, motivado pela construção do Museu Histórico Municipal (Esteio - RS). Foram inseridos objetos que levaram a discussão sobre etnias (alemã, italiana, japonesa, russa, negra) e também objetos da lida diária que são, no cotidiano dos estudantes, associados a atividades femininas ou masculinas. Eram jovens do 6 Ano escolar do Ensino Básico, cheios de curiosidades e conceitos preconcebidos (oriundos das famílias, sociedade, etc.). Uma das atividades, que devido ao tamanho estipulado não deu para desenvolver nesta comunicação,foram algumas questões sobre como se processa um objeto para que este seja inserido no acervo de um museu. Perguntas do tipo: Qual a sua origem? Qual sua memória para a localidade? Quem ou qual grupo está representando? etc. Muitos estudantes ficaram surpresos com o seu conhecimento sobre tradições das heranças alemãs e italianas, mas também chocados por desconhecerem as heranças indígenas e negras do município. Uma das questões que mais gerou embate foi: Qual etnia está ausente no nosso museu? e Por que isso acontece? Acredito que, como proposta pedagógica, serviu como um espaço produtivo para a reflexão sobre inúmeras questões presentes nos dias atuais. Agradeço pela sua questão. Desejo-lhe uma boa semana e um bom evento.

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  5. Boa tarde! Como foi a participação dos alunos no trabalho? E foi percebido algum resultado na comunidade?
    Isabele Fogaça de Almeida

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    1. Olá Isabele Almeida.
      O trabalho com os estudante foi maravilhoso. A grande maioria, porque nunca atingimos cem por cento, se integraram, participaram e toparam o desafio. Fomos todos a um museu no final do projeto. Não posso dizer que ocorreu ou não um resultado na comunidade, não tive como realizar esta ação, porém, acredito que sendo os estudantes moradores da comunidade tenham comentado com seus responsáveis e assim gerado um pensar sobre esta temática do patrimônio, do museu municipal, do papel da escola, da educação patrimonial. Este ano retornei as aulas na mesma escola, os novos estudantes já me cobraram o "trabalho do museu", estudantes que no ano passado não tiveram contato pois estavam no turno inverso. Aponto como positivo. Abraço.

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  6. Gostaria de compartilhar uma experiência interessante:
    O município de Caetité possui um grande potencial eólico e hoje conta com o maior parque de torres de captação de energia do vento do Brasil. Com a implantação dos parques e toda exigência legal de condicionantes socioambientais as empresas tiveram que oferecer ações de Educação Ambiental, bem como, Educação Patrimonial.
    A partir dessas atividades nós professores sentimos incomodados com a determinação do IFAN de que os achados da arqueologia fossem enviados para o Museu da Universidade Estadual de Ilhéus (UESC) e dessa forma nasceu o Museu do Alto Sertão da Bahia (MASB). Sendo um museu de território, contempla três municípios, por meio de 10 núcleos museológicos, sendo destes três localizados dentro de escolas. Uma experiência fantástica.
    Como não tratar da nossa identidade no contexto da escola e das nossas aulas como docente? Por que alguns professores de História ainda resistem em trabalhar com a história local?

    Rosemária Joazeiro P. de Sousa

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    1. Olá Rosemaria,
      Realmente a História Local pode ser um recurso valioso no processo de ensino da História. Agradeço pelo seu relato. Abraço.

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  7. Prof Fabian, li seu texto e gostaria de dialogar contigo. Na seleção dos objetos que dispomos em um museu também "selecionamos" que tipo de memória queremos eternizar para aquele local, assim sendo, pergunto: Há no museu algum objeto que remeta a grupos pré-coloniais em Esteio? Por que não há? Ou por que há? Qual espaço lhes é reservado no conjunto do Museu? Há de fato no museu espaço para "a memória dos diferentes grupos sociais"?

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    1. Olá Clarice.
      Primeiramente esclareço, não trabalho no Museu de Esteio, ele surgiu no ano passado. Abordei a temática patrimônio e museu por acreditar ser de vital importância para o estudo da História. Levei um "museu" didático para a sala de aula, com uma coleta que eu mesmo realizei e paguei (comprei algumas peças) e alguns objetos para servirem ao propósito. Entre os objetos estavam máscaras africanas, arte indígena, objetos da cultura negra, germânica, italiana e réplicas de prédios históricos do RS e do mundo. O museu de Esteio é um espaço em construção, ainda funciona como um depósito e aos poucos vai tomando forma de museu, acredito que em breve estará melhor organizado. Mas no momento não temos expostos as diversidades étnicas e culturas de Esteio, o que é uma lástima mesmo. Não há referência aos povos indígenas por exemplo. Espero que no futuro possamos ter um MHE que contemple esta fase de grande importância. Abraço.

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  8. Olá professor Fabian e demais colegas.
    Parabéns pelo seu trabalho professor, levar ao aluno a prática do ensino, já que eles na maioria das vezes não consegue relacionar o seu cotidiano com a História. Eu já realizei um projeto de patrimônio com uma outra professora na faculdade. Criamos uma apresentação em Power Point, na qual realizávamos um diálogo entre os personagens fictícios e eles iam conversando sobre os patrimônios imateriais e materiais da nossa cidade. Com isso o aluno quando anda pela cidade vai ver na prática que isso faz parte de sua vida. Esse pertencimento muda como os alunos veem a História.
    Novamente parabéns pelo seu trabalho.
    A minha pergunta é quanto tempo foi trabalhando(horas aula) e como foi essa divisão do tempo? Pergunto isso, já que somos responsáveis pela turma e devemos seguir uma grade curricular, esse trabalho modificou o planejamento dos demais conteúdos?

    Abraço
    Anderson da Silva Schmitt

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  9. Olá Anderson Schmitt.
    O projeto propriamente dito levou quatro semanas, cada semana com dois períodos de 50 minutos. Um longo tempo. Com isso tivemos que readequar a grade curricular. Ou seja, trabalhei introdução à história, documentos e fontes históricas diretamente com os objetos do museu. Também aproveitei para analisar as diferentes fontes históricas (escrita, oral, sonora, material, iconográfica), o tempo histórico etc. partindo sempre dos objetos presentes no museu. Aproveitei para explorar os saberes sobre outros povos (Civilizações Antigas) como egípcia, romana, grega, povos da África antiga, povos mesopotâmicos e povos indígenas da América e do Brasil. Sempre analisando algum objeto ou imagem que fizesse referência a estes povos, além das Navegações ibéricas (Havia um calendário alusivo aos 500 anos do Brasil bordado em pano de prato, com Cabral, caravela e calendário). Assim, pude argumentar que os conteúdos não foram negados, mas abordados numa visão ampla, interligados ao projeto. No decorrer do ano letivo retomamos estes povos antigos, porém os estudantes tinham uma visão prévia ou lembrança do projeto, fato que contribuiu para uma melhor compreensão e dar uma maior velocidade nos estudos o que contribui com o desenvolvimento da grade curricular. Um bom evento para você. Abraço.

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  10. Prezado Fabian.
    Gostei de seu texto. Mas aí vão minhas perguntas sobre o que vc entende. Vc diz: "A realidade vivenciada entre o desenvolvimento das pesquisas históricas efetivadas na academia e a prática do ensino de história na Educação Básica ainda está marcada por um abismo que distancia estas duas partes de uma mesma equação". Concordo em gênero. número e grau. Vc não acha que esse é um problema do desenho institucional de nossos cursos de História, cursos normalmente padronizados por um corte acadêmico erudito, intelectualista e que se escuda num postulado de tipo "humanista", que, no final, não admite muito que a formação histórica se dê fora não só de escolas, mas de livros e papéis, visando um formado que saiba ler e escrever a quem é interditado uma prática mais ativa que só o ensino garante? OUTRA COISA: Vc diz: " .... patrimônio, assim como a memória nasce, vive e morre, na era de um momento onde a questão patrimonial está na moda" Caio na mesma pergunta de fundo: se está na moda é porque é tomado de modo frugal e pouco consistente, mas como algo que é passageiro e que vai logo passar, que será incapaz de criar raízes. Isso não será um problema, mais uma vez, que remete à tradição de nossos cursos de formação? POR FIM, Fabian: vejo se falar muito em patrimônio, mas pouco em "patrimonialização", que é o processo pelo qual o bem transforma-se em algo consolidado como um bem indiscutível, de todos. Se entendemos que haja uma ideia do patrimônio patrimonializável como algo que é valorizado pela pessoa, mesmo que o Estado não consolide, vc entende que posso falar de uma espécie de patrimônio oculto, guardado, em segredo, digamos, que é diferente do é oficialmente patromonializado? Vc não considera que haja pouca consideração sobre os processos que patrimonializam um bem, excluindo outros? Para dar um exemplo: se é tão comum, ainda, se pensar em patrimônio como bem edificado, isso não é herança de uma patrimonialização edificante ao longo da história? Obrigado .. Bruno Flávio Lontra Fagundes

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    1. Olá Bruno Fagundes. Obrigado pela leitura do texto e pela participação no debate. Primeira: Sim, a academia está fechada em si mesma e fala numa mudança na educação que, salvo alguns programas, não pratica. No caso das licenciaturas vejo isso como muito grave, pois a saída de muitos dos formados em História tem como destino a sala de aula, para a qual a academia não prepara e a formação intelectual, necessária sim, mas agregada com a prática e coma realidade que enfrentamos todos os dias no interior das escolas brasileiras.
      Segunda: Por minha incapacidade de redação e pelo espaço delimitado para o artigo, posso ter deixado uma ideia aberta, possível de inúmeras interpretações. A citação "nasce e morre" refere-se a ideia de que assim como todo o conhecimento pode sofrer mudanças, podemos construir ideias e estas podem desaparecer. O mesmo com a memória, quando não relembrada, trabalhada, discutida fica sem significado num busto perdido num parque, num espaço que ninguém mais frequenta (daí surgem ideias de podem fechar!). Enfim, deve-se manter a atenção para preservação histórica e cultural, patrimonial, que deve ocorrer todo dia, a todo instante.
      Terceira: Uma boa questão para reflexão. Muitos dos meus pequenos alunos (entre 10 e 11 anos) pensam o patrimônio só como sendo o material (visível, palpável etc.) herança de um ensino formado em caixas e de uma formação acadêmica dividida em feudos, ou seja, departamentos e subsetores acadêmicos feudais, que disputam seus espaços e não buscam o diálogo, a visão interdisciplinar. Para mudar, uma opinião minha, deveríamos mudar também o olhar na acadêmica sobre o Ensino de História, muitas vezes renegado a segundo plano da formação do(a) estudante de História, como se fosse algo menor, o que não é verdade. Agradeço pelo diálogo. Desejo-lhe um bom evento.

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  11. Parabéns pelo trabalho professor Fabian! Estamos, há pouco tempo, enquanto grupo de pesquisa, nos aventurando pela seara do patrimônio e da Educação Patrimonial. Partimos dos aspectos intangíveis a partir dos espaços sagrados do Monge João Maria, no município paranaense de São Mateus do Sul (já dialogamos em nossa mesa neste evento). Gostaria de saber sobre seu aprofundamento no contexto teórico acerca do patrimônio cultural, enfocas tanto os aspectos materiais quanto os imateriais? Grande abraço e desejo-lhe muito sucesso!

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  12. Olá Alcimara Aparecida. Bom retomar o diálogo com você. Agradeço pela leitura do texto e pelos questionamentos. O trabalho foi realizado com estudantes do 6 Ano do Ensino Fundamental, ou seja, estudantes entre 10 e 11 anos. A questão do objeto visível contribui muito para o objetivo do projeto. As questões teóricas para fundamental o projeto existem, mas para os estudantes elas surgem como questões norteadoras para reflexão. Partindo dos objetos demonstrados na sala de aula (materiais) partimos para pensar outras possibilidades de bens culturais (imateriais), como expressão folclórica, dança, ritmos, religiosidades, formas de falar típicas de localidade, comidas típicas. Ou seja, tento promover um pensar sobre este patrimônio deixado de lado, ou mesmo não percebido como patrimônio. Muitos ainda relutam em aceitar patrimônio para além do busto do parque, da igreja matriz etc. Abraço.

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  13. Julio Junior Moresco7 de abril de 2017 às 13:05

    Olá!

    Realmente os espaços envolvendo o Patrimônio Histórico, quando utilizados na disciplina de História na Educação Básica, facilitam a aprendizagem e contribuem para ressignificar determinados conceitos e verdades estabelecidos. Neste sentido, como podemos abordar esses espaços como construção e resgate da memória?

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  14. Julio Junior Moresco7 de abril de 2017 às 13:30

    Olá!

    Realmente os espaços envolvendo o Patrimônio Histórico, quando utilizados na disciplina de História na Educação Básica, facilitam a aprendizagem e contribuem para ressignificar determinados conceitos e verdades estabelecidos. Neste sentido, como podemos abordar esses espaços como construção e resgate da memória?

    Julio Junior Moresco

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  15. Olá, gostaria de saber se na sua concepção o ensino de patrimônio poderia ser inserido na disciplina de história?

    Att
    JOSUÉ RIBEIRO VENTURA

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