UM HOLOCAUSTO INDÍGENA AINDA INVISÍVEL NO ENSINO DE HISTÓRIA
Dhiogo Rezende Gomes
Prof. Mr. História IFMA
Mudanças significativas ocorreram nas ciências humanas, nas disciplinas e conhecimentos de História e Antropologia, no que tange os povos indígenas em suas histórias e culturas como objetos de estudo e de ensino nos espaços acadêmicos e escolares, destacando-se a lei 11.645 de 2008, alterando a Lei de Diretrizes e Bases da nossa educação. Contudo, certas permanências consistem ao ponto de reaproximar ou realinhar os indígenas aos paradigmas que os colocam como seres em face de integração ou assimilação a uma cultura tida como maior e dominante.
Um dos exemplos ainda se faz, quando de forma fragmentada, parcial, para mero atendimento de uma legislação atual que “obriga” a inserção de conteúdos de história e cultura indígenas no ensino básico. Pois encontramos certos equívocos, noções preconceituosas, idealizadas ou desprendidas das diversas realidades históricas e socioculturais das centenas de etnias que habitam o país. Composições de forma ainda genérica, como “índios” em imagens que trazem tais povos como presos ou congelados no período da colonização. Notadamente como vítimas e sem agencias nos livros didáticos que são os principais vetores dessas informações podendo ou não, virar conhecimentos no trabalho e na relação entre professores e estudantes (FERENANDES, 2009; SILVA, 2012).
São permanências que ainda sofrem influências do paradigma que encontrou numa ideia de aculturação, no sentido de perda de uma cultura pelo recebimento (forçado ou passivo) de outra, um olhar para condição indígena como temporária, frágil e passiva de ingresso na esteira da “civilização”. Mesmo no entendimento de estudiosos do porte de Darcy Ribeiro (1996), por mais críticas elaboradas na defesa da questão indígena pela via das políticas indigenistas que tivesse, aventava-se um processo onde nos contatos com a sociedade nacional, os povos indígenas estariam expostos a uma “transfiguração étnica”.
Qualquer avanço nas questões indígenas, seja no âmbito político ou acadêmico, passava inevitavelmente por mudanças de paradigma, visando uma constituição dos povos indígenas como sujeitos históricos, resistentes, agentes de suas sobrevivências. Indo além de sobreviventes, como negociadores e importantes em suas presenças, em processos históricos que contribuíram com a formação do Brasil, indígenas como essenciais nas conquistas e manutenção de territórios, como aliados ou inimigos dos colonizadores (OLIVEIRA; FREIRE, 2006).
Assim, a condenação desses povos ao desaparecimento físico ou cultural foi uma constante até a emergência de mudanças paradigmáticas nesse horizonte. Houve então a transição de um paradigma impregnado por evolucionismos e concepções biológicas de raça para outro que se apoiou na perspectiva dos indígenas pelo prisma cultural após a 2ª Guerra Mundial (CUNHA, 2009). O critério da cultura devendo romper com determinismos culturais e universais, sendo tal conceito entendido como dinâmico, destacando a autodeterminação de um grupo no seu reconhecimento enquanto etnia.
São mudanças consideráveis no entendimento, no estudo e no ensino da questão e da temática indígena a partir dessa base, que inicia com a percepção de que os povos indígenas são seres históricos, dinâmicos em suas culturas no tempo e no espaço. Um processo que contou com ampla intervenção dos próprios povos indígenas a partir da década de 1970 (CUNHA, 2012), época em que as ideias de aculturação, assimilação e integração desses povos a sociedade nacional ou ocidental, ganharam críticas de teorias como a de Fredrik Barth (2011). Com uma abordagem de fronteiras entre os grupos étnicos, propondo que povos em suas culturas diferentes e em contatos, fazem suas manutenções culturais e de identidades não pela distância ou pelo isolamento, mas pelas trocas humanas, simbólicas e também materiais na ressignificação de elementos em oposições, em objetos, produtos de uma cultura frente a(s) outra(s).
Neste contexto de transição de paradigmas na questão indígena/indigenista que no Brasil ocorre na década de 1970, o Brasil passa pela Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Manuela Carneiro da Cunha (2012, p.22), sobre a transição, afirma que
No fim da década de 1970 multiplicam-se as organizações não governamentais de apoio aos índios, e no início da década de 1980, pela primeira vez, se organiza um movimento indígena de âmbito nacional. Essa mobilização explica as grandes novidades obtidas na Constituição de 1988, que abandona as metas e o jargão assimilacionistas e reconhece os direitos originários dos índios, seus direitos históricos, à posse da terra de que foram os primeiros senhores.
Cunha nos leva a um paradoxo, o mesmo período que significa aos indígenas um momento histórico de ascensão, esconde fatos que atingem os direitos humanos dessas populações. Por baixo de êxitos indígenas em suas lutas, o modelo de desenvolvimento econômico e regional, principalmente no centro e norte do país, em face do Plano de Integração Nacional, foram o motor de políticas de extermínio de povos indígenas postos ou entendidos como entraves ou empecilhos a estes processos e projetos (DAVIS, 1978).
A Comissão Nacional da Verdade (2012-2014) criada pelo Governo Federal para apurar violações dos direitos humanos entre os anos de 1946 e 1988, afirmou que ao menos 8.350 indígenas tiveram suas vidas ceifadas pelo Estado, por força direta de ações governamentais ou por omissões dos agentes e instituições que teriam outras prerrogativas, a exemplo do Serviço de Proteção ao índio (SPI) e sua substituta a partir de 1967, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). O relatório da CNV (COMISSÃO Nacional da Verdade, 2014, p.199) define que “O número real de indígenas mortos no período deve ser exponencialmente maior, uma vez que apenas uma parcela muito restrita dos povos indígenas afetados foi analisada [...]”.
Temos disponíveis na internet documentos como o manifesto do CIMI que denunciou em pleno período ditatorial crimes do Estado contra os povos indígenas (HECK; SILVA; FEITOSA, 2012) e o “Relatório Figueiredo” que como descrito em entrevista do antropólogo Bessa Freire, dispõe de vasta pesquisa realizada por um procurador da República no final da década de 60, apontando graves violações aos direitos humanos indígenas (FACHIN, 2015). Fontes que trazem à tona o “holocausto indígena” que permanece oculto, em memórias que ainda não se tornaram propriamente história. Holocausto restrito em artigos, dissertações e teses desenvolvidas por um grupo seleto de profissionais e pesquisadores interessados. Custando chegar nos livros didáticos por motivos que vão da alegada ausência de fontes, apesar do aumento do interesse de pesquisas, a questões de mercado editorial na adaptação didática e relação entre cultura acadêmica e escolar.
Mesmo depois da Lei 11.645/2008 e com mudanças significativas que tiraram os indígenas da condição de vítimas e objetos para inseri-los como sujeitos e agentes históricos, há limitações visto que entre os livros didáticos reside a “[...] permanência de uma visão de história distanciada do conhecimento histórico produzido nas últimas décadas” (COELHO, 2009, p.271). Percebemos então que é mais comum que nossos livros de história destaquem o holocausto judeu pelo nazismo na 2ª Guerra Mundial que o holocausto indígena nos anos de abrangência da investigação da Comissão Nacional da Verdade (1946-1988), destacando os 21 anos do Regime Civil-Militar. Uma demonstração do que Ricoeur (2007) fala sobre abuso de memória e abuso de esquecimento.
Além de uma mídia que pouco se interessa por este passado, temos uma cultura histórica e escolar que soterra na invisibilidade fatos e eventos como: 1) A criação da Guarda Rural Indígena em 1969, onde o governo formou jovens indígenas de etnias diferentes com treinamento militar consistindo em técnicas de tiro, defesa pessoal e até de tortura, como forma de apoiar o estabelecimento da ordem e do ideário da segurança nacional nas áreas rurais onde regressavam os guardas indígenas (FREITAS, 2011). 2) A nebulosa participação dos Aikewára ou Suruí na Guerrilha do Araguaia, com inúmeras denúncias de maus tratos, terror físico e psicológico, obrigando os Suruís do Pará a colaborarem com a caça aos subversivos do regime na selva (NEVES; CORRÊA, 2011). 3) A existência de uma espécie de campo de concentração para indígenas subversivos, o reformatório Krenak em Minas Gerais (CAMPOS, 2012). 4) Bombardeios de aldeias inteiras do povo Waimiri-Atroari do Amazonas, tidos como ameaças ao sucesso de empreendimentos miliares como uma rodovia e uma hidrelétrica (EGYDIO SCHWADE, 2012).
Referências
BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade: seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: Editora Unesp, 2011. p. 187-227. Tradução de: Elcio Fernandes.
CAMPOS, André. Comissão da Verdade Krenak: o presídio indígena da ditadura. Porantim: em defesa da causa indígena, Brasília, v. 35, n. 347, p.8-9, ago. 2012.
COELHO, Mauro Cesar. A história, o índio e o livro didático: apontamentos para uma reflexão sobre o saber histórico. In: MAGALHÃES, Marcelo; REZNIK, Luís; ROCHA, Helenice (Org.). A história na escola. Rio de Janeiro: Fgv, 2009. Cap. 12. p. 263-281.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Introdução a uma história indígena. In: CUNHA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São Paulo: Claro Enigma, 2012. p. 08-25.
_______. Por uma história indígena e do indigenismo. In: Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 125-132.
DAVIS, Shelton. Vítimas do Milagre: o desenvolvimento e os índios do Brasil. Rio de Janeiro. Zahar, 1978.
EGYDIO SCHWADE (Manaus) (Org.). 1º Relatório do Comitê Estadual da Verdade. Manaus: Cimi/comitê da Verdade, Memória e Justiça do Amazonas, 2012. 92 p.
FACHIN, Patricia. Relatório Figueiredo: mais de sete mil páginas sobre a violência contra indígenas no Brasil. Entrevista especial com José Ribamar Bessa Freire. Revista IHU, São Leopoldo, 2015.
FERNANDES, Eunice. Ainda na selva?: A maioria dos livros didáticos retrata os índios ligados apenas ao passado colonial brasileiro. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 10, n. 49, p.1-3, out. 2009. Mensal.
FREITAS, Edinaldo Bezerra de. A Guarda Rural Indígena – GRIN: Aspectos da Militarização da Política Indigenista no Brasil. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUH, 26., 2011, São Paulo. Anais... . São Paulo: Anpuh, 2011. p. 1 - 26.
HECK, Egon Dionísio; SILVA, Renato Santana da; FEITOSA, Saulo Ferreira (Org.). Povos indígenas: aqueles que devem viver - Manifesto contra os decretos de extermínio. Brasília: Cimi-conselho Indigenista Missionário, 2012. 192 p.
NEVES, Ivânia dos Santos; CORRÊA, Maurício Neves. O povo indígena Aikewára e a guerrilha do Araguaia: mediação, apropriação e resistência nas fronteiras de identidades. In: I SEMINÁRIO REGIONAL DA ALAIC - BACIA AMAZÔNICA, 1., 2011, Belém. Anais... . Belém: Unama, 2011. p. 1 - 13.
OLIVEIRA, João Pacheco de; FREIRE, Carlos Augusto da Rocha. A presença indígena na formação do Brasil. Brasília: Laced/museu Nacional, 2006. 264 p.
RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração dos indígenas no Brasil moderno. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1996.
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Unicamp, 2007.
SILVA, Maria de Fátima Barbosa da. Livro didático de História: representações do ‘índio’ e contribuições para a alteridade. História Hoje, [são Paulo], v. 2, n. 1, p.151-168, dez. 2012. Dossiê Ensino de História Indígena, organizado por Circe Bittencourt e Maria Aparecida Bergamaschi.
Comissão Nacional da Verdade. Relatório: textos temáticos. Brasília: Cnv, 2014.
Olá Dhiogo, tudo bem?
ResponderExcluirSeu texto é muito interessante ! A alguns anos atrás na graduação eu participei de uma palestra do curso de ciência sociais na área de antropologia que debatia sobre esse Holocausto indígena, e das atrocidades cometidas durante a ditadura. No debate também chegamos a conclusão que há massacres acontecendo diariamente em inúmeras aldeias espalhadas pelo Brasil e na America Latina com anuência do Estado. Estive em contato com um povo do sul do Brasil, os Kaingang, sua força é imensa sem muitos recursos eles travam uma luta diária, sobretudo em Londrina para acabar com sua invisibilidade, e, acima de tudo eles querem contar sua História e disseminar sua cultura, isto é incrível uma lição para nós pesquisadores.
Pergunta: Qual sua opinião sobre o papel da historiografia brasileira nesse debate sobre a invisibilidade dos povos indígenas no Brasil? Será que estamos caminhando para mudanças no ensino de história indígena na atualidade?
Bruna C M Rodrigues
Olá Bruna, obrigado pelos seus comentários. A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha já disse que os povos indígenas são a "hidra do século XXI". Os Kaingang são em sua experiência um exemplo do que o conjunto de etnias que habitam todas as regiões do país na atualidade, processam em suas políticas indígenas rompendo com o "indigenísmo", através de autonomia e autodeterminação como povo indígena constituído e com direitos. Uma saga histórica de povos que atravessaram períodos de espólio e degradação levando a exclusões de todo tipo por parte da sociedade nacional dominante, um projeto “civilizador” que se se reelabora e se atualiza num "colonialismo" presente na mentalidade nacional, no imaginário popular e nas relações do estado, do capital com os povos originários que desafiando este passado de quase extermínio, se mostram como ativistas de suas próprias identidades e diferenças. Sua pergunta está em torno desse comentário inicial. A historiografia passou por muitas mudanças quanto a teoria e metodologia, desde o nascimento da história como ciência ou disciplina especializada no século XIX. Os historicismo e positivismo de uma história personalista, de grandes heróis e fatos limitados no âmbito político e econômico e oficiais, sofreu críticas de uma história problema que se desenvolveu dando vozes aos silenciados, promovendo a oralidade dos povos ágrafos como uma fonte possível de ser metodologicamente trabalhada na pesquisa histórica. A história cultural proporcionou o engajamento de temáticas como as de gênero, sexualidade e de etnicidade/identidade na agenda acadêmica. Da cultura acadêmica para a escolar, há o desafio de levar aos estudantes do ensino básico as novidades de fontes, fatos e desconstruções daquilo que a história de outros paradigmas ratificava quanto aos povos indígenas. Leis como a 11.645 que completa no próximo ano uma década, são avanços nesse caminho que você pergunta, contudo há ainda superações de uma má formação de professores que não tem consolidados em seus currículos na universidade o ensino de história e cultura indígenas. Os passos que são dados neste caminho junto com o movimento indígena político e organizado, que busca a escolarização intercultural como direito que proporcione a formação de professores indígenas para realizarem seus processos próprios de educação na educação escolar indígena, equilibrando os conhecimentos ocidentais escolarizados com os saberes tradicionais. Havendo assim um maior número de indígenas que dentro das universidades possam “contaminar” a academia com suas outras epistemologias e histórias, refletindo por sua vez em mais avanços nesse ensino de história descolonizador, mais do que receptivo da diversidade, problematizador e esclarecedor das razões e processos históricos que produzem as diferenças em nosso país e no mundo!
ExcluirDhiogo Rezende Gomes
Obrigado pelos esclarecimentos Dhiogo! Eu gostei muito do seu texto, ele é muito enriquecedor =)
ExcluirAbraços,
Bruna C M Rodrigues
Boa tarde Dhiogo
ResponderExcluirSobre o processo de disseminação da cultura e dos povos indígenas no Brasil e principalmente no período da colonização. Qual sua opinião sobre o estabelecimento de fronteira do humano em territórios indígenas ?
Fronteira do humano? Em terras indígenas? Se for sobre o que eu entendi da pergunta, mais ou menos, acho que quis perguntar sobre a cultura indígena e a fronteira com a sociedade não-indígena. A cultura é dinâmica, é fluida e não estável, sofre os feitos de mudanças e permanência no desenvolvimento dos grupos no espaço e no tempo. Desde a colonização da América que os povos indígenas em contato com os não-indígenas trocam conhecimentos e elementos culturais, entretanto na construção de uma história, há uma hegemonia da cultura europeia sobre as nativas, do ocidente perante um não-ocidente. É o que faz termos uma maior noção e até valorização de uma cultura ocidental do que as indígenas que são parte constituinte de uma "identidade brasileira" em diversos aspectos, considerando toda a problemática da universalidade diante da diversidade. Sobre essa questão, é importante não pensar a cultura indígena também com essencialismos ou romantismos que engessam as identidades indígenas, imaginando um índio estereotipado e preso, congelado no período colonial, tirando assim esses povos do processos histórico que não os reconhece numa história do tempo presente, muito menos como seres históricos e de culturas,no plural, diante de uma nacionalização e falsa unidade cultural brasileira.
ExcluirDhiogo Rezende Gomes
Olá Dhiogo! Sobre essa desvalorização da cultura indígena percebo que não vem apenas do governo, mas das próprias instituições e universidades, bem como dos próprios historiadores, procuro aqui no Rio de Janeiro eventos ou exposições indígenas e isso, infelizmente é muito raro, percebo que aqui, os historiadores se interessam muito mais pela cultura egípcia do que por qualquer outra relacionada ao Brasil, além do governo, você não acha que o campo das ciências humanas deveria fazer parte dessa luta pela valorização indígena? Enquanto às universidades, elas não deveriam incentivar, através de projetos, os estudantes de História a fazer parte dessa mudança e valorização da cultura indígena, assim como qualquer outra relacionada a cultura brasileira?
ResponderExcluirHá na academia de história um tradicionalismo, algo que não é exclusivo do campo da história nas universidades e instituições. A história indígena e os estudos culturais foram durante muito tempo objetos mais caros a antropologia do que a história, embora a história passasse a reconhecer a importância e a necessidade de promover a interdisciplinaridade, positivas para ambas as disciplinas em suas pesquisas. Se a história cultural é tida como nova no campo, a história indígena é novíssima, advém com maior força na década de 90 em diante, com trabalhos históricos antropológicos dando como destaque as obras de Manuela Carneiro da Cunha e o historiador John Manuel Monteiro. Mas concordo, há questões políticas dentro e fora do espaço acadêmico, de identidade também, sempre estratégicas e em oposição, aí temos nesse contexto de história dos oprimidos uma maior tradição na história e cultura da África e afrobrasileira frente a história e cultura indígena, que passam a disputar espaços em grupos de pesquisa, em financiamentos de trabalhos e pesquisas, com intelectuais orgânicos em disputa, eis que há também espaços para consensos e solidariedade e luta coletiva quando entendemos que o que a academia tem como "objetos" de estudo, existem no mundo real, são grupos marginalizados e excluídos na sociedade e também foram assim na própria academia. Por isso, as universidades que produzem ao mesmo tempo que são reflexos da sociedade, passam por um processo também de descolonização e olhares para os outros que não fazem parte de um padrão ou uma epistemologia dominante e que sublima historicamente com um imperialismo científico o que em oposição, chamam de saberes indígenas, tradicionais...
ExcluirDhiogo Rezende Gomes.
Sim, confesso que me sinto um pouco frustrada em saber que as pesquisas voltadas para a cultura afro-brasileira são muito maiores que para a indígena em todo o país, mesmo que eu me interesse bastante pelo assunto, considerando que faz parte da cultura brasileira, porém, é triste saber que não houve uma pesquisa mais aprofundada pelos próprios brasileiros dos Marajoaras, seria incrível se houvesse investimentos suficientes e vontade por parte dos antropólogos e historiadores para resgatar a história desse povo que pelo que sabemos, poderia ter vivido antes de Cristo, afinal, é a história do nosso país!
ExcluirÉ realmente impressionante como o povo brasileiro ama aquilo que vem de fora mas ignora aquilo que faz parte de suas raízes. Também concordo quando se fala que a mídia não se importa com a causa indígena, pois dificilmente as grandes emissoras vão dar a tenção aos movimentos que não lhe garantam lucros excessivos.
ResponderExcluirDiante do já discutido, minha pergunta é a seguinte:
Se a população é omissa, a mídia não divulga e os poucos trabalhos existentes sobre o tema não atingem grandes públicos, como se poderia denunciar e tentar sanar esse problema devastador que põe em risco não somente um povo, mas também toda fauna e flora local?
Assinatura da pergunta acima
ResponderExcluirNome: Alexandre Antonio Cavalcante de Souza
Este espaço, esse evento que nos proporciona debater e discutir essa temática é um canal, mas não é o único e muito menos uma solução para um problema de raízes históricas e profundas. Contudo, há de se cobrar das autoridades o cumprimento das legislações que trazem os direitos humanos como essenciais a uma estado dito de direito. A sociedade civil e organizada também atua em ONG's e instituições nacionais e internacionais, travando uma luta contra tais projetos, com base na defesa dos direitos indígenas que tem os os próprios povos tradicionais como interessados e promotores de memórias soterradas pela história oficial, guardando interesses de grupos políticos e econômicos (entrando aí o uso da mídia) que veem os povos indígenas como barreira e empecilho ao desenvolvimentismo ou ao "progresso". A resistência e a insistência tem que se manter viva e vigilante, os povos indígenas nunca tiveram "tempo bom" em sua relação com o Estado, o que se tem de direitos e conquistas foi com muita luta e protagonismo indígena, somando forças com pessoas, grupos e entidades críticas ao sistema que em sua face exploradora ameaça a vida não somente dos povos tradicionais, mas de todos no planeta. Reconhecer e entender que a luta indígena deve ser de todos, é o grande desafio!
ResponderExcluirDhiogo Rezende Gomes.
Olá Dhiogo Rezende.
ResponderExcluirParabéns pelo belíssimo trabalho!
Adoro assuntos relacionados a questões indígenas principalmente de sua participação na guerrilha do Araguaia, até porque na região onde moro não se fala nada sobre o assunto além dos murros da universidade, permanece a visão do colonizador acerca dos povos indígenas mesmo sendo uma região próxima dos campos de concentração militar. Além da bibliografia citada tens algum texto que gostou e possa me indicar ?
Desde já obrigada!
Iolanda Mendes
Obrigado Iolanda. Já que você citou a relação dos povos indígenas com a guerrilha do Araguaia, faça uma pequena pesquisa na internet com o nome do antropólogo Orlando Calheiros. Ele pesquisou os Suruí que também são conhecidos como Aikewára, povo do Pará que revelam memórias muito traumáticas do episódio da Guerrilha do Araguaia, pois este povo faz parte da lista de violados em seus direitos humanos pela ação direta e indireta do estado ditatorial civil-militar entre as décadas de 60 e 80. O Calheiros participou como pesquisador e colaborador da Comissão Nacional da Verdade e levou para esta depoimentos chocantes de sobreviventes e herdeiros de memórias dos indígenas que sofreram com a presença militar em decorrência da guerrilha na região. Os próprios relatórios da Comissão Nacional da Verdade estão disponíveis na internet. Abraço!
ResponderExcluirOla Dhiogo,
ResponderExcluirMuito bom o seu texto! Infelizmente há ainda o apagamento sobre os povos indígenas no ensino de história mesmo com a lei 11, 645 prestes a fazer 10 anos.
Falar sobre os povos indígenas na contemporaneidade é ainda mais difícil. Porém a sua pesquisa esta posta mostrando fatos silenciados. e diante disso, gostaria de saber se você tem alguma dica de como trabalhar essa temática com os alunos do 9° ano.
atenciosamente,
Rafaela Albergaria Mello
Oi Dhiogo,
ResponderExcluirmuito bom o seu texto. E é uma triste realidade ver tantos conteúdos sobre a temática indígena silenciados nos livros didáticos. Gostaria de saber se você tem alguma sugestão de como trabalhar a ação da ditadura contra os povos indígenas com o 9° ano.
Obrigado Rafaela. É possível sim construir planos de aula para o 9º ano do fundamental sobre a Ditadura Civil-Militar pontuando os abusos contra os direitos humanos indígenas cometidos pelo Estado, esclarecendo com um pouco de teoria sobre memória que no trato para virar "história", há processos variados que levam a esquecimentos ou seleções e recortes que excluem participações. Pode-se levar os alunos a identificarem e perceberem por exemplo que os números oficiais e mortos e desaparecidos é muito menor e que os grupos sociais que sofreram e resistiram ao regime militar não se reduzem a intelectuais, artistas, movimento estudantil, trabalhadores da cidade... não chegando aos povos indígenas postos como barreiras ao desenvolvimentismo estatal nessa época. As referências do meu texto pode servir. Procure também vídeos curtos na internet sobre os povos indígenas e a ditadura, há uma reportagem produzida por um jornal do SBT que traz esse tema, está disponível no youtube, materiais assim podem servir para compor um plano de aula no fundamental! Abraço.
ExcluirDhiogo Rezende Gomes.