Páginas

Dulceli Estacheski

GÊNERO E ENSINO DE HISTÓRIA: ENCARANDO O ROSTO DA HUMANIDADE
Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski
Professora do curso de História da UNESPAR/União da Vitória
Doutoranda em História – UFSC

Entre meus livros prediletos está a obra de Bonnie Smith, ‘Gênero e História: homens, mulheres e a prática histórica’ (2003). A autora, ao longo de quase quinhentas páginas, discorre sobre como a escrita da história se tornou masculina por tradição. Escreve sobre as mulheres que eram consideradas historiadoras amadoras e foi com esse livro que tomei conhecimento de algumas autoras, como, por exemplo, Germaine de Stäel, escritora do fim do século XVIII, que só agora teve uma obra traduzida para o português (STÄEL, 2016). Mary Wollstonecraft também teve seu excelente texto, ‘Reivindicação dos direitos da Mulher’, publicado em português em 2016. Smith (2003, p. 156) argumenta que “as biografias dos grandes historiadores homens – aqueles que escreveram sobre política – ajudam a explicar como passamos a exaltar o historiador homem e a menosprezar ou até mesmo suprimir a obra histórica das mulheres”.
Demorou para que a escrita das mulheres fosse reconhecida. Demorou para que as mulheres fossem reconhecidas como sujeitos da história. Os livros didáticos de história ainda dedicam pouco espaço para a ação das mulheres na história, quando aparecem são menosprezadas, estão apenas em figuras, em quadros complementares, como se fossem anexos da história ou como personagens secundárias, por exemplo, ao apresentar Anita Garibaldi a definem simplesmente como a esposa de Giuseppe (ESTACHESKI, 2016). Os programas das diferentes disciplinas nos cursos de graduação e pós-graduação ainda trazem uma maioria de autores masculinos e isso não quer dizer que mulheres não escreveram sobre os temas, mas que muitas ainda não são conhecidas ou reconhecidas.
Cada espaço conquistado é fruto de um processo de luta. Não foi simples e nem gratuito o reconhecimento de muitas autoras. Antes disso, não foi fácil alcançar o direito de ingresso nas escolas e depois nas universidades, assim como o aparecimento nos livros escolares como partícipes ativas de eventos históricos. E ainda há muito a conquistar. Se houve e ainda há distinção entre o trabalho de homens e mulheres na prática histórica, é porque houve e ainda há relações desiguais de gênero em nossa sociedade.
Essa relação entre um passado de discriminação e um presente de conquistas não pode nos conduzir a uma ideia de evolução que, por vezes, pode parecer estável ou inevitavelmente progressiva. Turini faz uma interessante reflexão a esse respeito em seu texto ‘A crítica da história linear e da ideia de progresso’ (2004). Não é possível pensar a história como um caminhar de um passado difícil para um futuro inexoravelmente melhor. Esse posicionamento geraria comodismo e perdas quando nos referimos, por exemplo, à igualdade de gênero. Essa é uma questão que necessita de constante reflexão e de empenho diário para que mais pessoas tenham mais acesso a direitos e tenham a possibilidade de vida digna.
Parece inconcebível que em pleno século XXI seja necessário afirmar que mulheres têm os mesmos direitos que homens, mas ainda é necessário lutar por igualdade salarial, ainda é preciso justificar a presença de mulheres em alguns espaços e mulheres ainda são criticadas pela vivência de sua sexualidade, pela roupa que vestem ou escolhas que fazem. Após tantas conquistas de mulheres, retrocedemos ao ler uma matéria em revista, infelizmente de circulação nacional, exaltando a figura de uma mulher, Marcela, apresentada como “bela, recatada e do lar” com o claro propósito de crítica a outra mulher, Dilma, que atingiu o mais alto posto político no Brasil, a presidência da República (LINHARES, 2016). O texto corroborou para discussões sobre ‘o lugar das mulheres’, debate que parece tão ultrapassado, mas que ainda resiste.
Esse retrocesso é perceptível também no famigerado projeto ‘Escola sem Partido’, cujo nome encantador é ardiloso, engana fácil pessoas desatentas. Sou professora de Metodologia de Ensino de História, Didática da História e Estágio Supervisionado na Universidade Estadual do Paraná, campus de União da Vitória. Tenho alunos e alunas que atuam nas escolas da região. No final do ano passado, dois deles vieram me procurar porque na escola em que trabalhavam uma professora desenvolveu atividades com as crianças sobre a igualdade entre homens e mulheres, sobre as lutas do movimento feminista. Atitude corretíssima que demonstra uma mudança positiva no ensino que antes não abordava tais questões. Porém, uma mãe de aluna ficou descontente e enviou uma carta à escola reclamando da postura docente. A carta é cópia de partes do projeto citado anteriormente e pede que a escola se abstenha de várias condutas, inclusa entre elas a de “adotar, promover, aplicar ou, de qualquer forma, submeter os alunos aos postulados da teoria ou ideologia de gênero”.
Após tanto trabalho para que as ações das mulheres começassem a ser ensinadas na escola, o projeto vem prestar um desserviço à sociedade. E se para as mulheres isso é retrocesso, a questão é muito pior se pensarmos nas pessoas homossexuais, ainda mais discriminadas e significativamente menos visíveis na história ensinada até os dias de hoje. Se a história foi transformada em uma história masculina pela tradição, como aponta Smith (2003), ela também foi transformada em heterossexual pela mesma tradição.
Os defensores do projeto usam da boa fé de pessoas que desconhecem os estudos de gênero para distorcer questões, para assustar pais e mães. A mãe que enviou a carta à escola aqui da região estava preocupada com a educação da filha, achando que ao estudar sobre o movimento feminista e sobre a igualdade entre homens e mulheres, a criança abandonaria a fé adotada pela família. Uma mulher que se assusta com uma professora que ensina para sua filha a história de mulheres que lutaram para que todas as outras, inclusive ela, tivessem uma vida mais digna. Isso é resultado de uma sociedade machista e heteronormativa que aprisiona pessoas em concepções preconceituosas.
A escola é laica. Não pode nem promover e nem discriminar crenças. O papel da escola é a socialização do conhecimento historicamente construído e a produção do saber escolar. Isso significa que mesmo que a pessoa não acredite em dinossauros porque eles não aparecem no mito de criação que adotaram em sua fé, a escola ensinará sobre eles, porque comprovadamente existiram. A disciplina de História na educação básica tratará sobre mudanças e permanências no tempo. Inevitavelmente abordará questões que antes eram pensadas de determinada maneira e hoje são tratadas por outras perspectivas. A terra era entendida como plana, a terra é redonda. Mesmo que a Igreja Católica condenasse tal pensamento, os fatos históricos, a realidade gerou transformação e o que era absurdo passou a ser aceito, pois é real.
A escola precisa trabalhar com as questões de gênero. A dignidade humana depende disso, já que, talvez, seja esse o único espaço em que muitas pessoas terão acesso a esse conhecimento. É absurdo o prefeito de Ariquemes (RO) mandar arrancar folhas dos livros didáticos que tratam de diferentes constituições familiares e da diversidade sexual (CARLOS, 2017), porque existem diferentes constituições familiares, existem pessoas homossexuais e elas estão nas escolas. Assim como foi preciso entender que a terra é redonda é preciso compreender que tentar proibir tais temas não faz sentido. É fechar os olhos à realidade e colaborar para o desconhecimento que fomenta o preconceito que conduz à discriminação e à violência.
Em seu mais recente livro publicado no Brasil, Rüsen (2015, p. 32) discorre sobre a alteridade e sobre a necessidade de alimentar em nós o potencial humano. Para ele a história ensinada deve “encarar o ‘rosto da humanidade’” e nesse sentido é fundamental o trabalho sobre a diversidade para uma educação inclusiva que tenha como resultado o desenvolvimento social. A história é a ciência que estuda as ações humanas no tempo, como afirmou Bloch (2011) e todas as pessoas merecem ser reconhecidas. Homens, mulheres, homossexuais ou heterossexuais agem no mundo, sendo, portanto, sujeitos da história. Criam, recriam, transformam e por isso devem compor o currículo escolar de história. Negar ‘o outro’ não o faz desaparecer, só nos torna menos humanos, mais preconceituosos.

Referências
BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
CARLOS, Jeferson. Prefeitura manda tirar trechos de livros escolares com união entre gays. G1. 23/01/2017. Disponível em: http://g1.globo.com/ro/ariquemes-e-vale-do-jamari/noticia/2017/01/prefeitura-manda-arrancar-paginas-de-livros-escolares-sobre-homossexuais.html. Acessado em: 25/01/2017.
ESTACHESKI, Dulceli de Lourdes Tonet. História das mulheres: entre historiografia e livros didáticos. BUENO, André; ESTACHESKI, Dulceli; CREMA, Everton (orgs.). Para um novo amanhã: visões sobre aprendizagem histórica. Rio de Janeiro/União da Vitória: Edição Ebook LAPHIS/Sobre Ontens, 2016.
LINHARES, Juliana. Marcela Temer: bela, recatada e do lar. Revista Veja, 18 de abril de 2016. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/bela-recatada-e-do-lar. Acesso em 25/09/2016.
RÜSEN, Jörn. Humanismo e didática da História. Curitiba: WA Editores, 2015.
STÄEL, Madame de. Da Alemanha. São Paulo: UNESP, 2016.
SMITH, Bonnie. Gênero e História. Homens, mulheres e prática histórica. Bauru: EDUSC, 2003.
TURINI, Leide Alvarenga. A criticada história linear e da ideia de progresso: um diálogo com Walter Benjamin e Edward Thompson. Revista Educação e Filosofia. V. 18, N. 35/36, janeiro/dezembro, 2004.

WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos direitos da mulher. São Paulo: Boitempo, 2016.

36 comentários:

  1. Olá professora! Quando este descontentamento da abordagem do tema vem de pais/mães, podemos pensar que é por falta de acesso a informação e estão convictos em suas crenças. Mas infelizmente, isto ocorre também entre profissionais que atuam na escola e resistem na abordagem desses temas. Como incluir na escola o estudo de Gênero na escola, quando educadores(as) tem postura machista e não concordam que há desigualdade de gênero?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Layana Márcia Carvalho Pereira4 de abril de 2017 às 13:17

      Infelizmente vivemos em uma sociedade machista e cheia de preconceitos e que estão ensinando seus filhos assim. Nós futuros professores temos que tentar reverter esta situação devemos debater mais e aceitar a opinião de todos mesmo aquelas preconceituosas para que possamos analisar e refletindo sobre elas.

      Excluir
  2. Olá Ana Joana. Há falta de (in)formação docente também em relação a esse tema. É preciso suprir essa carência. As universidades precisam inserir de fato as discussões nos cursos de licenciatura (para docentes em formação) e é preciso viabilizar a formação para a temática a docentes já graduados/as. Cursos de extensão, por exemplo.

    ResponderExcluir
  3. Uma pesquisa realizada pela Letícia Mistura e Flávia Eloisa Caimi (2015) sobre o (não) lugar da mulher nos livros didáticos de história produzidos no período entre 1910 e 2010, concluiu que há uma “distância entre a renovação historiográfica que inclui as relações de gênero como possibilidade metodológica e o conteúdo perscrutado nos livros didáticos de História. ” (p. 229). Ou seja, os livros didáticos têm dificuldades em adequar as novas historiografias sobre o tema em seus conteúdos. Isso nos leva a pensar que, por enquanto, cabe a nós professorxs essa inserção das relações de gêneros na sala de aula e cobrar essa temática da sociedade, seja em formação de professorxs, inclusão em livros didáticos e sobretudo nas políticas públicas.
    Muito bom seu texto Professora, uma leitura prazerosa!
    Paula Ricelle de Oliveira

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Paula. Essa inserção nos livros didáticos também me incomoda bastante. O descompasso entre a produção historiográfica e os conteúdos dos livros. Escrevi sobre isso ano passado no simpósio. Vou procurar esse texto que mencionou, me interessa muito. E é isso, nós docentes precisamos assumir esse trabalho. Vamos em frente.

      Excluir
    2. Segue link do texto: http://www.seer.ufrgs.br/aedos/article/viewFile/57019/34356

      Paula Ricelle de Oliveira

      Excluir
  4. Após fazer a análise do texto proposto, ficou a seguinte indagação: esta ideologia machista encontrada nos ambientes educacionais, provém das questões religiosas que foram embutidas em nossas mentes, “onde a EVA (mulher) é culpada de tudo”.?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Luciano. Não apenas de uma tradição religiosa judaico-cristã, como citado, pois outras religiões também tem questões de gênero a serem pensadas. Mas de uma sociedade constituída por padrões patriarcais, o que envolve não apenas um discurso religioso, mas também jurídico, midiático, etc. que ao longo do tempo estabeleceram padrões de comportamento considerados adequados para homens e mulheres, colocando estas em posição de submissão e inferiorização.

      Excluir
  5. Boa noite professora! Vivemos ainda em um meio extremamente conservador, onde desconsiderar as diferenças é utilizado como pretexto para mascara-las. No entanto, muitos alunos questionam as relações de gênero, mesmo que o professor não aborde o assunto. De que forma os professores podem contribuir neste debate e teria alguma dica metodológica para tal abordagem? Atenciosamente, Helem da Rocha Leal

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Helen, concordo com você. A escola é um espaço vivo, alunos e alunas trazem suas experiências para a sala de aula e isso não pode ser ignorado. Então, mesmo que se tente mascarar as questões de gênero, elas surgem no dia a dia, porque são parte de nosso cotidiano. Docentes precisam entender que quando a escola foca apenas no conteúdo científico (conteúdos das disciplinas, fechados em si mesmos), sem relacionar com a vida prática, não contribuem para um aprendizado significativo. A dica é, em primeiro lugar, não ignorar as questões postas por estudantes, traze-las para o debate. É importante que se percebam sendo ouvidos/as. E é claro, precisamos buscar formação para atuar de maneira eficaz.

      Excluir
  6. Olá Dulce
    Em tempos como os que vivemos,a questão de Gênero tem sido alvo de grupos conservadores, inclusive punindo professores. como trabalho com gênero, penso que devemos dialogar ainda mais e publicizar nossas ações nas escolas. Como pensas essa questão?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá professora. Vivemos tempos sombrios, mas saber que não estamos sós nessa empreitada é um alento. E por isso também acho que precisamos publicizar nossas ações, pois o conhecimento ajuda a romper com preconceitos. Ano passado desenvolvemos aqui em nossa região um projeto junto aos EJAs chamado Gênero e Diversidade Sexual: ações afirmativas para combater a violência. Quando as escolas recebem essas propostas, percebem que as discussões de gênero são essenciais. O "medo do tema" provém de conservadorismos cegos. Por isso, sim, dialogar mais e partilhar saberes, ir às escolas, não fechando-nos apenas no espaço acadêmico da pesquisa.

      Excluir
  7. Olá, Dulceli!

    Atualmente venho enfrentando algumas dificuldades com relação ao trabalho com gênero nas escolas. Faço parte do Pibid e por mais que esse projeto torne as metodologias de trabalho acerca da temática flexíveis, ainda acabamos por dar de encontro com dificuldades pequenas, no entanto, se não buscarmos solucioná-las, tomam maior proporção, como a exemplo a dificuldade de se trabalhar gênero quando o professor da disciplina impõe obstáculos indiretamente. Dessa forma, pegando um gancho de seu texto - que por sinal está bem escrito - gostaria de saber se dentro dos projetos de extensões ou formações continuadas, a senhora viabiliza algum método que possamos envolver esses professores com a temática partindo do lugar em que estão inseridos (como a exemplo, o espaço escolar)?

    Maria Larisse Elias da Silva

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Maria Larisse. O Pibid é uma experiência enriquecedora para as licenciaturas e para as escolas que o recebem. Encontraremos resistência ao falar de gênero. Isso é fato. O melhor caminho? O diálogo. Esse é o meu posicionamento. Quando começamos a conversar sobre os temas, abrimos possibilidades para argumentações e temos argumentos suficientes para mostrar a importância de se trabalhar as questões de gênero no ambiente escolar. Em experiências em projetos de extensão, começamos debatendo temas cuja relevância é inquestionável, por exemplo, o combate à violência contra as mulheres, nenhuma escola ou docente proíbe esse debate, pois é obviamente essencial. A partir dele, outras questões de gênero surgem, às vezes nem são colocadas por nós, mas pelas próprias pessoas que participam (estudantes ou docentes), e o diálogo segue sendo perceptível que os assuntos precisam ser trabalhados. Dá uma olhada no livro 'Gênero, Educação e Sexualidades' e na cartilha 'Vida de Francis' que produzimos por um projeto de extensão. Tem relatos de experiência ali que podem ajudar. Estão nesse link: http://revistasobreontens.blogspot.com.br/p/livros.html

      Excluir
    2. Muito obrigada pelas contribuições, Dulceli. Foram muito importantes. Que possamos manter esse contato.

      Um abraço!

      Excluir
    3. Sim! Partilhar saberes é muito importante. Aprendemos umas com as outras. Abraços

      Excluir
  8. Layana Márcia Carvalho Pereira4 de abril de 2017 às 13:57

    Boa tarde professora. Desde quando nascemos nossos pais já nos ensina como vamos nos verti com o que vamos brincar com quem vamos nos relacionar ( meninos brincam como meninos e meninas brincam com meninas ). Nossa cultura tem uma ideologia errônea de gênero sendo disseminando de pais para filhos pela sociedade em geral,na escola, no passeio em parque, nos clubes sociais, em todo lugar.Em meio a isso os meninos crescem e se tornam machistas e as meninas pensam que são o sexo frágil com aquela ideia que devem obedecer seus passeiros . Observando tudo isso ai vem aquele questionamento que não quer calar como como mudar essa triste realidade, como abrir os olhos dessa sociedade preconceituosa?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia Layana. Acredito na educação. Podemos transformar a sociedade através dela. Educar para a não violência, para a dignidade humana.

      Excluir
  9. Layana Márcia Carvalho Pereira4 de abril de 2017 às 16:28

    Layana Márcia Carvalho Pereira4 de abril de 2017 13:17
    Infelizmente vivemos em uma sociedade machista e cheia de preconceitos e que estão ensinando seus filhos assim. Nós futuros professores temos que tentar reverter esta situação devemos debater mais e aceitar a opinião de todos mesmo aquelas preconceituosas para que possamos analisar e refletindo sobre elas. Layana Márcia Carvalho Pereira.

    ResponderExcluir
  10. Olá Dulceli, gostaria de dizer que gostei bastante do seu texto.
    "A escola precisa trabalhar com as questões de gênero. A dignidade humana depende disso, já que, talvez, seja esse o único espaço em que muitas pessoas terão acesso a esse conhecimento."
    Concordo totalmente com você. Mas o que fazer (ou tentar) para mudar, esse pensamento arcaico que é impossível debater sobre isso na escola? Uma outra questão se refere à qual postura um professor (a) deve assumir em uma situação que os próprios pais dos alunos se mostram irreversíveis ao fato da possibilidade da discussão em sala de aula sobre gênero com seus filhos?

    Att,
    Wiliana Maiara do Nascimento

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia Wiliana, obrigada. É possível sim debater gênero na escola, temos tido experiências significativas em nossa região. Porém, é claro que ainda há muito o que se fazer. Embates existem, vivemos tempos difíceis. Quando propomos projetos de extensão para as escolas com tal temática, conversamos antes com a equipe pedagógica e docentes para explicar o trabalho. Nossos argumentos em relação ao tema abriram as portas em todas as escolas nas quais trabalhamos. É preciso formar docentes da educação básica para as questões de gênero, inserir as discussões nos cursos de licenciatura, para que compreendam a relevância. Esses assuntos surgem no dia a dia da escola e não podemos nos eximir de tratar da questão que em grande parte das vezes é trazida pelos/as próprios/as estudantes. Há pais e mães que não entendem? Há, infelizmente. Não tiveram acesso a tais debates quando estavam na escola, trazem suas concepções por vezes equivocadas, confundem o debate sobre gênero com algo religioso, o que não se sustenta. Tenho aconselhado as escolas a chamar esses pais e mães para o diálogo. Infelizmente, poucos/as aparecem. E a escola deve continuar a tratar dessas questões, pois o conhecimento é direito das crianças, adolescentes, jovens e adultos que dela participam.

      Excluir
  11. Bruna Liana Teza Canarin5 de abril de 2017 às 07:28

    Olá Dulceli, quando iniciei a leitura de seu texto, lembrei-me de um livro que li ano passado, e ele me deixou cheio de interrogações pela temática abordada (a história de uma escrava branca),e não é de hoje que vivemos em um mundo em que as mulheres são tratadas como inferiores (também, subordinadas) aos homens, em uma aula de filosofia, minha professora comentou que foi a partir do século XVI que a mulher começou a ficar em casa, a não trabalhar e coisas do tipo, acredito que se não fosse essa questão, nós seriamos bem superiores aos homens, e eles subordinados a nós.
    Não é só em materiais didáticas, dentro ou fora da sala de aula, mas a formação de docentes, também pede um conteudo mais abrangente hoje do que a alguns anos atrás, e não há nenhum tipo de capacitação para esta tematica, ou outra (como o ensino de historia africana e indigena).
    São poucos os livros escritos por mulheres, realmente a demanda é pquena, mas sabemos que alguns casos são tidos como exceção sendo que na realidade não o são.
    Como abordar este assunto em uma sala de aula, seja ela de ensino superior ou secundário?
    Bruna Liana Teza Canarin

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Bruna. Penso que a questão não é de inverter uma condição de superioridade e subordinação e sim garantir direitos e equidade. A produção escrita de mulheres é muito vasta, e precisa ser melhor conhecida. As universidades precisam se abrir a essas leituras, inserir nos programas das diversas disciplinas. Os cursos de licenciatura precisam oportunizar a formação para as questões de gênero, bem como o devem fazer os programas de formação continuada de docentes da educação básica para que a temática seja inserida nas aulas e nos materiais didáticos.

      Excluir
  12. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  13. Olá Dulceli. Já sabemos que a história das mulheres é bem pobre em registros face à importância que teve em todos os momentos da humanidade. Para além disso, o debate sobre o tema na educação básica é falho nos livros didáticos ou mesmo nos programas de ensino. Qual a sua sugestão para que possamos produzir e incentivar a escrita da História das Mulheres Contemporâneas?
    Leandra Paulista de Carvalho

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Leandra... há uma vasta bibliografia sobre a história das mulheres, infelizmente, nem sempre é trabalhada nos cursos de formação docente, por exemplo. Essa é uma das ações necessárias, fazer com que a produção acadêmica sobre a história das mulheres seja conhecida, debatida nos cursos de licenciatura. Outra ação é o incentivo de produção de materiais didáticos que explorem o tema. Precisamos diminuir o descompasso entre produção acadêmica e materiais escolares. Os projetos de extensão universitária são um excelente auxílio nessa empreitada de produção de materiais e planos de aula, porém, é preciso ampliar isso, não ficando em projetos isolados. Os cursos de licenciatura precisam formar para essa produção. A academia não pode ficar somente nos artigos científicos, precisa também produzir material didático. Isso diminuiria o descompasso entre a produção historiográfica e os materiais que chegam à escola.

      Excluir
  14. Olá Dulceli,
    Concordo com suas reflexões, e acho mesmo que devemos fazer um enfrentamento cada vez mais vigoroso, sob pena de perdermos grandes avanços dos últimos tempos. Mas sempre que a discussão sobre a “Escola sem partido”/”Escola da Mordaça” vem à tona fico sempre com a sensação de que nós que pesquisamos na área dos estudos de gênero precisamos nos articular melhor para fazer o enfrentamento dentro das Universidades, particularmente nos cursos de formação de professores, pois a maioria deles não tem disciplinas voltadas para a temática. Acredito que precisamos com urgência reformular os currículos das licenciaturas.
    Abraços,
    Eliane Freitas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo totalmente com você. Temos vivido dias difíceis com grandes retrocessos e os cursos de licenciatura precisam se mobilizar para esse enfrentamento. A inserção de uma disciplina relativa à gênero nesses cursos é fundamental, bem como a atuação das universidades em cursos de extensão voltados à docentes que já atuam na educação básica e não tiverem a possibilidade de discutir tais questões no período de sua formação inicial.

      Excluir
  15. É urgente se pensar metodologias que estimulem discussões sobre gênero nas escolas. A escola, como muitos cientistas já observaram, é uma mini-sociedade e, por isso mesmo, reproduz todo tipo de violência e exclusão dá comunidade. Agressões às meninas, hipersexualização, fora perseguições aos que começam a se definir como homossexuais. A dificuldade maior não está nas crianças, mas nos adultos ao seu redor que barram ou desfazem aquilo que tentamos desnaturalizar. Inclusive alguns colegas que também se valem de práticas machistas excludentes.
    Francisca Eveline Pereira Viana

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tem razão Eveline, é urgente. Infelizmente o machismo e a homofobia estão presentes nas escolas como reflexo da sociedade. É preciso educar para a não violência e é preciso promover o diálogo entre docentes, equipe pedagógica, funcionários/as das escolas para que tenham oportunidade de se repensarem diante dessas questões.

      Excluir
    2. Obrigada Dulceli, é como um professor meu disse uma vez, o problema é o como. Espaços como esse aqui são ideais para essas discussões, estou gostando de participar.

      Excluir
  16. Olá, professora.
    Antes de mais nada, parabéns pelo belíssimo texto.
    Você acha que o desenvolvimento no ambiente de ensino escolar de figuras importantes na história como a aviadora Amelia Earhart, por exemplo seriam suficientes para suprir essa falta de conhecimento da história das mulheres ou propõe algum outro projeto anexo de ensino para melhorar essa situação na qual nosso quadro de ensino se encontra?

    Novamente, parabéns pelo excelente texto.
    Atenciosamente, Luciana Ventura Nobre Abido.

    ResponderExcluir
  17. Prezada professora Dulceli!
    Interessante texto. A perspectiva de observar as questões de gênero na própria escrita da História é bastante relevante. Poderia citar algumas historiadoras que se destacaram e o contexto em que atuaram? Ao pensar no livro A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia, de Peter Burke, verificamos ainda a predominância de nomes masculinos na historiografia.
    Abraços,
    Cláudia Gisele Masiero

    ResponderExcluir
  18. Boa noite, Dulceli!

    Parabéns pelo texto maravilhoso!
    Sabendo que é dentro do espaço escolar que precisamos desconstruir o machismo de todo dia, como enfrentar tais barreiras, quando a própria equipe escolar não pensa ser relevante tal fato para a educação?

    Grata,
    Helayne Cândido.

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.