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Everton Crema; Maria A. Schmidt

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA: O ENSINAR E O APRENDER HISTÓRIA
Dnt. Everton Carlos Crema*
Dra. Maria Auxiliadora Schmidt

A perspectiva da Educação Histórica parte do entendimento de que a história é uma ciência particular, que não se limita a considerar a existência de uma só explicação ou narrativa sobre o passado, mas, pelo contrário, possui uma natureza multiperspectivada. Isto, contudo, não significa aceitar o relativismo de todas as explicações sobre o passado e o presente, mas entender que existe uma objetividade a História [Schmidt; Barca, 2009. p 12.].
Em diversos momentos durante nossa carreira profissional, nos perguntamos, quando não somos questionados sobre a importância e validade do ensino de história. Em uma visão mais intimista, refletimos sobre o ensino e a relação da didática da história com a historiografia e a própria teoria da história em busca de respostas. De qualquer forma, acredito, que para muitos, inclusive eu, essas questões originaram angústias e incertezas, que durante o percorrer dos anos, aulas e muito estudo, formam ficando mais claras ou então menos perturbadoras. Nos dias de hoje, esses questionamentos se apresentam mais importantes e urgentes ocupando o centro do debate, fomentado pela polarização político-ideológica nacional, pela ‘ideia’ de uma escola sem partido e naturalmente pelo projeto da reforma educacional brasileira, que retira a história e outras importantes disciplinas do currículo obrigatório. Nossa proposta de discussão, parte das ideias e de uma teoria do ensino de história propostas por Jörn Rüsen, aqui apresentadas distintamente: 1) A relação da teoria da história com a didática da história e 2) A importância do ensino e do conhecimento histórico. Buscaremos apresentar as ideias e o debate resultante de forma propositiva, dentro dos limites e interesses do 3º Simpósio Eletrônico Internacional de Ensino de História, que busca divulgar e congregar professoras e professores, pesquisas, pesquisadores, debate e interesse acerca do ensino de história.
Segundo Rüsen (2015), o ensinar e o aprender história tem na escola um dos mais destacados ‘lugares do aprendizado’, importando que a própria didática da história exista como uma disciplina acadêmica e área do conhecimento histórico, possuindo e construindo seus próprios métodos e teorias. De certa forma a didática e a metodologia de ensino da história sempre refletiram os métodos da teoria historiográfica, transformando a metodologia da pesquisa em historiografia em uma metodologia do ensino da história. Evidentemente que pesquisa, ensino e extensão, seja na universidade ou na educação básica, devem e podem andar juntas, mas a especificidade, singularidade e diferença entre a pesquisa historiográfica e a didática de ensino é grande e distinta. Parte do problema pode ser entendido a partir da criação do estatuto científico moderno durante o século XVIII, as ciências humanas e sociais, refletiram em grande parte os paradigmas das ciências exatas, numa época onde não existia a universalização ou pluralização do conhecimento, muito menos a educação era um direito social ou uma prática institucional. Nesse sentido o ensinar história foi fortemente influenciado pelos caminhos da ciência da história, privilegiando a pesquisa e distanciando-se de uma ‘filosofia do ensino da história’.
A consequência prática é que a didática e o ensino de história vinculadas ao campo teórico historiográfico não pensaram a si próprias, tanto em termos teóricos, conceituais ou metodológicos. A partir do século XX, em parte influenciada pelo historicismo alemão, o campo do ensino e didática da história começou a dar passos mais firmes, numa caminhada que ainda realiza, em direção a um estatuto científico e metodológico próprio, o que muito interessa as professoras e professores de história se pensada a relação do processo de aprendizagem com a construção do pensamento histórico, distinta da historiografia histórica.
A didática da história é a área em que essa competência é analisada cientificamente e na qual são elaboradas estratégias e práticas de sua obtenção. Poder ensinar história com competência pressupõem, naturalmente, familiarmente com as formas e os conteúdos especializados próprios ao pensamento histórico. Esse pressuposto não esgota, todavia, o tratamento científico da aprendizagem histórica. Com efeito, a história é aprendida também nas instituições acadêmicas da ciência da história (afinal, é no espaço acadêmico que os especialistas são formados). Essa aprendizagem não está entanto, incluída no objeto especifico do pensamento histórico (abstração feita da própria história da aprendizagem histórica). (RÜSEN, 2015, p. 248)
Jörn Rüsen defende que a didática da história possui um campo próprio, natural e legítimo, a ciência da aprendizagem histórica, pois precisamos compreender cientificamente os processos de aprendizagem e compressão histórica.  De forma objetiva se deseja, um avanço do ensino e compreensão histórica a partir da própria teoria da história e da especificidade do pensamento histórico em direção a um ensino de história significativo, permitindo que as ‘estruturas historiográficas’ ensejem a criação de conhecimento histórico válido, aplicável a realidade e a criação de sentido crítico para nossas alunas e alunos. Sobretudo, percebido e compreendido pela didática da história como uma metodologia científica de ensino própria. Apresenta-se importante percebermos que os modelos metodológicos e cognitivos tradicionais de ensino se baseiam em teorias do conhecimento e modelos advindos da psicologia da educação, que apesar de importantes, não possuem a especificidade do pensamento histórico, muito menos tem no tempo e em sua relação critica com o presente uma equivalência.
Quando nossas alunas e alunos nos questionam sobre o que é a história? Recorremos a respostas advindas da historiografia clássica ou da teoria da história e não da didática ou metodologia do ensino da história. Reproduzimos o dilema da formalização cientifica do conhecimento histórico, onde os pressupostos científicos de razoabilidade, plausibilidade e verossimilhança substituem a validade e perspectivas individuais da compreensão histórica. Não estamos defendendo que a teoria da história, nem a historiografia, não sejam história ou não possuam validade pela espécie de cientificidade que possuam ou produzam, pois, o são certamente. Entretanto, devemos perceber crítica e contextualizadamente que a resposta adequada a pergunta: o que é a história? Deve emergir do processo de aprendizagem histórica perspectivada pela validade do conhecimento histórico que encerra e sobretudo, pela experiência reflexiva e qualitativa que a professora e professor dominam na sua esfera de atribuição docente. Ou seja, devemos olhar diretamente para as estruturas de ensino/compreensão histórica, para ensinarmos não só o conhecimento histórico, mas para construirmos uma percepção da compreensão do processo histórico, subsidiado pelo conhecimento da ciência de referência e não o contrário.
Nesse procedimento, remete-se ao conteúdo empírico chamado “história” ou ao manejo cognitivo deste. A tessitura complexa das relações entre essas duas dimensões do “histórico” não é, regra geral, objeto de uma reflexão detida. No entanto, a questão está justamente aí: a aprendizagem se dá como um processo mental. Ou seja: a especificidade da aprendizagem histórica só pode ser entendida se forem entendidos também os respectivos processos e as formas de lidar com a experiência do passado. Pois é somente por intermédio desses processos que o passado se torna história. (RÜSEN, 2015, p. 248-249)
Como a compreensão do tempo é fundamental para a história, e em grande parte resultado da experiência humana, a dinâmica do ensino da história não pode ser fragmentada do contexto histórico continuado, nem da experiência pessoal.  Refletindo sobre isso Rüsen apresenta a relação da teoria da história para com a didática da história a partir de três categorias/dimensões da história: 1) Material (realidade), 2) Formal (científica) e 3) Funcional (explicativa), em conjunto essas categorias formariam a   consciência histórica, categoria da didática da história.
Em nossas salas de aula, salvo engano, todo o processo de preparo da aula, toda a didática e metodologia de ensino que nos utilizamos, parte de uma historiografia e teoria histórica em direção ao ensino e didática tradicionais, negligenciamos a ideia de que a “reflexão sobre a didática da história tem de começar, pois, com a análise dos processos mentais da constituição histórica de sentido”, (RÜSEN, 2015, p. 249). Devemos tentar reflexivamente nos aperceber de como nossos alunos compreenderiam o processo histórico, em termos didáticos e cotidianos, pensando como seriam suas consciências históricas, tomadas como ponto de partida em direção a historiografia. A mudança de lugar e foco é fundamental e de resultado, pois ao criticar o modelo tradicional de ensino da história, modelo que desconsidera a didática e a metodologia da história como um campo próprio e válido, e que, infelizmente, ainda persiste muito fortemente na academia e na universidade brasileira, nega um esforço reflexivo qualitativo próximo do aluno e de sua experiência histórica, que é também uma capacidade de compreensão.
Grande parte do problema se encontra nas licenciaturas e bacharelados de história ao reproduzirem em suas disciplinas de didática, metodologia ou mesmo nos estágios, um ensino de história tradicional, baseado na historiografia formal científica, que acaba por negar a consciência histórica do aluno. Segundo Schmidt (2009) o distanciamento na formação inicial e continuada do professor em relação a percepção programática da disciplina, impediriam a integração da consciência histórica com os fatores constitutivos da história. Para a autora, “tais considerações põem em relevo a importância de serem sistematizados referenciais teóricos que indiquem os caminhos possíveis de uma cognição histórica situada na própria racionalidade da História” (SCHMIDT, 2009, p. 32). Também podemos apontar para a falta de experiência dos docentes universitários, na educação básica nacional, em parte pelo tipo e modelo da carreira universitária e as exigências da formação acadêmica. Não diferentemente, mas de maneira cruel, essas características acabam por manter um distanciamento entre a educação básica e o ensino superior, que também pode ser observado em relação aos órgãos institucionais ligados à educação, em todas as esferas públicas. As secretarias de educação em nível municipal, estadual ou federal, pouco se articulam propositiva ou estrategicamente, fora o que se exige do ponto de vista legal. Precisamos romper com as propostas de ensino de história tradicionais, mantendo a forte e importante base de pesquisa, historiografia e teoria que recebemos em nossas formações superiores.
Em relação ao ensino da história, não estamos sugerindo uma escolha/troca entre a teoria da história e uma didática da história, pois se isso ocorresse inverteríamos ou manteríamos o ‘sentido do erro’, nesse caso e muito frequentemente em nossas vidas, os extremos, seja a falta ou o excesso, se apresentam viciosos. Propomos que a teoria da história subsidie a didática da história em nossas aulas, criando um ganho qualitativo e reflexivo significativo. Os professores da educação básica, em todos os níveis, possuem a experiência docente e os anos de prática em sala de aula, formulando e preparando aulas, atividades, trabalhos, avaliações, correções e reflexões considerando o percurso do aprendizado do aluno, percebendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada, relacionando os conteúdos formais da história, as experiências de vida e aos conhecimentos da vida prática. Precisamos sistematizar reflexivamente em nossas aulas que tipo de ensino de história queremos, precisamos nos perceber propositivamente como pesquisadores, e somos, pois, isso infere na qualidade da compreensão que ensejamos e sobretudo na satisfação docente e discente de uma boa aula.
Dito isso, e num segundo momento da reflexão, observamos a importância da história como disciplina escolar e conhecimento científico repousando na condição fundamental da necessidade de orientação no tempo, seja pela experiência ou carências da vida prática, seja pela necessidade de orientação cultural em relação aos saberes universais. Essa capacidade de agir em conformidade como o tempo, com as transformações cotidianas determinam nossa relação com essa ‘mudança’ e tornam fundamentais o conhecimento histórico e a capacidade de compreensão histórica, não como um referencial temporal, mas como uma consciência. Só podemos perceber a mudança em relação aos fatos históricos e sua temporalidade se compreendermos ou referenciarmos o processo de mudança enquanto tal, em direção a um entendimento. Ocorre uma integração entre a consciência histórica, linguagem e a narratividade, já que se estrutura um procedimento mental da constituição de sentido, baseadas nos processos cotidianos da comunicação / compreensão humana. Como resultado a narrativa histórica se desenvolve quando exprime um contexto temporal, que articula sistematicamente a interpretação do passado com um entendimento do presente, em relação as expectativas do futuro.
Nesta orientação, o tempo é visto como a experiência de mudança do homem e do seu mundo e como a esperança de que estas mudanças estejam relacionadas entre si, para que as pessoas possam se organizar no fluxo do tempo. Essa interpretação do poder na consciência humana é baseada em experiências do tempo em direção às expectativas (e esperanças), ou seja, de que o significado formado através da experiência do tempo é realizado através do ato de contar histórias. Neste ato, forma-se “história” no sentido de uma estrutura de uma experiência no tempo. (RÜSEN, 2012, p. 38)
Nesse sentido temos na narratividade tanto um mecanismo didático metodológico como uma ferramenta de avaliação extremamente eficaz, no sentido, de que, ao analisarmos a narrativa de nossos alunos dento do percurso educacional, podemos auferir e diferenciar o conhecimento da compreensão, os níveis e tipos léxicos postos nas narrativas ensejadas. Para além disso a narrativa se apresenta muito mais próxima da consciência histórica do aluno como é resultado da capacidade cognitiva e interpretativa em relação ao conhecimento histórico significativo. O que desejamos demostrar é a força e a importância da narratividade como prática metodológica reflexiva e a necessária valorização da narrativa dos estudantes. Rüsen (2012), defende que a aula precisa ser concebida reflexivamente, valorizando o lugar e a identidade do aluno, assim uma narratividade ampla e plural permite a identificação e reconhecimento do aluno com a história e sua importância. Se a aula tradicional, repetitiva e singularizada na figura/discurso do professor for o que acontece nas salas de aula, a falta de identificação, aceitação e subjetividade do próprio sentido crítico da história, limita o surgimento de um discurso de argumentação racional fundamental ao processo de orientação temporal individual. 
O ponto positivo é que, quando o processo de aprendizagem, nas aulas, corresponde ao objetivo de ensino da competência narrativa, também (ainda fortemente hipotético) satisfaz o conhecimento do processo do desenvolvimento da consciência histórica na socialização individual dos alunos. Então, ele precisa ser organizado de tal forma que o poder de interpretação da narrativa histórica, ou seja, a transformação do conhecimento abundante sobre o passado humano estará (sempre em vista dos problemas de orientação da vida prática presente) basicamente ligada à auto-atividade dos alunos. (RÜSEN, 2012, p. 62).
Sabendo da relação da objetividade do conhecimento histórico científico com o conhecimento subjetivo do aluno, devemos nos preocupar com a variedade de ideias e consciências históricas de nossos alunos, em direção a uma multiperspectivação da realidade. A professora e o professor de história devem buscar apresentar/ensinar os conteúdos programáticos da disciplina relacionando-os da melhor maneira possível com o cotidiano, cultura e experiências de seus alunos, a identificação de suas demandas e carências de orientação da vida prática, mesmo sob pontos de vista diferentes e  divergentes, construirá um interesse natural, manifesto pela capacidade narrativa argumentativa que reflete os horizontes de possibilidades de nossos alunos, ampliando o processo partícipe da comunicação do pensamento histórico e geração de sentido nos contextos sociais.
São diversas as possibilidades de elaboração do pensamento histórico, exemplarmente, listamos as formas e o conteúdo especifico da constituição histórica de sentido, que articuladas entre si, e não necessariamente em sua totalidade, permitem perceber as relações do processo de criação do pensamento histórico.[Rusen, 2015]

Tabela I
Fonte: Adaptado de RÜSEN, Jörn. Teoria da História: uma teoria da história como ciência. p. 89.
FORMA
CONTEÚDO
Discurso semântico da simbolização
 Concepções de sentido
Estratégia cognitiva da produção do saber
 Concepções de pesquisa
Estratégia estética da representação
 Concepções de apresentação
Estratégia retórica da orientação
 Concepção do uso prático
Discurso político da memória coletiva
 Concepção da cultura política














Dada a importância da narratividade, não somente para o pensamento e orientação histórica, mas também para a didática e metodologia do ensino da história, apresentaremos sucintamente os tipos narrativos da constituição de sentido que constroem o pensamento histórico. Para Jörn Rüsen, (2007) os princípios da orientação histórica são estruturas narrativas típicas, correspondentes ao tempo e suas temporalidades, diretamente ligadas a vida cotidiana, perspectivada pelo indivíduo. Os quatro tipos narrativos, em conjunto criam uma narrativa válida de sentido, fundamental para as carências da orientação da vida prática. São os tipos narrativos que conformam e preenchem o horizonte explicativo que o conhecimento histórico fornece, sendo eles do tipo 1) tradicional, 2) exemplar, 3) crítico e 4) genético, a saber: No sentido tradicional o tempo é imutabilizado como experiência, nesse tipo narrativo/compreensivo a mudança histórica, ou seja, o tempo, é negado, principiando valores e mentalidades passadas, na prática seus tópos narrativos buscam construir uma identidade comum, coesão e estabilização das mudanças.
De certa forma a narrativa tradicional é fundamental para a construção o ‘eu’, do indivíduo social, entretanto, como conceitos e interpretações do mundo não são neutras, a potencialização do sentido tradicional, vem negando o próprio devir e a mudança histórica, e com ela tudo o que se transforma com o próprio tempo, originando novas forma sociais, ideias de mundo ou práticas cotidianas.  “a inquietação provocante das mudanças no tempo da vida humana é domesticada pela representação, na profundeza ou na raiz do tempo, da permanência dos princípios que, empiricamente produzem a ordem” (RÜSEN, 2007, p. 49).
O Sentido Exemplar retoma em seu tópos a força explicativa dos exemplos e experiências passadas e presentificadas, pois possuem sentido explicativo para a vida prática, na forma de regras para o agir. A carga explicativa da experiência pretérita se torna um modelo explicativo justificado do agir, respaldado na própria história, seja em relação a historiografia ou a própria experiência pessoal próxima. As sucessões, mudanças, crises na história, mesmo o erro e o fim de civilizações, permitem o entendimento dos processos passados, nos deixando possibilidades de ação concretas no presente. A consciência histórica unifica o tempo, o passado e o presente, se fundem num modelo explicativo válido e ‘atualizado’ pois não buscamos reproduzir o passado e sim aprender com ele, já que “a identidade histórica assume a forma de uma competência reguladora que torna a práxis possível. As representações do ordenamento da vida, que constituem a identidade, passam a ser criticáveis e fundamentais à luz de princípios. ” (RÜSEN, 2007, p. 52-53.)
A forma crítica, naturalmente se põem a desconstruir e criticar os modelos de interpretação hegemônicos da história, buscando apresentar visões alternativas, conflitantes e distintas da experiência histórica, através de uma linguagem e uma narrativa inovadora. A nova narrativa critica opera mecanismos conflitantes e questionadores do conhecimento histórico consagrado, a ironia, a subversão e a ruptura da continuidade, recriam os horizontes de possibilidade e as carências de orientação da vida prática. Uma das principais contribuições do tipo narrativo critico é a possibilidade da formação da identidade histórica a partir da divergência, da negação e da negatividade. Com a nova linguagem narrativa, novas realidades surgem e o tempo, objeto e caminho da história acaba por se tornar julgável, mesmo que numa abstração hipotética, pelo princípio da possibilidade. Pela crítica sujeitos descontroem o mundo e a si próprios, tendo na própria retórica a força da criação de uma nova argumentação e da possibilidade da criação de novas identidades.
Modelos consagrados de autocompreensão e da legitimidade históricas das relações sociais são desmantelados quando contrastados com as possibilidades alternativas da memória histórica. Do mesmo modo, as interpretações históricas das circunstâncias atuais da vida, e as perspectivas de futuro da vida prática que elas decorrem, são desconstruídas pelo conflito das experiências históricas, abrindo espaço para outros e novos modelos de interpretação. (Rüsen, 2007, p.55)
Por sua vez, o conhecimento genético, sugere que a própria mudança temporal se constitui como uma forma de compreensão histórica, acaba sendo incorporado na consciência histórica como um adjetivo positivo da mudança, fundamental na compreensão de si e do mundo, pois negar a mudança é negar a condição fundamental do tempo, inclusive a forma em que pensamos nossa existência. O novo redefine a relação entre a expectativa e a experiência a partir da transitoriedade, onde o futuro se apresenta aberto como possibilidade. A forma de conhecimento histórico genético, permite que o experimentar a vida de forma extremamente subjetiva vá se constituindo em um mecanismo de reconhecimento comum da mudança. O resultado desse processo é a apreensão individual do discurso histórico que mais do que uma compreensão do processo da mudança, se torna em termos concretos, possibilidades de vida e do agir na vida, em relação as carências de orientação.
No modo da constituição genética de sentido, a experiência histórica adquire uma nova qualidade temporal. Ela passa a ser determina categorialmente pela divergência estrutural entre a experiência de tudo que se acumulou até agora e a expectativa do inteiramente diverso... A plenitude das mudanças temporais, que se rememora, é integrada numa determinação de sentido (direção) que remete a um futuro para além do presente, e faz aparecerem como transitórias as circunstâncias da vida. (Rüsen, 2007, p.59)
Portanto, a compreensão dos tipos narrativos do conhecimento histórico no processo de formação da consciência histórica e seu uso na didática do ensino de história, conferem a ambas uma condição qualitativa/compreensiva significativa, pois refletindo acerca da articulação entre os tipos narrativos na compreensão do processo histórico, podemos  compreendê-los mais objetivamente e utilizá-los subjetivamente em termos didáticos e metodológicos na elaboração de nossas aulas, em toda as suas fases, inclusive no processo avaliativo, sobretudo no que toque a narratividade, claro, também perceptível na escrita de nossos alunos. Outra questão importante é percebermos que a tipologia descrita não é ou possui meramente uma função analítica, mais também prática, pois acaba por permitir uma organização do conhecimento e um uso direto da compreensão histórica produzida na esfera da vida prática. Nesse sentido, “ A tipologia da constituição narrativa de sentido pode exercer, pois, uma função esclarecedora em sua reflexão sobre os fundamentos da história como ciência. ” (RÜSEN, 2007, p.66). Exemplificando o esquema dos topos/tipos constitutivos do pensamento histórico temos:

Tabela II
Fonte: Adaptado de RÜSEN, Jörn. História Viva: teoria da história III formas e funções do conhecimento histórico. p. 62. [Rusen, 2007]
Tipo da Constituição histórica de sentido
Relação ao presente
Representação no fluxo temporal
Formas de comunicação
Constituição de identidade
Sentido de tempo
Tradicional
Origens do ordenamento do mundo e formas da vida
Duração na mudança
Adesão
Adoção de ordenamentos prévios (imitação)
O tempo é eternizado enquanto sentido
Exemplar
Eventos que mostram regras gerais no agir
Validade supratemporal das regras do agir
Argumentação com força de julgar
Competência regulativa em situações de agir (astúcia)
O tempo é especializado enquanto sentido
Crítico
Acontecimentos que questionam orientações históricas
Rupturas, descontinuidade, oposições
Tomada consciente de posição em distanciamento
Rejeição de formas sugeridas de vida (convicção)
O tempo torna-se julgável enquanto sentido
Genético
Mudanças inseridas nas formas da vida
Evoluções, alterações e ajustes na vida
Relaciona- mento discursivo de posições divergentes
Individualização (formação)
O tempo é temporalizado como sentido





































A importância da reflexão acerca da constituição do pensamento histórico, seja dentro da ciência de referência, seja na didática e metodologia do ensino da história, ou ainda na vida prática de nossos alunos, repousa em parte na condição de pensarmos o passado como processo, implicando em causa e efeito. Se a ciência da história, fruto do seu próprio tempo, tempo presente da escrita da história, não olhar o passado, incorremos na possibilidade de desrealização do passado no presente, ou seja, não haveria uma continuidade explicativa e integradora do tempo e do agir no tempo. Segundo, o ensino da história, desligado do passado, negaria o próprio devir e as experiências reais que orientam culturalmente nossa tomada de decisões e a história perderia a capacidade de geração de sentido critico, pela impossibilidade de se comparar as experiências históricas do ponto de vista da subjetividade pessoal, criando no presente uma objetividade plena.
Por último, sem uma orientação temporal, nossos alunos, teriam limitadas as condições de elaboração hipotética do conhecimento histórico e o conhecimento do ensino da história seria assimilado de forma acrítica e unidimensionalmente, o que se refletiria nas ações da vida prática. Todo conhecimento produzido pela humanidade, deve se voltar em benefício da sociedade de forma válida, propositiva, permitindo a criação de um conhecimento significativo e transformador.

Referências
RÜSEN, Jörn. Teoria da História: uma teoria da história como ciência. Curitiba: Editora UFPR, 2015.
RÜSEN, Jörn. Aprendizagem Histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W. A. Editores, 2012.
RÜSEN, Jörn. História Viva; teoria da história III, formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: UNB, 2007.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel. Aprender história: Perspectivas da educação histórica. Ijuí: Editora Unijuí, 2009.

Notas:
*Professor Adjunto da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR – campus de União da Vitória, membro do LAPHIS – Laboratório de Aprendizagem Histórica, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação na UFPR em Educação Histórica sob a orientação da professora Dra. Maria Auxiliadora Schmidt – Líder do LAPEDUH – Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica – UFPR.



32 comentários:

  1. Realmente as realidades que encontrei durante meus três estágios supervisionados( no ensino fundamental principalmente)foi de uma desrealização do passado. Durante essas experiências pude observar que os estudantes carregam uma alta carga de negação da disciplina, pois não acreditam no que ela trás. Para muitos a história tanto distante como a mais recente não tem sentido. Certamente essas situações são geradas pela falta do pensar histórico nesses jovens, e que vem de todo um processo anterior de ensinar história falho. Nesse sentido como diante da total negação da própria validade da história e de seus conteúdos pelos estudantes de que forma as novas gerações de professores iniciantes podem agir? Como abordar esses jovens blindados pelo desconhecimento e pelo descredito da disciplina de modo que não sejam vistos como professores "loucos" como alguns dizem? Ass: Márcia Cleide Lustosa de Aguiar.

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    1. Oi Márcia, penso que a solução é olharmos para uma metodologia do ensino que mostre de forma clara a validade e a importância do ensino e do conhecimento de história. Nosso texto tenta apontar para um caminho, pra uma possibilidade exequível e totalmene baseada na propria dinãimica da história, em sua realidade cotidiana. Obras de Jorn Rusen, Maria Auxiliadora Schmidt, Marlene Cainelli, Estevão Resende, Isabel Barca ( Portugal) Marilia Gago (Portugal) evidenciam isso. Romper com as formas tradicionais de ensino não é nada fácil, mas digo pra você de forma sincera o conceito de 'educação histórica' mudou minha vida como professor. Também devemos abordar a história a partir da realidade e das demandas de nossos alunos e quando isso não é possível, por que nem todo o assunto nós conseguimos relacionar diretamente com a vida de nossos alunos, entretanto a percepção da validade, sobretudo, a criação da geração de sentido critico é uma compreensão da vida. E te digo, que nos chamam de loucos por que amamos o que fazemos e porque podemos mudar a vida de nossos alunos, primeiro fazendo com que eles percebam sua realidade e criem uma tomada de consciência. Abraço vamos conversando.

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  2. Sobre o pensamento histórico. Além da escola, as alunas e os alunos aprendem história em outros espaços, tais como filmes, livros de ficção, jogos, conversas com pessoas mais velhas, enfim, eles acessam o passado de múltiplas maneiras. As professoras e os professores de História podem recorrer à essas fontes de mais variadas mídias para sistematizar uma aprendizagem histórica crítica? Como usar essas fontes em favor de uma Educação Histórica nos termos propostos por Rüsen e outros teóricos dessa linha de pensamento?
    Vanessa Maria Rodrigues Viacava

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    1. Olá Vanessa, Você já apresentou a questão principal, nossos alunos em toda a educação básica, em graus e tempos diferente, possuem uma consciência história, que são formas de compreensão, entendimento e ação ao mesmo tempo são mecanismos de ação com e para com o tempo, já que a história apresenta a dinâmica do homem no tempo. Dessa forma, a grande contribuição de Rusen é mostrar que o ensino da história não pode negligenciar a própria historia/vida das pessoas, pois essas experiências de orientação são fundamentais para o indivíduos. O que vemos é que o ensino da história tradicional, desconsidera a experiencia de vida das pessoas como uma metodologia de aprendizagem, e esse distanciamento entre um conhecimento formal cientifico e o cotidiano cria uma divisão entre experiência e conhecimento formal científico. Seria como se a história fosse idealizada e como consequencial distante do nosso aluno. Para o uso das fontes (quaisquer), sugiro uma obra muito boa, A aula Oficina de Isabel Barca e Marlene Cainelli (UEL). Abraço, vamos conversando

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  3. O ensino de história ainda é isto por muitos alunos como algo desnecessário, alguns estudantes só vai para as aulas por conta de faltas ou algo desse tipo. Para além de uma aula dinâmica, que leve músicas, mapas de conceitos entre outros. Como eu professora de história posso levar para meus alunos de ensino fundamental um novo olhar em relação ao ensino da História?
    Amanda de Oliveira Santos

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    1. Oi Amanda. Sim, precisamos fazer com que nossas aulas e tudo aquilo que fazemos e levamos pra sala de aula, se articule em relação ao conhecimento histórico e a vida, cotidiano e experiência de nossos alunos. O que quero dizer é que não vamos ensinar outros conteúdos de história, eles serão os mesmos, só que adaptados e flexibilizados metodologicamente para nossos alunos consigam perceber a relação entre o conhecimento curricular da história com as experiências e demandas de nossos alunos, de suas famílias e comunidades, nesse sentido as metodologias de ensino da história defendidas pela 'Educação Histórica" contribuem de forma significativa e ajudam a gente em sala a se distanciar de um conhecimento formal e científico, história é vida e a vida ensina e vem ensinando nossos alunos a viver, a pensar e essas formas de compreensão não são aproveitadas por nós professores nas salas de aula, penso que nosso problema é metodológico e precisamos refletir sobre nossa aula, sobre o tipo de narrativa que usamos, sobre oque achamos importante o aluno saber. Abraço, Vamos conversando.

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  4. Sabemos que as discussões propostas por Rüsen é fundamental para que a História de fato cumpra seu papel no processo da construção do conhecimento do aluno. Entretanto é também perceptível que grande parte dos professores não tem conhecimento dessas discussões. Qual seria o caminho para suprir essa lacuna que existe entre a prática e a teoria? Isabel Uliana

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    1. Oi Isabel. Concordo com você, infelizmente a as licenciaturas de história pouco se abriram para uma pesquisa e um debate metodológico sobre o ensino de história e sua aprendizagem, vícios de origem. Um caminho possível é que a própria escola comece a refletir seus modelos de ensino, e isso começa com pesquisa básica! Como nosso aluno vê as aulas de história, O que é demais, oque tá faltando? etc.... claro que isso responde a parte do problema e ele é incompleto em sua essência, já que a escola é parte de um processo formativo e autonômico. Também podemos como professores e professoras, se aproximar das pesquisas ligadas ao ensino e aprendizagem histórica, especificamente a partir do conceito de "Educação Histórica" e de autores como Jörn Rüsem, Maria Auxiliadora Schmidt, Marlene Cainelli, Marcelo Fronza, Ana Paula Urban e muitos outros, Sim temos que ler e pesquisar, porque isso nos dá conhecimento e compreensão do processo, nossas aulas ficam melhores, nossos alunos aprendem mais e criam processos de compreensão da realidade ao invés de meros conhecimentos e informações, e se isso acontece temos duas consequências: 1 Uma BAITA satisfação (menos antidepressivos e melhora qualidade de vida) 2.Surge aquele olhar de COMPREENDI do aluno e isso é D+. Abraços vamos conversando.

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  6. Bom... Boa noite! Eu a cada dia tenho me interessado mais pela temática da educação histórica, realmente muito instigante. Minha pergunta é a seguinte: Como articular a educação histórica para analisar o trabalho do docente especialista de História da educação básica? Ou melhor, como perceber que tipo de consciência histórica um professor de História, a partir de sua metodologia, está estimulando nos alunos tendo como exemplo o quadro extraído de Rüsen? Ass: Manoel Caetano do Nascimento Júnior

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  7. Olá Manoel. Espero bem responder sua importante questão. Acredito que a questão é metodológica, e nesse sentido a metodologia do ensino da história é a mesma da pesquisa historiográfica, isso significa que as mesmas preocupações, variações, possibilidades que suscitamos quando pesquisamos história devem estar presentes em nossa metodologia de ensino ( o tema que vc escolheu pra pesquisar à você era caro e importante - Validade do conhecimento histórico) - SOMA-SE a isso a relação com o cotidiano, experiências e expectativas de ensino de história para nossos alunos. Quanto as questões relativos aos tipos de consciência ou aos tipos de conhecimento histórico as obras de Jörn Rüsen, colocamos uma tabela no texto acima que tenta apresentar uma tipologia, qualificação e pre-requisitos para os tipos de conhecimento histórico que são perspectivas do pensamento histórico, penso que a proximidade com os temas e o nosso interesse nos conduzem a compreensão da tipologia do conhecimento histórico. Vamos conversando Abraços.

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  8. Inicialmente devo parabenizar pelas reflexões contundentes e reveladoras a despeito do ensino de história. O desafio do professor de história do século XXI é articular a produção historiográfica aos saberes históricos no espaço escolar, bem como, a incorporação de diferentes linguagens e narrativas históricas em sua práxis pedagógica, fazendo o uso adequado das tecnologias de informação e comunicação aplicadas ao ensino da história solapando os eixos tradicionais da história linear francesa quadripartite, por uma história temática, interdisciplinar, problematizadora atenta às transformações do novo século, a partir das relações de identidade-diferença, continuidade-ruptura em diferentes contextos sócio-culturais. Eis, o grande desafio do ofício do professor historiador (Soares, 2011, p. 09). Nos termos do historiador Peter Burke para quem a função da história seria de ordenar informações sobre o passado (Burke, 1992) ou como nos propõe Eric Hobsbawm que o historiador deve sempre lembrar o que a sociedade insiste em esquecer, (Hobsbawn, 1995, p. 13) não basta ao historiador registrar apenas o passado, mas refleti-lo, problematizadoramente caucado no presente. Mais do que nunca o questionamento "Papai, então me explique para que serve a História." (Marc Bloch, 2001, p. 41.) Esta, certamente não é um pergunta simples de ser respondida e, por essa mesma razão, faz-se mister perscrutar os caminhos e descaminhos da história na tentativa de respondê-la ainda que, não satisfatoriamente. São muitos os que assim como o garoto Henri, filho do historiador Marc Bloch que questiona o pai sobre a importância de se estudar a história na introdução da obra inacabada em 1943, de Bloch permanecem sem resposta. Novamente se pergunta, PARA QUE SERVE O ENSINO DE HISTÓRIA? POR FAGNO DA SILVA SOARES

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    1. Oi Fagno, de forma mais pragmática, a partir das reflexões de Jorn Rusen, podemos enumerar algumas questões que estão mais ligadas a vida prática, num sentido de orientação de nossas ações no tempo. A história serve para compreender o tempo e nossa relação com ele, já que nossa consciência e ação se realiza no tempo e pelo tempo, pois é ele que referencia nosso pensar e agir, também nesse processo buscamos adequar nossas ações em conformidade com a sociedade, em seu tempo, o que por decorrência cria uma senso critico e uma moralidade que não é ideal, mas real. Ou seja a História serve como uma estrutura de orientação para vida prática, um situar-se um compreender e um orientar. Evidentemente que o processo histórico nem sempre está diretamente ligado as experiências e expectativa individuais, mas de forma geral ele se liga a uma cultura e ao devir humano. Essa perspectiva mais pratica e pessoal da importância e papel da história em temos individuais poder ser percebida por nossas consciências Históricas e o papel que ela exerce em nossas tomadas de consciência. Abraços, vamos conversando.

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  9. Em tempos sombrios em que as políticas públicas têm primado pela retirada da História do Ensino Médio no Brasil e de retrocessos em relação a direitos consolidados em nossa democracia, cabe ao docente um trabalho de resistência, no sentido de evocar a memória para que não esqueçamos daquilo que nos constitui enquanto seres humanos, historicamente situados. Num contexto em que dominam as tendências à valorização da novidade, do pragmatismo e imediatismo utilitário, como despertar no aluno a vontade de buscar teoricamente a fundamentação para a prática pedagógica, (nos casos de cursos de graduação de formação de professores) de forma a não cair nas teias de uma educação meramente instrumental? Qual o sentido de educar para operar, usar tecnologias, se elas tornam-se obsoletas rapidamente. Não seria mais coerente formar indivíduos capazes de pensar criticamente todos os campos do conhecimento, incluídos aí a história e as técnicas?

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    1. Olá Silvana, concordo com vc totalmente. penso que a história nesse sentido além da especificidade do tipo de conhecimento também pode vir a contribuir formidavelmente se pudermos perceber que todo o conhecimento humano deve se voltar em favor e benefício do homem. Também temos que perceber ue a ideia de 'consciência histórica' não serve somente a história como uma disciplina científica formal, mas a todas as áreas do conhecimento. Uma criança chega a escola, e graças a sua vivência e experiências com uma carga de conhecimento significativo sobre tudo, linguagem, geografia,matemática, biologia, conhecimento esse que deve se articular a vida prática. Todas as áreas do conhecimento deveriam olhar par a experiência social do conhecimento e nossa alunos e criar a a partir dele significações e relações de aprendizagem, facilitando o processo de aprendizagem pois nossos alunos vivenciam esse conhecimento. Abraço

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  11. Excelente texto, importantíssima reflexão sobre as bases do ensino de história. Sou professora da disciplina já a 15 anos e me preocupo com a representação que os alunos constroem para ela. Em pesquisa realizada em 2010 sobre as representações sociais de alunos do EM sobre a disciplina escolar, percebi que o modo como nós damos aula juntamente com os conteúdos do livro didático, são fundamentos para o alunado construir (ou não) significados positivos sobre a História. Considerando que, grande parte dos alunos não sabe identificar claramente o que espera da escola como instituição (abordando sempre a questão de arrumar trabalho, subir na vida, ser alguém...questões ligadas à sobrevivência e status social), a disciplina de História pode adquirir um sentido não muito prático para esse alunado e aí vem a pergunta: pra que estudamos História? Acredito que, essa pergunta não é fácil de ser respondida por um alunado que ainda não construiu uma vivência longa na escolarização porém, no Ensino Médio já deveriam poder responder. No entanto, ainda no EM, encontramos um grande número de alunos que não consegue responder de forma fundamentada, a importância que possui essa disciplina. Tal situação, suponho (e já atestei) que se deve em grande parte a forma "tradicional" de memorização dos fatos e acontecimentos pela qual as aulas acontecem. Além disso, existe muita dificuldade (principalmente nas escolas públicas) de interpretação de textos e discursos (quando se trabalha com fontes orais) por parte dos alunos e eles acabam não compreendendo a disciplina como um todo.

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    1. Olá Rutemara, pensamos na mesma direção. modestamente acredito que um dos problemas está na falta de articulação / relação do conhecimento histórico formal com a vida de nossos alunos. Evidentemente que o conteúdo de história é reflexo de um cotidiano, de um devir humano, da marcha da humanidade. Mas não ensinamos nossos alunos a pensar e relacionar o conhecimento histórico com seu cotidiano, penso que a partir daí ele não consegue objetivar como a história se insere na sua vida e a forma pela qual tradicionalmente ensinamos nossos alunos. Ademais a escola do ponto de vista do conhecimento pouco inclui o aluno de forma conjunta em seu no processo de construção. Penso que nós professores da rede de ensino devemos começar a produzir pesquisa, como você e parabéns por isso, para criarmos instrumentos metodológicos mais eficazes no ensino da história, quem sabe usando o conceito e a abordagem da educação histórica. Abraço

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  14. Texto muito bom, as narrativas realmente é um processo importante da aprendizagem histórica, leva o aluno a compreender o outro no tempo.Pois, o aluno percebe sua história a partir das experiências da vida do outro. Essa metodologia faz parte das Diretrizes Curriculares de História do Paraná, e porque não se estuda essa metodologia teorica de Rüsen nas academias paranaenses com os graduando?

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    1. Oi Andreia, Boa pergunta. A academia de forma geral reproduz um modelo de ensino tradicional, muito fortemente focado na pesquisa historiográfica e dela se constroem elementos didáticos para o ensino da história, o que é um problema de ordem considerável. Rüsen propõem que se ensine histórica pela sua diádica, nesse caso pela educação histórica, mais próxima do modelo de pesquisa e mais próxima da vida dos alunos, sobretudo quando olhamos para o conhecimento histórico significativo e a geração de sentido critico. A academia precisa estar em consonância com os modelos educacionais, sob pena de aumentar a distância entre modelos de ensino de história distintos. Se vc ler as diretrizes curriculares parananenses, as aulas de história no documento devem ser ministradas no modelo de aula temática, mas não é isso que as universidades paranaenses fazem. Precisamos perceber e mudar essa situação de forma propositiva. Abraço.

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  15. O ensino de Historia é visto por muitos alunos como algo do passado, historias do passado.Ma hoje temos muitos professores trazendo essas historias do passado para o momento que vivemos hoje, talvez seja uma forma diferente de trabalhar a disciplina de historia nas salas de aula. Outros professores procuram metodologias diferentes em que o aluno possa vivenciar essas historias, deixando-os mais empolgados com a disciplina e mostrando-lhes o quanto é importante sabermos principalmente da historia da educação. Sou graduanda em pedagogia e no meu ensino médio não tive a oportunidade de conhecer a historia da educação.Como trazer para salas de aulas conteúdos, narrativas sobre a historia da educação? Os livros didáticos da maioria do ensino fundamental não traz essas informações.
    Inglyd da Silva Becher

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    1. Oi Inglyd. Acho que a gente pode partir das experiências dos alunos, de suas experiencias, da experiência de outros professores, pois é essa experiência está conectada com a vida prática e relacionadas com o conhecimento especifico da história da educação gera um conhecimento válido para a vida prática. Por isso nos cursos de educação a prática do relato de experiência é muito valorizado, pois ele articula o conhecimento da história, ou teoria da educação com experiências reais e próximas da experiência e expectativa das pessoas. Quando a história da educação penso que bibliografias mais especificas ajudam a gente a resolver essa lacuna. Abraços vamos conversando.

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  17. Ser professor no Brasil é um desafio e ser professor de História ainda mais. Gostaria de saber, sem vitimismo de minha parte, a opinião de vocês autores sobre como nós professores de História podemos "inovar" em nosso trabalho, quais práticas podemos fazer, considerando as grandes dificuldades que permeiam nosso trabalho e principalmente na escola pública, que sofre a triste realidade de um país que desvaloriza a educação não oferecendo condições de uma prática que conquiste os alunos no dia a dia da escola?


    Andrea Cristina Marques

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    1. Olá Andrea. Também trabalhei em ensino fundamental e médio por 18 anos, somos colegas, mas se eu puder dar uma opinião, acredito que podemos começar a partir de 1. Reflexão didática metodológica sobre nossa prática constantemente, numa qualidade reflexiva que contribua para a superação de nossas dificuldades e limites e 2. Fazer pesquisa em nossas salas de aula sobre nossos problemas e apontar caminhos e soluções prováveis. Em geral o professorado acredita que a prática na educação resolve o problema didático, mais muitos trabalhos interessantíssimos vem chegando e sendo produzidos no Brasil, precisamos saber e aproveitar o que pode vir a melhorar nossas aulas e a satisfação de nossa docência. Sugiro caso não conheça, mas acho que conhece, Rüsen, mara Auxiliadora Schmidt, Isabel Barca, Marília Gago, Marlene Cainelli, Marcelo Fronza, Ana Paula entre outros. Abraço.

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  18. Quando vocês observam que a forma critica se propõe a desconstruir outras formas de interpretação da história, não estaria ao mesmo tempo negando-as e transformando a ciência da história em algo relativista? Geralmente, pela questão da disciplina ter sempre um livro didático anual, os alunos veem o livro como algo que contém a verdade (já mostrei isso em uma pesquisa com alunos do Ensino Médio). E já ouvi muito aluno perguntar se existe uma verdade dos fatos ou se é só uma interpretação do historiador que detém a sua verdade. Isso seria ou não um problema para a disciplina?

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    1. Rutemara, obrigado pela pergunta. A história produz verdades, não num sentido restrito como verídico, mas como entendimento e apropriação da realidade. O pensamento critico, não pode se desvincular da realidade e a realidade é fundamental para a compreensão e geração de sentido da vida prática, o pensamento sobre a vida e como nela agir, tem que funcionar e é exatamente isso que as vezes deixamos de lado ao ensinar. A vida prática é o laboratório da história, próximo quem sabe de um funcionalismo histórico, a historia se realiza pela vivência e não pela hipótese, ainda que a hipótese também orientem a vida prática e nosso agir no tempo. Dessa forma o abstracionismo ou relativismo da história existe num plano ideal, mas não na vida prática, pois ela é uma realidade mediada, ainda que parta de uma idealização do individuo para com o todo. Abraços vamos conversando.

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  19. Boa Noite Prof Everton, e o prof Sergio Scorsato gostaria de parabeniza-lo pelo evento.
    Lendo Rüsen vemos a importância que o mesmo da ao tempo passado, Rusen atribui o tempo passado dentro do motocontínuo da aprendizagem da história. Sendo assim de que forma o professor poderia colocar a criança no tempo histórico passado gerando nestes sujeitos a empatia ?
    ATT

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  20. Modestamente penso que Freire e Rusen abordam a questão e nesse caso. em temos didáticos os professores deveriam primeiro criar uma empatia, uma afetividade relacional com os alunos e a partir disso mostrar como a história se relaciona coma vida cotidiana e prática deles, permitindo então a percepção do significado do conhecimento histórico a partir de suas próprias experiências que são forma de apreensão/ compreensão da realidade, grande abraço.

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  21. A QUE SE DEVE ESSE PROCESSO HISTÓRICO QUE O BRASIL VIVE ATUALMENTE NA MODELAÇÃO DO ENSINO BÁSICO, RETENDO CONHECIMENTOS CRUCIAIS NA FORMAÇÃO CRÍTICA DA POPULAÇÃO? E ATÉ QUE PONTO O PROFESSOR DE HISTÓRIA ESTÁ AMEAÇADO, NO QUESITO DE LECIONAR EM SUA ÁREA, ONDE EM DIVERSOS ESTADOS DO BRASIL, O PROFISSIONAL DE ENSINO SE SENTE PRESSIONADO A LECIONAR EM DIVERSAS ÁREAS DIFERENTE DE SUA FORMAÇÃO PARA QUE SE MANTENHA NO CARGO?

    JÁYSON FELLYPE RIBEIRO PRADO

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