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Aline Karine

A HISTÓRIA DA ESTRADA DO COLONO E A HISTÓRIA REGIONAL
Aline Karine Nunes
História – UNIPAR

A “estrada do colono” pode ser chamada também de “caminho do colono”, é uma estrada de chão batido e terra vermelha. Sua localização geográfica é conhecida nacionalmente, pois, situa-se dentro do Parque Nacional do Iguaçu no Estado do Paraná. Sua história é contada pelo povo que mora na região de geração em geração e contada por quem teve a oportunidade de realizar a travessia pela estrada dentro do Parque Nacional do Iguaçu. A estrada possui de 8 a 12 metros de largura, e 17 km de extensão, e liga as regiões do Oeste e Sudoeste do Paraná, interligando as cidades de Serranópolis do Iguaçu e Capanema.
A estrada do colono tão antiga que em 1533 fez parte do Caminho do Peabiru, utilizada pelos índios Guaranis e padres jesuítas. E durante o período de 1887 até 1903, a estrada do colono foi utilizada para a demarcação da fronteira entre o Brasil e a Argentina. De acordo com o relato do general João Alberto Lins de Barros no seu livro “Memórias de um Revolucionário” diz que em 1925 a Coluna Prestes passou pela estrada do colono. Há relatos em livros de que a estrada do colono foi aberta pela Coluna Prestes na metade da década de 1920 e utilizada na década de 1930, antes mesmo da criação do Parque Nacional do Iguaçu. 
A partir de 1940, muitos colonos do Rio Grande do Sul utilizaram este caminho para povoar as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. Naquela época, a estrada tinha suas vantagens, pois, os colonos que viviam no Oeste economizavam tempo com suas viagens, traçando um caminho no meio da mata e no meio do Rio Iguaçu para poder chegar ao Sudoeste tendo acesso à cidade de Capanema.
Em meados da década de 50, a estrada do colono foi utilizada por colonizadores italianos e alemães. A estrada do colono foi chamada assim, porque quem fazia a travessia eram os colonos e os mesmos utilizavam a estrada no meio do Parque Nacional como um atalho e atravessar de barco o Rio Iguaçu até chegar ao outro lado. Compreende-se assim que a estrada era utilizada na época sem nenhuma lei existente, e quem cuidava da preservação da fauna e da flora eram os colonizadores mais próximos. Sendo assim, com o passar dos anos ocorreu à primeira ordem para o fechamento da estrada do colono, que foi o primeiro Plano de Manejo do Parque, publicado durante o Governo Militar. A estrada funcionou ilegalmente por mais de 40 anos, até o seu fechamento no dia 12 de Setembro de 1986 por uma Liminar de um ambiental onde questionava a questão do asfaltamento da estrada.
Com o fechamento da estrada em 1986, foram fechadas todas as guaritas de acesso e até mesmo a de fiscalização. Muitos conflitos ocorreram em maio de 1987, cerca de 1.500 pessoas ocuparam a estrada. No dia 13 de Maio do mesmo ano, reuniram mais de 50 mil pessoas nas duas extremidades da estrada, fazendo em seguida uma caminhada pela estrada. Uma nova Liminar no dia 27 de Maio de 1987, proporcionou a reabertura da estrada pelo período de 23 dias. Esse tempo foi suficiente para conseguir o cascalhamento da estrada e colocá-la em funcionamento novamente em 1997, até outubro de 2001. (DALLO, 1998)
Durante a reabertura da estrada, ocorria tudo bem, as cidades de acesso a estrada do colono, tanto Capanema quanto Serranópolis mantinham uma economia em alta. Na cidade de Capanema o comércio estava em destaque, principalmente nas extremidades onde a balsa parava para que os carros de pequeno porte subissem para fazer a travessia do Rio Iguaçu. Neste mesmo período, houve uma ação com mais de 400 Policiais Federais para interditar e conseguiram fechar a estrada em 2001.
No dia 03 de outubro de 2003, ocorreu um novo conflito envolvendo a estrada do colono, seria esta mais uma tentativa forçada de reabertura da estrada ilegalmente. No dia 08 de outubro do mesmo ano, a Polícia Federal cumpriu a decisão judicial, e retomou a estrada utilizando apoio e agentes convocados para a operação.
O início do conflito dessa vez foi devido a uma balsa que estava sendo soldada em Capanema para viabilizar a travessia dos veículos pelo Rio Iguaçu. E mesmo com a desocupação do Parque, a justiça manteve a exigência de apreensão e destruição da balsa que os manifestantes haviam transportada para a praça central da cidade sobre o argumento de que ela simbolizava o “movimento de resistência” diante do fechamento da estrada do colono.
Uma balsa inacabada motivou o confronto entre cerca de 150 policiais e 1.500 moradores de Capanema. No desfecho da desocupação da estrada do colono, oito manifestantes foram hospitalizados e mais cinco ficaram feridos. O conflito entre policiais e moradores que se recusavam a entregar a balsa, começou perto da meia noite. A polícia tentou isolar a área onde estava a embarcação, mas o grupo de moradores reagiu e o tumulto se alastrou. E durante quase uma hora policiais atiraram, e alguns deles de helicóptero atirando com balas de borracha e bombas de efeito moral nos manifestantes com o objetivo de acabar o movimento de resistência.
Após o confronto os manifestantes ficaram intimidados e não houve nenhuma reação. No dia seguinte os policiais retiraram a balsa da cidade. Ocorreram ameaças a população por parte dos policiais porque um cidadão capanemense tentou reagir com palavras sobre impostos, e ainda argumentou que nós cidadãos pagamos os impostos, e mesmo não sendo um desacato a autoridade, este cidadão acabou sendo algemado e foi preso por desacato a autoridade.
Com o fechamento da estrada em 2001, os municípios de Capanema e de Serranópolis do Iguaçu sofreram grandes impactos econômicos, porque antes lucravam com o comércio. Atualmente quem volta para visitar a cidade e a antigo porto da travessia da estrada tem a impressão de ser um local fantasma, pois, está tudo abandonado e ficou como era desde o fechamento da estrada. Sendo assim, o fechamento da estrada está marcado para sempre na história de Capanema com a explosão da balsa em 2003, finalizando assim a história do caminho do colono.

Referências Bibliográficas:
DALLO, L. Caminho do Colono: Vida e Progresso. 2ª ed., Francisco Beltrão: Grafit, 1998.
LINS DE BARROS, J. A. Memórias de um Revolucionário. 1.° parte: A Marcha da Coluna. Rio de Janeiro, Ed. Civ. Brasileira, 1953.

MARIN, R. De sol e lua, por onde anda: fatos e personagens da história de Medianeira e região. 1ª ed., Santa Maria: Gráfica Palotti, 2003.

2 comentários:

  1. Bruna Liana Teza Canarin3 de abril de 2017 às 11:53

    Olá Aline, sou natural de Medianeira e ouvi muito sobre essa estrada, inclusive no periodo que finalizei meu ensino medio em Medianeira (2010/2011) teve boatos que iriam reabrir a estrada, não sei a que pé anda isso hoje.
    Seu texto é uma forma de conhecer a história local, mas, como abordar fatos regionais em discussoes em classe, para, digamos ambito nacional, sendo que nem todos, conhecem a estrada do colono ou outro ponto ou historia do estado do Paraná.
    Bruna Liana Teza Canarin

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  2. Olá Aline, sou natural do Pará e estou pensando em trabalhar no meu TCC a questão da História local e suas tradições festivas. Gostaria de saber se você trabalhou com fontes orais? Se você encontrou algumas dificuldades em encontrar fontes escritas acerca da escrita da história da estrada? Pois sabemos que ao trabalhar com história local não é fácil, quando não se tem registros dos fatos e sim apenas relatos dos moradores mais velhas que passam de geração em geração a história de um fato ocorrido.
    Vanessa Nascimento Martins Sales

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